(Divulgação/Exame)
Crescer em Rede
Publicado em 30 de março de 2020 às 12h51.
Última atualização em 30 de março de 2020 às 12h56.
Luciana Allan (*)
Nunca estivemos tão próximos e ao mesmo tempo tão distantes. Nunca fomos tão virtuais. E, reparem, nunca estivemos tanto tempo em casa com nossas crianças e adolescentes. Não, não é fácil sintonizar o home office com as tarefas domésticas. Não é fácil concentrar no trabalho com os pequenos batendo à porta pedindo atenção. Eles estão aí na sala, no quarto, no jardim, transbordando energia sem saber como canalizar esta sobrecarga repentina que os prendeu em domicílio e os arrancou da rotina escolar.
Os pais, da noite para o dia, precisaram se reorganizar para assumir algumas das funções dos professores. E os docentes, muitos ainda resistentes e pouco adaptados ao uso cotidiano das novas tecnologias, estão sendo forçados a descobrir novas formas de lecionar recorrendo às ferramentas que seus pupilos nativos digitais já têm muito mais facilidade para lidar, o que não quer dizer que estejam acostumados a acessar as redes sociais, softwares e aplicativos para estudar.
Mesmo sendo integrantes de uma geração conectada, a moçada que está hoje nos ensinos básico, fundamental e mesmo no médio jamais passou pela experiência de ter que ir à escola apenas vestindo seu avatar no lugar do uniforme. Tampouco os mestres estavam preparados para lecionar sem atravessar a cidade e encontrar os alunos na sala de aula construída com tijolos e argamassa.
Tenho uma notícia para vocês, caros professores, educadores, pais e alunos. Depois desta pandemia, a escola como conhecemos nunca mais, anotem, nunca mais será a mesma.
Por quê?
Basicamente porque toda grande transformação social imposta como a que estamos vivendo gera mudanças de hábitos irreversíveis. Todas as guerras deixaram enormes devastações sociais, mas trouxeram também grandes aprendizados. É na dificuldade que se aprende, não é mesmo? E é assim que precisamos encarar este momento: como uma oportunidade de descobrir como inovar nossas vivências pedagógicas.
Está todo mundo já sentindo muita falta de encontrar os colegas, de beijar, abraçar, brincar na quadra, fazer travessuras e tomar bronca do professor. Rezemos para que logo logo possamos estar juntos novamente. Mas, por agora, temos que experimentar novos meios de não interromper o ritmo de estudos. Esta geração de estudantes foi agraciada com a dádiva de poder continuar explorando o mundo e acessando conhecimento sem precisar, necessariamente, visitar a biblioteca ou o laboratório, abrir o livro impresso ou copiar a lição de casa do quadro negro.
Não, a escola jamais será indispensável. A convivência social é inerente ao ser humano e fundamental para desenvolver as competências socioemocionais. Mas não é sine qua non para que sigam sua jornada de aprendizagem ao lado dos pais e com os professores do outro lado da tela.
Os recursos estão aí e todos já sabem como usar. Só é preciso criar estratégias para que as redes sociais (Facebook, Instagram, Twitter, WhatsApp, YouTube), os softwares (Office, Teams, OneDrive, Skype, Hangouts), os aplicativos educacionais abertos (há uma infinidade deles para criar videoaulas, por exemplo), as plataformas Moodle, Canvas, BlackBoard e tantas outras ferramentas sejam incorporadas às disciplinas e mantenham a turma engajada.
Se a distância pode ser um desafio para acompanhar ‘in loco’ o desenvolvimento dos estudantes, por outro a conectividade nos traz a chance de avaliar o quanto são resilientes e como se comportam em períodos de adversidade como o que estamos atravessando. Ao conseguir envolvê-los nesta nova dinâmica de aprendizagem, os docentes certamente irão descobrir, na prática, quais são as vantagens e percalços do ensino virtual.
As redes sociais, não custa lembrar, já são há muito tempo uma realidade na vida das gerações pós-Internet. Na medida em que sejam acessadas e atreladas à outras tecnologias, com fins pedagógicos, certamente irão se revelar como recursos altamente eficazes para montar grupos de conhecimento, promover debates, trocar arquivos, organizar videoconferências e muito mais.
Quer um conselho, professor(a)?
Pergunte a eles como usar todo este arsenal para atravessar esta fase. Escute-os. Tenha a certeza de que eles sabem muito sobre quais recursos estão na mesa, no desktop, ou ao alcance dos dedos, no celular, para levar a escola até suas casas. Envolva-os na criação de novas metodologias de ensino turbinadas pelas tecnologias digitais. Divida a responsabilidade e os transforme em protagonistas para que, juntos, desenhem novos processos, novas metodologias, novos caminhos para aprender de forma divertida, interativa e colaborativa.
Como estudar Geografia? Google Maps. Matemática? Uma receita culinária é uma maneira fantástica para aprender pesos e medidas. História? O que não falta são bons filmes e documentários no Netflix ou no YouTube. Ciências? Há milhares de vídeos de experiências envolvendo leis da física e da química que podem ser feitas com segurança em casa. E educação física, como faço? Abre aí qualquer comunicador, liga a câmera, prepara uma aula e coloca a turma pra se exercitar na sala. Te garanto que tudo isso pode ser muito divertido.
Deixo aqui 10 passos recomendados por Carlos Seabra, Gerente de Projetos do Instituto Crescer, para implementar um programa de educação a distância eficaz e motivador para nossos alunos. Espero que possam ajudar neste desafio da construção de uma nova escola que, não custa reforçar, após esta experiência irá embarcar definitivamente na era da inovação:
Para finalizar, não se esqueça de dois eixos na estruturação das metodologias adotadas: o uso de metodologias ativas e o trabalho com as competências socioemocionais.
As metodologias ativas permitem colocar o aluno como protagonista de seu aprender através do fazer – algo mais essencial do que nunca na educação a distância, com todas as distrações e significações do mundo fora da escola.
Já as competências socioemocionais ajudam a lidar com uma situação totalmente nova, da aprendizagem a distância, que exige saber se comunicar por escrito, organizar arquivos, sistematizar seu tempo, saber autogerir a aprendizagem e relacionar-se com colegas e professores de forma colaborativa.
E então? Está pronto para ajudar a transformar a casa do seu aluno em um espaço de aprendizagem significativa? Vamos juntos?
(*) Diretora do Instituto Crescer e Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP) com especialização em tecnologias digitais aplicadas à educação