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O professor do seu filho está pronto para inovar na educação?

Para abrir o debate, parto de uma clara premissa que não podemos continuar desconsiderando: nossos alunos não querem mais ir às escolas

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allanluciana

Publicado em 24 de setembro de 2018 às 12h16.

Última atualização em 24 de setembro de 2018 às 14h01.

-(d20inc/Exame)

Os resultados do Ideb 2017 (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) já foram amplamente divulgados e discutidos por especialistas da área logo após sua publicação pelo Ministério da Educação (MEC). Logo em seguida, o relatório Education at a Glance 201 8(Um olhar sobre a educação, em tradução livre) publicado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) também foi foco da discussão e veio reforçar o entendimento de que estamos longe de ter a oferta de uma educação de qualidade e com equidade.

Entendo, desta forma, que meus colegas já falaram amplamente sobre a necessidade de uma política suprapartidária voltada à valorização da educação e comprometida em melhorar o ensino em nosso País. Preferi, então, olhar para estes resultados sob outra perspectiva: a evasão dos alunos.

Para abrir o debate, parto de uma clara premissa que não podemos continuar desconsiderando: nossos alunos não querem mais ir às escolas. Ao menos não às instituições que ainda insistem no ultrapassado modelo pedagógico com quadro negro, carteiras enfileiradas, um professor que fala, fala e fala para turmas que fingem escutar e um currículo que é de um único tamanho para todo mundo e que só tem a preocupação com o vestibular. A consequência é uma velha conhecida: desestimulados, os alunos não compreendem o real sentido da educação para sua vida, não se envolvem com o processo de aprendizagem, não aprendem e acabam abandonando os estudos.

Os resultados do último índice confirmam isso e não são nada alentadores, principalmente para o Ensino Médio, onde nenhum dos 27 Estados da Federação cumpriu as metas estabelecidas. Em cinco Estados (Amazonas, Roraima, Amapá, Bahia e Rio de Janeiro), o Ideb 2017 teve desempenho inferior à pesquisa de 2015. A média geral do Brasil foi de 3,8, abaixo da meta, fixada em 4,7. Nos últimos três levantamentos anteriores (2011, 2013 e 2015) tinha estacionado em 3,7. Para 2019, a meta é de 5,0; e para 2021, de 5,2. Se continuarmos neste ritmo, deixaremos não só de cumprir a meta, como também ficaremos cada vez mais longe delas.

Vamos então aos dados do relatório Education at a Glance 2018 publicado no último dia 11 de setembro pela OCDE. O estudo traz uma boa notícia: o Brasil passou de um investimento equivalente a 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB), em 2010, para o equivalente a 0,7% em 2015 em creches e pré-escolas, o que não necessariamente quer dizer que aumentou o investimento por aluno.

O lado negativo está relacionado com a evasão. Após os 14 anos, as taxas caem gradativamente – entre 15 e 19 anos, somente 69% seguem estudando e, entre 20 e 24 anos, apenas 29%. Em média, essas porcentagens chegam, entre os países da OCDE, a 85% e 42%, respectivamente. Uma das explicações para essa queda é justamente a repetência e falta de interesse, que, não raramente, converte-se em evasão.

Já abordei aqui,neste mesmo espaço, qual escola nossos alunos querem hoje. No Instituto Crescer, tivemos a oportunidade de apoiar uma pesquisa realizada por estudantes com idade entre 17 e 18 anos. O levantamento contou com a participação de 1851 alunos de todas as regiões do Brasil e apontou que 52,6% não teriam disponibilidade para estudar em uma escola de tempo integral e muito menos acreditam que aumentar a carga horária de estudo faria com que aprendessem mais, resposta dada por 46,1 % dos entrevistados.

Se as ferramentas de ensino continuam as mesmas utilizadas há 200 anos, não acompanham os avanços tecnológicos das últimas duas décadas e os desafios da sociedade contemporânea, como alguém pode acreditar que passar mais tempo na escola faria com que aprendessem mais? 54,1% disseram acreditar que a inovação na didática é o que realmente importa e pode fazer toda a diferença na hora de aprender.

O aluno não assimila o conteúdo porque não se enxerga nele, não se encaixa em seu projeto de vida, do que gosta, ou como se relaciona com o mundo. Para eles, o espaço escolar só faz sentido para fins sociais; estar com os amigos é o que importa. Se o aluno é retido por dois anos consecutivos, já é considerado acima da idade pretendida para a série. Ele vê os colegas indo embora e toda aquela matéria que não compreende sendo novamente “ensinada” da mesmíssima maneira que no ano anterior.

Não há dúvidas de que há muito a se fazer para alcançarmos um sistema educacional eficiente e embora dependamos, evidentemente, de políticas públicas bem estruturadas, temos que reconhecer a importância de cada um de nós que tem alguma ascendência direta sobre a formação destes alunos. Somente com muita coragem, disposição, conhecimento técnico e criatividade seremos capazes de mudar a realidade de nosso País, fazendo com que nossas crianças e jovens sejam capazes de ter e persseguir seus sonhos.

Mas, como motivá-los?

Por isso, antes de falar em cobrar mais resultados educacionais relacionados ao conteúdos de matemática e português, defendo que precisamos garantir a permanência dos alunos nas escolas, mas não apenas para registrar presença. É preciso estimular o interesse, a curiosidade, a criatividade e a criticidade. Tem que fazer sentido para eles! É essencial que a escola pare para entender quem são seus alunos, quais são seus anseios, entender para qual mundo estão sendo preparados e em qual sociedade viverão.

Para isso, os professores, assim como eu, têm que estudar muito, independente das ofertas feitas pelo poder público. Estudar por toda vida faz parte de qualquer profissão e há diversas oportunidades de qualidade e gratuitas. Ter ferramentas para dialogar com os alunos, saber usar as tecnologias digitais e as metodologias ativas para promover novas estratégias de ensino, repensar tempos e espaços reconhecendo que podemos aprender a qualquer hora, de qualquer lugar e com qualquer pessoa é fundamental, para não dizer essencial. Se quisermos mantê-los focados nos estudos, precisaremos, de fato, ajudá-los a entender o mundo para além dos muros da escola.

No Instituto Crescer, temos o privilégio de coordenar muitos projetos educacionais que visam trazer inovação às salas de aula. Hoje, todo adolescente tem um celular na mão e eles são capazes de coisas incríveis. Basta que nós, educadores, estejamos abertos para dar esse passo, definindo as regras e o uso da tecnologia como ferramenta pedagógica. Trazer os alunos para o centro do processo, envolvê-los em problemas do mundo real, trabalhar em prol da sua comunidade, propiciar momentos de pesquisa e diálogo com outros públicos, além de criar coisas, deve fazer parte da rotina da escola.

Este é o meu ponto de vista. A escola precisa mudar, os professores precisam se reinventar, os pais precisam estar mais presentes para que a educação faça sentido a toda uma nova geração que tem muita vontade de aprender, mas que se recusa a estudar da mesma forma que estudaram seus pais e avós.

-(d20inc/Exame)

Os resultados do Ideb 2017 (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) já foram amplamente divulgados e discutidos por especialistas da área logo após sua publicação pelo Ministério da Educação (MEC). Logo em seguida, o relatório Education at a Glance 201 8(Um olhar sobre a educação, em tradução livre) publicado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) também foi foco da discussão e veio reforçar o entendimento de que estamos longe de ter a oferta de uma educação de qualidade e com equidade.

Entendo, desta forma, que meus colegas já falaram amplamente sobre a necessidade de uma política suprapartidária voltada à valorização da educação e comprometida em melhorar o ensino em nosso País. Preferi, então, olhar para estes resultados sob outra perspectiva: a evasão dos alunos.

Para abrir o debate, parto de uma clara premissa que não podemos continuar desconsiderando: nossos alunos não querem mais ir às escolas. Ao menos não às instituições que ainda insistem no ultrapassado modelo pedagógico com quadro negro, carteiras enfileiradas, um professor que fala, fala e fala para turmas que fingem escutar e um currículo que é de um único tamanho para todo mundo e que só tem a preocupação com o vestibular. A consequência é uma velha conhecida: desestimulados, os alunos não compreendem o real sentido da educação para sua vida, não se envolvem com o processo de aprendizagem, não aprendem e acabam abandonando os estudos.

Os resultados do último índice confirmam isso e não são nada alentadores, principalmente para o Ensino Médio, onde nenhum dos 27 Estados da Federação cumpriu as metas estabelecidas. Em cinco Estados (Amazonas, Roraima, Amapá, Bahia e Rio de Janeiro), o Ideb 2017 teve desempenho inferior à pesquisa de 2015. A média geral do Brasil foi de 3,8, abaixo da meta, fixada em 4,7. Nos últimos três levantamentos anteriores (2011, 2013 e 2015) tinha estacionado em 3,7. Para 2019, a meta é de 5,0; e para 2021, de 5,2. Se continuarmos neste ritmo, deixaremos não só de cumprir a meta, como também ficaremos cada vez mais longe delas.

Vamos então aos dados do relatório Education at a Glance 2018 publicado no último dia 11 de setembro pela OCDE. O estudo traz uma boa notícia: o Brasil passou de um investimento equivalente a 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB), em 2010, para o equivalente a 0,7% em 2015 em creches e pré-escolas, o que não necessariamente quer dizer que aumentou o investimento por aluno.

O lado negativo está relacionado com a evasão. Após os 14 anos, as taxas caem gradativamente – entre 15 e 19 anos, somente 69% seguem estudando e, entre 20 e 24 anos, apenas 29%. Em média, essas porcentagens chegam, entre os países da OCDE, a 85% e 42%, respectivamente. Uma das explicações para essa queda é justamente a repetência e falta de interesse, que, não raramente, converte-se em evasão.

Já abordei aqui,neste mesmo espaço, qual escola nossos alunos querem hoje. No Instituto Crescer, tivemos a oportunidade de apoiar uma pesquisa realizada por estudantes com idade entre 17 e 18 anos. O levantamento contou com a participação de 1851 alunos de todas as regiões do Brasil e apontou que 52,6% não teriam disponibilidade para estudar em uma escola de tempo integral e muito menos acreditam que aumentar a carga horária de estudo faria com que aprendessem mais, resposta dada por 46,1 % dos entrevistados.

Se as ferramentas de ensino continuam as mesmas utilizadas há 200 anos, não acompanham os avanços tecnológicos das últimas duas décadas e os desafios da sociedade contemporânea, como alguém pode acreditar que passar mais tempo na escola faria com que aprendessem mais? 54,1% disseram acreditar que a inovação na didática é o que realmente importa e pode fazer toda a diferença na hora de aprender.

O aluno não assimila o conteúdo porque não se enxerga nele, não se encaixa em seu projeto de vida, do que gosta, ou como se relaciona com o mundo. Para eles, o espaço escolar só faz sentido para fins sociais; estar com os amigos é o que importa. Se o aluno é retido por dois anos consecutivos, já é considerado acima da idade pretendida para a série. Ele vê os colegas indo embora e toda aquela matéria que não compreende sendo novamente “ensinada” da mesmíssima maneira que no ano anterior.

Não há dúvidas de que há muito a se fazer para alcançarmos um sistema educacional eficiente e embora dependamos, evidentemente, de políticas públicas bem estruturadas, temos que reconhecer a importância de cada um de nós que tem alguma ascendência direta sobre a formação destes alunos. Somente com muita coragem, disposição, conhecimento técnico e criatividade seremos capazes de mudar a realidade de nosso País, fazendo com que nossas crianças e jovens sejam capazes de ter e persseguir seus sonhos.

Mas, como motivá-los?

Por isso, antes de falar em cobrar mais resultados educacionais relacionados ao conteúdos de matemática e português, defendo que precisamos garantir a permanência dos alunos nas escolas, mas não apenas para registrar presença. É preciso estimular o interesse, a curiosidade, a criatividade e a criticidade. Tem que fazer sentido para eles! É essencial que a escola pare para entender quem são seus alunos, quais são seus anseios, entender para qual mundo estão sendo preparados e em qual sociedade viverão.

Para isso, os professores, assim como eu, têm que estudar muito, independente das ofertas feitas pelo poder público. Estudar por toda vida faz parte de qualquer profissão e há diversas oportunidades de qualidade e gratuitas. Ter ferramentas para dialogar com os alunos, saber usar as tecnologias digitais e as metodologias ativas para promover novas estratégias de ensino, repensar tempos e espaços reconhecendo que podemos aprender a qualquer hora, de qualquer lugar e com qualquer pessoa é fundamental, para não dizer essencial. Se quisermos mantê-los focados nos estudos, precisaremos, de fato, ajudá-los a entender o mundo para além dos muros da escola.

No Instituto Crescer, temos o privilégio de coordenar muitos projetos educacionais que visam trazer inovação às salas de aula. Hoje, todo adolescente tem um celular na mão e eles são capazes de coisas incríveis. Basta que nós, educadores, estejamos abertos para dar esse passo, definindo as regras e o uso da tecnologia como ferramenta pedagógica. Trazer os alunos para o centro do processo, envolvê-los em problemas do mundo real, trabalhar em prol da sua comunidade, propiciar momentos de pesquisa e diálogo com outros públicos, além de criar coisas, deve fazer parte da rotina da escola.

Este é o meu ponto de vista. A escola precisa mudar, os professores precisam se reinventar, os pais precisam estar mais presentes para que a educação faça sentido a toda uma nova geração que tem muita vontade de aprender, mas que se recusa a estudar da mesma forma que estudaram seus pais e avós.

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