O aluno sabe-tudo. E agora, professor?
“Os professores podem ser substituídos por uma máquina”. “As escolas como as conhecemos estão obsoletas”. As duas frases, a primeira proferida na Campus Party, em São Paulo, em 2012, e a segunda na TED, na Califórnia, em 2013, são de autoria do Dr. Sugata Mitra, professor da Newcastle University, da Inglaterra, e um dos maiores especialistas do mundo em tecnologia educacional. Os pensamentos do professor Mitra são a síntese das […] Leia mais
Da Redação
Publicado em 26 de outubro de 2015 às 09h26.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às 07h52.
“Os professores podem ser substituídos por uma máquina”. “As escolas como as conhecemos estão obsoletas”. As duas frases, a primeira proferida na Campus Party, em São Paulo, em 2012, e a segunda na TED, na Califórnia, em 2013, são de autoria do Dr. Sugata Mitra, professor da Newcastle University, da Inglaterra, e um dos maiores especialistas do mundo em tecnologia educacional.
Os pensamentos do professor Mitra são a síntese das transformações que estão desafiando os modelos pedagógicos desenhados há centenas de anos para formar aprendizes que até recentemente eram estimulados a exclusivamente repetir e decorar informações e não a aprender a partir de suas próprias descobertas.
Há tempos que a neurociência vem investigando como o cérebro consegue se desenvolver quando estimulado, criando novas conexões na medida em que adquirimos mais conhecimentos ao longo da vida. Aplicada no campo da educação, diversos estudos indicam que os nativos digitais já não retêm mais informações e conceitos como seus pais e avós, que seguiam uma mesma cartilha e metodologia de ensino, e que o desenvolvimento de suas habilidades cognitivas ocorre de maneira muito mais independente, ou seja, eles têm maior capacidade de aprender sozinhos.
Impossível não vincular o nascimento de uma nova geração de aprendizes ao surgimento das novas tecnologias digitais, que passaram a disponibilizar informações a qualquer hora e em qualquer lugar em dispositivos móveis. Se antes o professor exercia seu poder sobre a classe porque era o único detentor do saber, hoje basta uma rápida pesquisa no celular para acessar respostas e conteúdos didáticos de qualquer disciplina.
A partir do final dos anos 90, o professor Mitra realizou diversas experiências em comunidades pobres da Índia, disponibilizando computadores com acesso a Internet para crianças que nunca tinham visto um PC e sem passar nenhuma orientação de como usá-los. Descobriu que, mesmo sem a presença de um professor, elas conseguiram aprender inglês e questões complexas como a replicação do DNA.
Atualmente, Mitra está mergulhado em um projeto de criação de “escolas na nuvem”, nas quais os alunos, conectados e guiados por professores-mentores que trarão propostas de discussão de temas diversos, estarão no comando da aprendizagem e irão compartilhar a distância o que sabem, ajudando na formação de outros estudantes, mesmo os que vivem em regiões remotas.
Já não nos impressionamos com crianças de dois anos que mexem intuitivamente em um tablet ou smartphone. Seria inócuo negar os benefícios que a tecnologia pode trazer para a formação dos futuros profissionais, que mais do que saber ler, escrever e fazer as quatro operações matemáticas precisam desenvolver a inteligência emocional, entre outras habilidades.
Mas qual será então o futuro dos professores? Serão mesmo substituídos por máquinas e as escolas deixarão de existir? Certamente que não. Com um universo cada vez maior de conteúdos armazenados em grandes bancos de dados, que poderão ser interconectados para estruturar novas redes de conhecimento, a eles caberá o importante papel de tutores e de identificar os potenciais de seus alunos para adaptar o aprendizado de acordo com os interesses e habilidades de cada um.
Jean Piaget já antecipava a visão de pensadores como o professor Mitra muito antes da tecnologia derrubar as paredes das salas de aula: “A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores. A segunda é formar mentes que estejam em condições de criticar, verificar e não aceitar tudo que a elas se propõe”.
As tecnologias educacionais serão, sem dúvida, essenciais para repensarmos modelos pedagógicos obsoletos e para ajudar os professores a finalmente ajudar seus alunos a alcançar suas plenas capacidades e não mais formar clones que se contentam em aprender o que irão esquecer logo depois das provas. Mas sem a orientação dos mentores, trazem o risco de formar uma geração de distraídos que não sabem o que fazer com avalanches de informações.
“Os professores podem ser substituídos por uma máquina”. “As escolas como as conhecemos estão obsoletas”. As duas frases, a primeira proferida na Campus Party, em São Paulo, em 2012, e a segunda na TED, na Califórnia, em 2013, são de autoria do Dr. Sugata Mitra, professor da Newcastle University, da Inglaterra, e um dos maiores especialistas do mundo em tecnologia educacional.
Os pensamentos do professor Mitra são a síntese das transformações que estão desafiando os modelos pedagógicos desenhados há centenas de anos para formar aprendizes que até recentemente eram estimulados a exclusivamente repetir e decorar informações e não a aprender a partir de suas próprias descobertas.
Há tempos que a neurociência vem investigando como o cérebro consegue se desenvolver quando estimulado, criando novas conexões na medida em que adquirimos mais conhecimentos ao longo da vida. Aplicada no campo da educação, diversos estudos indicam que os nativos digitais já não retêm mais informações e conceitos como seus pais e avós, que seguiam uma mesma cartilha e metodologia de ensino, e que o desenvolvimento de suas habilidades cognitivas ocorre de maneira muito mais independente, ou seja, eles têm maior capacidade de aprender sozinhos.
Impossível não vincular o nascimento de uma nova geração de aprendizes ao surgimento das novas tecnologias digitais, que passaram a disponibilizar informações a qualquer hora e em qualquer lugar em dispositivos móveis. Se antes o professor exercia seu poder sobre a classe porque era o único detentor do saber, hoje basta uma rápida pesquisa no celular para acessar respostas e conteúdos didáticos de qualquer disciplina.
A partir do final dos anos 90, o professor Mitra realizou diversas experiências em comunidades pobres da Índia, disponibilizando computadores com acesso a Internet para crianças que nunca tinham visto um PC e sem passar nenhuma orientação de como usá-los. Descobriu que, mesmo sem a presença de um professor, elas conseguiram aprender inglês e questões complexas como a replicação do DNA.
Atualmente, Mitra está mergulhado em um projeto de criação de “escolas na nuvem”, nas quais os alunos, conectados e guiados por professores-mentores que trarão propostas de discussão de temas diversos, estarão no comando da aprendizagem e irão compartilhar a distância o que sabem, ajudando na formação de outros estudantes, mesmo os que vivem em regiões remotas.
Já não nos impressionamos com crianças de dois anos que mexem intuitivamente em um tablet ou smartphone. Seria inócuo negar os benefícios que a tecnologia pode trazer para a formação dos futuros profissionais, que mais do que saber ler, escrever e fazer as quatro operações matemáticas precisam desenvolver a inteligência emocional, entre outras habilidades.
Mas qual será então o futuro dos professores? Serão mesmo substituídos por máquinas e as escolas deixarão de existir? Certamente que não. Com um universo cada vez maior de conteúdos armazenados em grandes bancos de dados, que poderão ser interconectados para estruturar novas redes de conhecimento, a eles caberá o importante papel de tutores e de identificar os potenciais de seus alunos para adaptar o aprendizado de acordo com os interesses e habilidades de cada um.
Jean Piaget já antecipava a visão de pensadores como o professor Mitra muito antes da tecnologia derrubar as paredes das salas de aula: “A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores. A segunda é formar mentes que estejam em condições de criticar, verificar e não aceitar tudo que a elas se propõe”.
As tecnologias educacionais serão, sem dúvida, essenciais para repensarmos modelos pedagógicos obsoletos e para ajudar os professores a finalmente ajudar seus alunos a alcançar suas plenas capacidades e não mais formar clones que se contentam em aprender o que irão esquecer logo depois das provas. Mas sem a orientação dos mentores, trazem o risco de formar uma geração de distraídos que não sabem o que fazer com avalanches de informações.