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Que negócio é esse de esportes?

Claudio Pracownik analisa o esporte em duas esferas: como atividade econômica e como parte constituinte de um “mercado”

"Fase atual de evolução dos negócios de esporte é, de fato, muito promissora". (Alan Thornton/Getty Images)
Claudio Pracownik

CEO Win the Game

Publicado em 27 de setembro de 2023 às 15h38.

Os esportes, dizem, são tão antigos quanto a vida em coletividade dos seres humanos. Uma vez conscientes de suas necessidades fisiológicas e dotados de seu (não consciente) instinto de sobrevivência, os indivíduos passaram a desenvolver habilidades psicomotoras e de força capazes de lhes garantir a continuidade de sua existência: quanto mais forte, melhor seria sua chance de vitória em uma luta contra seus inimigos; quanto mais veloz, maior seria a possibilidade de escapar deles!

Com a instituição do chamado Contrato Social e do instituto do Direito que deram origem ao Estado e à vida em sociedade, essas habilidades esportivas – alimentadas pelo natural instinto competitivo e pela eterna busca de um sentido para vida dos seres humanos – passaram a se tornar também fontes de entretenimento: em um primeiro momento apenas para quem a praticava, e, logo depois, para quem as assistia. Temos aí a divisão entre o “atleta” e o “torcedor”.

Lancemos agora nosso olhar para uma visão econômica dos esportes em duas categorias: como atividade econômica e como parte constituinte de um “mercado”.

Como atividade econômica, o esporte gera empregos e busca receitas dentro de seu próprio ecossistema. Ou seja, os atletas são reconhecidos como integrantes do mercado formal de trabalho e são remunerados por empregadores que têm o direito de exploração econômica dessa atividade, gerando renda para arcar com os custos, e, quem sabe, ter lucros.

Já um mercado se forma quando setores da economia, originalmente distantes, passam a se aproximar e a gravitar ao redor de uma atividade primária, formando uma espécie de constelação de interesses e oportunidades.

A constelação do esporte reúne ao seu redor diversas relações de consumo originários de diferentes “planetas” (mercados), além daquele diretamente relacionado ao seu evento de exibição. Na cadeia de consumo e de geração de riqueza temos, hoje em dia, setores tão diversos quanto os de alimentos, tecnologia, mídia, medicina, vestuário, dentre outros. Sem falar de todos os outros setores que, através do patrocínio, associam a sua marca a um evento, clube ou atleta.

A fase atual de evolução dos negócios de esporte é, de fato, muito promissora! O entendimento de que o esporte faz parte de um setor da economia ainda maior, que é o do entretenimento, alarga a visão de quem são seus concorrentes e parceiros. Às vezes até se confundem em um quadro de “coopetição”, mas o fato é que isso multiplicou a possibilidade de produtos e de interações com os clientes B2B e B2C do setor esportivo. Esse momento foi denominado pelo brilhante advogado Marcos Motta como “ Sportainment”.

A utilização de ferramentas de dados e de inteligência artificial multiplica as possibilidades de interações com os torcedores, trazendo mais conexão, engajamento, e, logicamente consumo. Para as entidades desportivas que conhecem seus torcedores e são capazes de desenhar uma jornada de experiências e de consumo quase que individualizada, os potenciais ganhos se multiplicam.

Quando ocupei a cadeira de Vice-Presidente de Finanças do Flamengo, em uma entrevista quando as contas do clube já estavam em crescimento, fui perguntado sobre quem seria o principal concorrente do Flamengo no futuro. Não pensei duas vezes e respondi: “a Netflix”!

Isso porque hoje os negócios do esporte fazem parte da chamada “economia da atenção”. Vivemos em uma sociedade imediatista e com excesso de ofertas de entretenimento, que oferecem dopamina e prazer de forma quase instantânea. O tempo de lazer é limitado e o esporte precisa evoluir para disputar esse tempo com concorrentes tão diversos como o Tik Tok, o Instagram, a Netflix e muitos outros.

Estima-se que o mercado de esportes gere mais de 1.3 trilhão de dólares em 2023, dos quais 500 bilhões de dólares somente nos Estados Unidos, que vem crescendo a taxas superiores a 5% anualmente.

No Brasil ainda estamos engatinhando e temos um mercado estimado entre 25 e 30 bilhões de dólares. Por outro lado, um americano gasta em média 5 vezes mais que um brasileiro com lazer e entretenimento. Esse é o tamanho do nosso problema, mas é também a extensão de nossa oportunidade!

Esse tal de esporte é, na verdade, um baita de um negócio!

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* Claudio Pracownik tem mais de 30 anos de experiência no mercado financeiro, tendo ocupado cargos de COO em bancos nacionais e estrangeiros, assim como o de CEO da Ágora Corretora e da Genial Investimentos. Apaixonado por futebol, ocupou diversas vice-presidências no Clube de Regatas Flamengo desde 2005, notadamente a de vice-presidente de Administração e de Finanças durante os anos de 2013 a 2018.

A partir da obsessão em aprimorar as gestões esportivas no país, surge a Fix Delivery Partners e em pouco tempo, em parceria com a Holding da BTG Pactual e com o mesmo propósito, cria-se a Win The Game (2021).

A Win the Game é uma empresa focada em gestão financeira para áreas de esporte e entretenimento. Criada em 2021, através de uma joint venture entre a Holding da BTG Pactual e a Fix Delivery Partners, a Win vai muito além da gestão de clubes. A empresa contribui para a profissionalização e transformação do esporte, desenvolvendo planos de gestão, governança e assessoria financeira, conectando equipes, instituições, associações, times, clubes e atletas por meio de soluções inovadoras, marketing e acesso ao crédito.

Atualmente a Win desenvolve soluções para clubes como Palmeiras, Grêmio, Fortaleza, Guarani, XV de Piracicaba e America (RJ). Além dos clubes, a Win também possui projetos com a Liga Nacional de Futsal, EY Brasil, Grupo Multiplica, Müller Sport e Tally.

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Com a instituição do chamado Contrato Social e do instituto do Direito que deram origem ao Estado e à vida em sociedade, essas habilidades esportivas – alimentadas pelo natural instinto competitivo e pela eterna busca de um sentido para vida dos seres humanos – passaram a se tornar também fontes de entretenimento: em um primeiro momento apenas para quem a praticava, e, logo depois, para quem as assistia. Temos aí a divisão entre o “atleta” e o “torcedor”.

Lancemos agora nosso olhar para uma visão econômica dos esportes em duas categorias: como atividade econômica e como parte constituinte de um “mercado”.

Como atividade econômica, o esporte gera empregos e busca receitas dentro de seu próprio ecossistema. Ou seja, os atletas são reconhecidos como integrantes do mercado formal de trabalho e são remunerados por empregadores que têm o direito de exploração econômica dessa atividade, gerando renda para arcar com os custos, e, quem sabe, ter lucros.

Já um mercado se forma quando setores da economia, originalmente distantes, passam a se aproximar e a gravitar ao redor de uma atividade primária, formando uma espécie de constelação de interesses e oportunidades.

A constelação do esporte reúne ao seu redor diversas relações de consumo originários de diferentes “planetas” (mercados), além daquele diretamente relacionado ao seu evento de exibição. Na cadeia de consumo e de geração de riqueza temos, hoje em dia, setores tão diversos quanto os de alimentos, tecnologia, mídia, medicina, vestuário, dentre outros. Sem falar de todos os outros setores que, através do patrocínio, associam a sua marca a um evento, clube ou atleta.

A fase atual de evolução dos negócios de esporte é, de fato, muito promissora! O entendimento de que o esporte faz parte de um setor da economia ainda maior, que é o do entretenimento, alarga a visão de quem são seus concorrentes e parceiros. Às vezes até se confundem em um quadro de “coopetição”, mas o fato é que isso multiplicou a possibilidade de produtos e de interações com os clientes B2B e B2C do setor esportivo. Esse momento foi denominado pelo brilhante advogado Marcos Motta como “ Sportainment”.

A utilização de ferramentas de dados e de inteligência artificial multiplica as possibilidades de interações com os torcedores, trazendo mais conexão, engajamento, e, logicamente consumo. Para as entidades desportivas que conhecem seus torcedores e são capazes de desenhar uma jornada de experiências e de consumo quase que individualizada, os potenciais ganhos se multiplicam.

Quando ocupei a cadeira de Vice-Presidente de Finanças do Flamengo, em uma entrevista quando as contas do clube já estavam em crescimento, fui perguntado sobre quem seria o principal concorrente do Flamengo no futuro. Não pensei duas vezes e respondi: “a Netflix”!

Isso porque hoje os negócios do esporte fazem parte da chamada “economia da atenção”. Vivemos em uma sociedade imediatista e com excesso de ofertas de entretenimento, que oferecem dopamina e prazer de forma quase instantânea. O tempo de lazer é limitado e o esporte precisa evoluir para disputar esse tempo com concorrentes tão diversos como o Tik Tok, o Instagram, a Netflix e muitos outros.

Estima-se que o mercado de esportes gere mais de 1.3 trilhão de dólares em 2023, dos quais 500 bilhões de dólares somente nos Estados Unidos, que vem crescendo a taxas superiores a 5% anualmente.

No Brasil ainda estamos engatinhando e temos um mercado estimado entre 25 e 30 bilhões de dólares. Por outro lado, um americano gasta em média 5 vezes mais que um brasileiro com lazer e entretenimento. Esse é o tamanho do nosso problema, mas é também a extensão de nossa oportunidade!

Esse tal de esporte é, na verdade, um baita de um negócio!

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* Claudio Pracownik tem mais de 30 anos de experiência no mercado financeiro, tendo ocupado cargos de COO em bancos nacionais e estrangeiros, assim como o de CEO da Ágora Corretora e da Genial Investimentos. Apaixonado por futebol, ocupou diversas vice-presidências no Clube de Regatas Flamengo desde 2005, notadamente a de vice-presidente de Administração e de Finanças durante os anos de 2013 a 2018.

A partir da obsessão em aprimorar as gestões esportivas no país, surge a Fix Delivery Partners e em pouco tempo, em parceria com a Holding da BTG Pactual e com o mesmo propósito, cria-se a Win The Game (2021).

A Win the Game é uma empresa focada em gestão financeira para áreas de esporte e entretenimento. Criada em 2021, através de uma joint venture entre a Holding da BTG Pactual e a Fix Delivery Partners, a Win vai muito além da gestão de clubes. A empresa contribui para a profissionalização e transformação do esporte, desenvolvendo planos de gestão, governança e assessoria financeira, conectando equipes, instituições, associações, times, clubes e atletas por meio de soluções inovadoras, marketing e acesso ao crédito.

Atualmente a Win desenvolve soluções para clubes como Palmeiras, Grêmio, Fortaleza, Guarani, XV de Piracicaba e America (RJ). Além dos clubes, a Win também possui projetos com a Liga Nacional de Futsal, EY Brasil, Grupo Multiplica, Müller Sport e Tally.

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