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Colunista
Publicado em 10 de janeiro de 2025 às 12h19.
Quanto vai crescer a economia nos próximos 12 meses? Os economistas recebem perguntas como essa mais do que panetones nos encontros de final de ano. A curiosidade sobre o futuro do dólar e da bolsa tende a ser um pouco maior, é verdade, mas, no frigir dos ovos, o cenário para essas variáveis está ligado à perspectiva de crescimento econômico.
É possível dar uma resposta decente?
O Banco Central coleta sistematicamente previsões de economistas do mercado financeiro e empresas de consultoria desde meados de 1999. A boa notícia é que a comparação da expectativa de crescimento do PIB nos próximos 12 meses feita no primeiro dia do ano com o resultado efetivo mostra que o erro médio foi próximo de zero nos últimos 25 anos.
Ou seja, os economistas não produzem projeções enviesadas. Às vezes erram para mais, às vezes para menos, mas os desvios se compensam com o passar do tempo. Já é alguma coisa, é claro, mas isso não traz refresco para quem espera saber com o mínimo de confiabilidade o que vai acontecer no futuro próximo. Apesar de não ser sistematicamente “otimista” ou “pessimista”, o praticante da ciência triste tem errado grosseiramente os cenários de crescimento para o curto prazo.
As duas maiores frustrações ocorreram em 2015 e 2020.
O dinamismo econômico havia esfriado bastante em 2014 com o esgotamento da “Nova Matriz Econômica”. Sabia-se que a coisa era insustentável e, por isso, as perspectivas eram ruins no início de 2015. Esperava-se crescimento de apenas 0,5%, mas o tombo acabou sendo muito maior. O PIB encolheu 3,5% – e iria cair mais 3,3% no ano seguinte, uma das maiores recessões da história do Brasil.
Em 2020, todos foram pegos de surpresa pela pandemia de Covid-19, que produziu uma recessão profunda e repentina, além do maior erro de projeção da amostra. Esperava-se um crescimento de 2,3%, próximo do que se entende ser o potencial de longo prazo. Na realidade, houve contração de 3,3%.
As duas maiores surpresas positivas ocorreram em 2007 e 2022.
Em 2007, a economia global registrou um pico de crescimento na esteira do “boom” chinês. O país asiático crescia a taxas de dois dígitos desde 2003, marcando incríveis 14,2% em 2007. Nesse ano, o PIB mundial apresentou a maior taxa de expansão desde 1976. A economia americana exibia já os primeiros sinais de desgaste que resultaria na crise de 2008, mas isso não impediu que países exportadores de commodities, como o Brasil, surfassem a onda. Projetava-se crescimento de 3,5% e veio 6,1%.
Em 2022, a expectativa era modesta: apenas 0,3%. Havia cautela porque o crescimento de 2021, de 4,8%, era insustentável. Por isso, o juro estava aumentando – na verdade, a Selic subiu 200 pontos a mais do que se esperava em 2022. Porém, o empurrão dos estímulos concedidos durante o ano eleitoral – mantidos pelo novo governo – e efeitos residuais da abertura pós-pandemia explicaram a resiliência do PIB, principalmente dos setores de construção e de serviços. No final, a economia cresceu 3,0%.
Mesmo descontando essas surpresas mais expressivas, verifica-se que os erros de projeção foram substanciais nos 21 anos remanescentes da amostra. A projeção do economista típico destoou da realidade em mais do que um ponto percentual para cima ou para baixo em aproximadamente metade do tempo. Coletivamente, conseguimos projetar o crescimento econômico com precisão de mais ou menos meio ponto percentual apenas uma vez a cada 6 anos.
Para 2025, projeta-se crescimento de 2%. A baixa acurácia histórica recomenda ao usuário dessa profecia acrescentar um intervalo de 2,5 pontos para poder confiar razoavelmente que, no final do ano, o resultado efetivo estará na margem de erro.
Assim, a resposta que deveríamos dar nos banquetes de dezembro é: o PIB crescerá entre--0,5% e +4,5% em 2025 (com 80% de probabilidade, mas essa parte dá para esconder do primo médico ou advogado para não ficar tão feio). Poucos têm coragem de praticar tamanho sincericídio.
Diante da incerteza enorme, um exercício interessante é especular sobre a direção do provável erro da projeção em 2025, lembrando que o melhor chute é mesmo os 2% consensuais, pois se houvesse razão óbvia para projetar mais ou menos, os economistas, que coletivamente não produzem cenários enviesados, incorporariam a diferença na projeção central.
Feita a ressalva, tenho mais facilidade em vislumbrar fatores que poderão empurrar o número consensual para baixo do que para cima.
Espera-se um cenário global razoavelmente neutro, mas as políticas prometidas por Trump tendem a ser inflacionárias, pressionando para cima os juros e o dólar. Será que a produtividade nos EUA continuará crescendo robustamente para compensar esses efeitos? Se não continuar, o risco de uma recessão originada nos EUA aumentará e, nesse caso, a economia brasileira será negativamente afetada.
A China deve crescer mais do que a média global, mas os problemas estruturais são grandes por lá. A capacidade de o governo turbinar a economia pelos métodos usuais encontra limites claros. Será possível resistir bem ao tarifaço prometido? E se China tropeçar mais fortemente?
Na frente doméstica, parece que Lula acredita na visão de mundo que produziu o desastre de 2014-16 – lembrando que, sem a batuta firme do executivo, não se deve esperar disciplina fiscal do congresso. Ainda assim, é difícil esperar que ocorra algo tão traumático em 2025. No longo prazo, a irresponsabilidade fiscal produzirá mais inflação e menos crescimento, mas, no curto prazo, é possível que a economia continue avançando. Aliás, acho que seja essa a aposta visando as eleições de 26.
O Banco Central terá que subir o juro violentamente se quiser cumprir a meta, mas sem coordenação de políticas chegará o momento em que não dará mais para forçar a barra. Mesmo um juro real elevadíssimo, digamos, de 7% ao ano, não garante com 100% de certeza que a inflação caia para 3% dentro do horizonte relevante da política monetária. Faz sentido dar murro em ponta de faca? O BC não consegue ganhar o jogo sozinho. Em tese terá que apertar o torniquete, mas vai apertar?
Na dúvida, siga o consenso. É ruim, mas é o que há de melhor. Teoricamente, os 2% refletem essas incertezas. Mas como o futuro é tão propenso a surpresas, aposto que o viés seja de baixa.