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O Brasil pode crescer 3,5% em 2018 e 4% em 2019

Todas as restrições que turvam o longo prazo são menos relevantes para o crescimento no curto prazo, em 2018 e 2019

TEMER E SEUS MINISTROS: a possibilidade de que a política fiscal tenha viés expansionista preocupa no médio prazo, mas não deixa de ser uma boa notícia para o crescimento de curto prazo / Beto Barata/PR
DR

Da Redação

Publicado em 14 de fevereiro de 2018 às 17h04.

Escrevi em dezembro que apesar do resultado decepcionante para o PIB no terceiro trimestre e dos indicadores chochos que saíram em outubro era cedo para desconsiderar o potencial de crescimento criado pela recessão que ficou para trás. Na época, meus colegas projetavam crescimento de 2,6% para 2018 e de 2,8% para 2019. Com a cautela necessária a quem desafia o consenso, palpitei que tais projeções soavam conservadoras mesmo levando em conta os inúmeros obstáculos ao crescimento do PIB.

De lá para cá, as projeções melhoraram um pouco, respectivamente para 2,7% e 3,0%, reagindo às boas novidades do final do ano. Diante disso seria de bom alvitre “zerar” a minha aposta, declarar vitória e relaxar sob o abrigo da unanimidade. Não nego a tentação de ser covarde, mas o problema é que, apesar do aumento recente da volatilidade nos mercados internacionais, continuo achando que a tendência de crescimento da economia no curto prazo seja maior, não porque esteja particularmente entusiasmado com o Brasil, muito pelo contrário, mas porque os obstáculos à ocupação da ociosidade estão se dissipando.

Em defesa dos mais conservadores, não custa lembrar que o Brasil é um lugar sem vocação para o crescimento em uma corrida global que premia eficiência, conhecimento, inovação, previsibilidade, etc. Faltam aqui as três características básicas das economias mais dinâmicas: (i) existência de oportunidades lucrativas de investimento, (ii) empreendedores e poupadores seguros de que não serão depenados e (iii) financiamento a um custo compatível com o retorno e risco dos projetos, capaz de estimular o empreendedorismo e a concorrência.

São inúmeros os obstáculos que tornam os investimentos pouco lucrativos, incluindo a infraestrutura sofrível, o peso dos impostos, o inchaço do estado, a baixa qualificação da mão-de-obra, a burocracia e demais itens do “custo Brasil” que explica o fato de termos uma das menores taxas de investimento do mundo. Concomitantemente à baixa lucratividade média, o colapso das contas públicas torna inevitável um novo aumento da carga tributária ou, se o populismo vencer, confiscos, “empréstimos” compulsórios e demais coisas do gênero que, junto com a insegurança jurídica, inibem a tomada de riscos. Como se tudo isso não bastasse, o custo do capital é elevado em função da escassez crônica de poupança do país.

Sendo assim, não há dúvida que o Brasil estará condenado a permanecer na arapuca de baixo crescimento em que se encontra desde os anos 80 se não perseguir com obstinação a agenda de reformas que está colocada. O desafio seria monumental mesmo se o debate não fosse contaminado pela velha e boa idiotice terceiro-mundista latino-americana o que, infelizmente, não é o caso. Senadores que têm o futuro garantido mesmo que o país naufrague pregam, por exemplo, a desobediência civil para restaurar a democracia e afirmam que a crise é culpa de uma conspiração norte-americana para usurpar nossas riquezas. Como refutar essas e outras balelas em um mar de desinformação, desinteresse e desilusão? Sendo assim, não dá para ter certeza que o país optará pelo progresso nas eleições e é compreensível, portanto, que alguns colegas sejam conservadores em seus cenários e projeções.

A boa notícia é que todas as restrições que turvam o longo prazo são menos relevantes para o crescimento no curto prazo, em 2018 e 2019, quando a produção pode subir simplesmente pela ativação de máquinas ociosas e ocupação de pessoal desempregado durante a recessão. O “hiato do produto” é gigantesco. A maior prova de que as coisas estão indo bem é o fato de os mercados absorverem com tranquilidade o enterro paulatino da reforma da Previdência – sabe-se ironicamente que o país estará perdido sem tratar o tema, mas desconta-se o futuro para surfar a onda da recuperação. Quando o copo estiver cheio serão outros quinhentos, mas até lá o desafio é indubitavelmente menor. Basta haver confiança e um pouco de crédito para preencher o vazio. Os dados sugerem que tem havido progresso nas duas frentes.

O barômetro que uso para medir a confiança é um apanhado de 30 indicadores de diversas fontes que exibe boa correlação com os ciclos da economia. Após passar três anos e meio em terreno contracionista, compatível com recessão ou com expansão abaixo da potencial, o humor entrou no campo expansionista em dezembro e a julgar por informações parciais, continuou a progredir em janeiro. Não dá para dizer que os agentes estejam propriamente “otimistas”, mas é possível afirmar que a disposição tem melhorado consistentemente pelo menos há seis meses.

No tocante ao crédito, ocorreu em dezembro a maior redução de prêmios desde que a confiança na economia começou a melhorar. Como a transmissão da política monetária aos juros para os tomadores do setor privado se dá com defasagens, é plausível que as condições sigam melhorando. Além disso, as concessões de crédito estão em recuperação. Os desembolsos para capital de giro, atreladas ao pulso da economia, apresentaram o maior valor em seis meses. Esses indicadores oscilam bastante, tornando mais difícil saber se o progresso é ou não consistente. Ainda assim, os sinais são positivos.

Pode parecer piada, mas é também possível que o governo tenha espaço fiscal para gastar um pouco mais, reforçando o estímulo que tem sido dado pela política monetária. Essa possibilidade esdrúxula está sobre a mesa porque a meta de déficit foi fixada em um período em que as receitas ainda não estavam reagindo à retomada do crescimento. O desempenho melhor do que o esperado dos últimos meses criou uma “sobra” que, acredite se quiser, poderá ser torrada (se o Brasil fosse um país sério, o excesso deveria ser naturalmente poupado, mas essa é uma hipótese para o próximo milênio). Além disso, a “regra do teto” começará a morder para valer a partir de 2019. A possibilidade de que a política fiscal tenha viés expansionista preocupa no médio prazo, mas não deixa de ser uma boa notícia para o crescimento de curto prazo.

Quando faço as contas considerando os ventos favoráveis chego com facilidade a taxas de crescimento entre 3,0% e 3,5% nesse ano e aproximadamente 4,0% no ano que vem. Suponho, é verdade, que exista uma chance razoável de o bom senso prevalecer nas eleições, apesar das evidências em contrário, mas pelo que tenho escutado esta também é a premissa adotada pela maioria. Onde estará a pegadinha?

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Escrevi em dezembro que apesar do resultado decepcionante para o PIB no terceiro trimestre e dos indicadores chochos que saíram em outubro era cedo para desconsiderar o potencial de crescimento criado pela recessão que ficou para trás. Na época, meus colegas projetavam crescimento de 2,6% para 2018 e de 2,8% para 2019. Com a cautela necessária a quem desafia o consenso, palpitei que tais projeções soavam conservadoras mesmo levando em conta os inúmeros obstáculos ao crescimento do PIB.

De lá para cá, as projeções melhoraram um pouco, respectivamente para 2,7% e 3,0%, reagindo às boas novidades do final do ano. Diante disso seria de bom alvitre “zerar” a minha aposta, declarar vitória e relaxar sob o abrigo da unanimidade. Não nego a tentação de ser covarde, mas o problema é que, apesar do aumento recente da volatilidade nos mercados internacionais, continuo achando que a tendência de crescimento da economia no curto prazo seja maior, não porque esteja particularmente entusiasmado com o Brasil, muito pelo contrário, mas porque os obstáculos à ocupação da ociosidade estão se dissipando.

Em defesa dos mais conservadores, não custa lembrar que o Brasil é um lugar sem vocação para o crescimento em uma corrida global que premia eficiência, conhecimento, inovação, previsibilidade, etc. Faltam aqui as três características básicas das economias mais dinâmicas: (i) existência de oportunidades lucrativas de investimento, (ii) empreendedores e poupadores seguros de que não serão depenados e (iii) financiamento a um custo compatível com o retorno e risco dos projetos, capaz de estimular o empreendedorismo e a concorrência.

São inúmeros os obstáculos que tornam os investimentos pouco lucrativos, incluindo a infraestrutura sofrível, o peso dos impostos, o inchaço do estado, a baixa qualificação da mão-de-obra, a burocracia e demais itens do “custo Brasil” que explica o fato de termos uma das menores taxas de investimento do mundo. Concomitantemente à baixa lucratividade média, o colapso das contas públicas torna inevitável um novo aumento da carga tributária ou, se o populismo vencer, confiscos, “empréstimos” compulsórios e demais coisas do gênero que, junto com a insegurança jurídica, inibem a tomada de riscos. Como se tudo isso não bastasse, o custo do capital é elevado em função da escassez crônica de poupança do país.

Sendo assim, não há dúvida que o Brasil estará condenado a permanecer na arapuca de baixo crescimento em que se encontra desde os anos 80 se não perseguir com obstinação a agenda de reformas que está colocada. O desafio seria monumental mesmo se o debate não fosse contaminado pela velha e boa idiotice terceiro-mundista latino-americana o que, infelizmente, não é o caso. Senadores que têm o futuro garantido mesmo que o país naufrague pregam, por exemplo, a desobediência civil para restaurar a democracia e afirmam que a crise é culpa de uma conspiração norte-americana para usurpar nossas riquezas. Como refutar essas e outras balelas em um mar de desinformação, desinteresse e desilusão? Sendo assim, não dá para ter certeza que o país optará pelo progresso nas eleições e é compreensível, portanto, que alguns colegas sejam conservadores em seus cenários e projeções.

A boa notícia é que todas as restrições que turvam o longo prazo são menos relevantes para o crescimento no curto prazo, em 2018 e 2019, quando a produção pode subir simplesmente pela ativação de máquinas ociosas e ocupação de pessoal desempregado durante a recessão. O “hiato do produto” é gigantesco. A maior prova de que as coisas estão indo bem é o fato de os mercados absorverem com tranquilidade o enterro paulatino da reforma da Previdência – sabe-se ironicamente que o país estará perdido sem tratar o tema, mas desconta-se o futuro para surfar a onda da recuperação. Quando o copo estiver cheio serão outros quinhentos, mas até lá o desafio é indubitavelmente menor. Basta haver confiança e um pouco de crédito para preencher o vazio. Os dados sugerem que tem havido progresso nas duas frentes.

O barômetro que uso para medir a confiança é um apanhado de 30 indicadores de diversas fontes que exibe boa correlação com os ciclos da economia. Após passar três anos e meio em terreno contracionista, compatível com recessão ou com expansão abaixo da potencial, o humor entrou no campo expansionista em dezembro e a julgar por informações parciais, continuou a progredir em janeiro. Não dá para dizer que os agentes estejam propriamente “otimistas”, mas é possível afirmar que a disposição tem melhorado consistentemente pelo menos há seis meses.

No tocante ao crédito, ocorreu em dezembro a maior redução de prêmios desde que a confiança na economia começou a melhorar. Como a transmissão da política monetária aos juros para os tomadores do setor privado se dá com defasagens, é plausível que as condições sigam melhorando. Além disso, as concessões de crédito estão em recuperação. Os desembolsos para capital de giro, atreladas ao pulso da economia, apresentaram o maior valor em seis meses. Esses indicadores oscilam bastante, tornando mais difícil saber se o progresso é ou não consistente. Ainda assim, os sinais são positivos.

Pode parecer piada, mas é também possível que o governo tenha espaço fiscal para gastar um pouco mais, reforçando o estímulo que tem sido dado pela política monetária. Essa possibilidade esdrúxula está sobre a mesa porque a meta de déficit foi fixada em um período em que as receitas ainda não estavam reagindo à retomada do crescimento. O desempenho melhor do que o esperado dos últimos meses criou uma “sobra” que, acredite se quiser, poderá ser torrada (se o Brasil fosse um país sério, o excesso deveria ser naturalmente poupado, mas essa é uma hipótese para o próximo milênio). Além disso, a “regra do teto” começará a morder para valer a partir de 2019. A possibilidade de que a política fiscal tenha viés expansionista preocupa no médio prazo, mas não deixa de ser uma boa notícia para o crescimento de curto prazo.

Quando faço as contas considerando os ventos favoráveis chego com facilidade a taxas de crescimento entre 3,0% e 3,5% nesse ano e aproximadamente 4,0% no ano que vem. Suponho, é verdade, que exista uma chance razoável de o bom senso prevalecer nas eleições, apesar das evidências em contrário, mas pelo que tenho escutado esta também é a premissa adotada pela maioria. Onde estará a pegadinha?

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