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Colunista
Publicado em 4 de abril de 2025 às 18h21.
O PIB cresceu 3,4% em 2024, mais uma vez surpreendendo positivamente as expectativas formadas um ano antes. Assim, manteve-se a “tradição” que se firmou no período pós-pandemia: desde 2021, a realidade tem superado de forma consistente as projeções do mercado.
O nível de atividade em 2024 ficou 11,4% acima do registrado em 2019. Se os economistas tivessem acertado, a diferença seria de apenas 2,7%. Em valores de hoje, isso representa um desvio de cerca de R$ 1 trilhão — quase três vezes o PIB da construção civil. Não é pouco.
Essa sequência de surpresas positivas não indicaria uma capacidade de expansão maior do que se imaginava há alguns anos? Será que o cenário de crescimento para futuro não é melhor?
Para o economista mediano, a resposta ainda é negativa. No fim de 2020, a expectativa era que, após a recuperação de 2021, o crescimento “potencial” convergiria para 2,5% ao ano. Atualmente, ele é estimado em apenas 2,0% ao ano. Ou seja, o pessimismo aumentou apesar das surpresas positivas.
A verdade é que só saberemos a resposta com mais precisão daqui a alguns anos. É praticamente impossível conhecer o ritmo máximo de crescimento compatível com estabilidade de preços em “tempo real”. Nos 20 anos anteriores à pandemia, de 2000 a 2019, a média foi de 2,4% ao ano e foi esse número que serviu de referência para as projeções de médio prazo naquele período.
Desconsiderando 2021, quando a economia se recuperou da crise, o PIB cresceu em média 3,2% ao ano entre 2022 e 2024. Parte da aceleração em relação à média de longo prazo anterior pode de fato ter refletido uma capacidade maior de expansão. A modernização das relações de trabalho promovida pela reforma de 2017 talvez tenha contribuído para isso.
A reforma permitiu que acordos coletivos prevalecessem sobre a legislação em pontos específicos, reduzindo a insegurança jurídica e a judicialização. Também introduziu mais flexibilidade ao possibilitar modalidades como o trabalho intermitente e ampliar o escopo da terceirização. A pandemia, ao forçar adaptações, pode ter acelerado o processo de dinamização do mercado e da economia.
Outro fator relevante é o peso crescente do agronegócio, um setor que consegue ser produtivo e competitivo mesmo diante do chamado Custo-Brasil. As fintechs e o PIX reduziram o custo das transações. De fato, o crescimento médio da economia desde 2003 — excluindo os anos atípicos de 2020 e 2021 — supera ligeiramente o do período de 20 anos anterior à pandemia, indicando um viés de alta para o PIB potencial.
Ainda assim, os entraves à competitividade seguem presentes. O Brasil ocupa hoje a 62ª posição entre 67 países no ranking de competitividade global do IMD. Em 2020, já figurávamos em uma colocação ruim — 56º lugar — mas a deterioração recente é evidente.
Duas tendências são especialmente preocupantes. A primeira é a fragilidade fiscal, escancarada pelo fracasso do “esforço” recente do governo. O juro real de longo prazo voltou a superar 7% ao ano, refletindo a desconfiança em relação à sustentabilidade das contas públicas.
A segunda é o avanço da corrupção, em parte associado ao enfraquecimento institucional. Segundo a Transparência Internacional, o Brasil atingiu em 2024 o pior escore desde 2012 — hoje estamos ao lado do Níger, país com renda per capita inferior a um décimo da brasileira.
Esse ambiente mina a capacidade de investimento. Desde o colapso da desastrosa "Nova Matriz Econômica", a taxa de investimento oscila em torno de 17% do PIB (a preços de 2024), abaixo da média histórica, próxima de 18%. Após a pandemia, o indicador chegou a superar essa média, mas recuou novamente para 17,5% no ano passado.
Para estimar o crescimento potencial em tempo real, é necessário recorrer a hipóteses e modelos sofisticados — que nem sempre trazem mais precisão. Esses exercícios servem principalmente para separar os choques transitórios daqueles que indicam mudanças estruturais.
Simulações recentes sugerem que, em um determinado momento após a pandemia, o potencial de crescimento chegou de fato a subir significativamente, superando os 3,5% ao ano – em parte também pelo desempenho atipicamente favorável da agricultura em 2023.
Mas em 2024, o limite de velocidade voltou a se aproximar de 2%. O fato de a inflação estar em alta é um sinal claro de que a economia opera acima da capacidade — e, mesmo assim, o governo segue estimulando a demanda, contribuindo para um equilíbrio ruim: contas públicas frágeis, juros altos e risco de uma ressaca futura, como quando a “Nova Matriz Econômica” colapsou.