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As boas e as más notícias para o crescimento

A economia vai andando aos trancos e barrancos. Comentei neste espaço que o termômetro de minha preferência é uma média ponderada de quinze indicadores referentes a diversos ângulos da atividade, como produção, vendas, rendimentos, tributação, comércio exterior, confiança, etc. Apesar de não ser a oitava maravilha, o índice tipicamente captura entre 70% e 80% das […]

Plantação de milho em Limoeiro do Norte, no Estado do Ceará. (Davi Pinheiro/Reuters)
DR

Da Redação

Publicado em 9 de maio de 2017 às 09h41.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h22.

A economia vai andando aos trancos e barrancos. Comentei neste espaço que o termômetro de minha preferência é uma média ponderada de quinze indicadores referentes a diversos ângulos da atividade, como produção, vendas, rendimentos, tributação, comércio exterior, confiança, etc.

Apesar de não ser a oitava maravilha, o índice tipicamente captura entre 70% e 80% das oscilações trimestrais do PIB. Além disso, a experiência tem mostrado que os erros que ele comete não são muito distintos dos incorridos pela moçada que acompanha o PIB no detalhe do detalhe.

Com informações parciais até março, chuto crescimento de 0,2% no trimestre passado contra o último de 2016, com 70% de ter sido algo acima de zero. Se der isso, apesar da confirmação de termos batido no fundo do poço, será um resultado inferior à estimativa consensual de 0,6%.

Há duas razões para esperar que o número possa, na verdade, ser um pouco melhor. Primeiro, o IBGE mudou a pesquisa mensal dos serviços para retratar mais de perto as informações censitárias, coletadas com periodicidade menor. O indicador ganhou qualidade, mas a comparação com o trimestre anterior ficou prejudicada. Meu chute incorpora a pesquisa de serviços, mas não de modo “contábil”, o que possivelmente introduz um viés para cima.

A segunda razão é o fato de a agricultura estar “bombando”. Os economistas com quem trabalho que olham o setor de perto projetam crescimento de algo entre 7% e 8% para o PIB agropecuário em 2016, com o maior impacto concentrado no primeiro trimestre. Minha estimativa para o PIB total pode estar conservadora, porque capturo a influência da agricultura indiretamente.

Dito isso, torçamos para que o resultado efetivo esteja mais próximo da projeção consensual, mas, independentemente do que tenha ocorrido no trimestre passado, interessa saber como estão as perspectivas para frente. Estamos ou não avançando em ritmo decente? Neste quesito, vejo dois fatos promissores e um preocupante. Parto do pressuposto que o resto do mundo continuará jogando a favor, coisa que não pode ser tida como certa, conforme a coluna da semana passada.

A primeira boa notícia é uma extensão das surpresas favoráveis da agricultura, que vem apresentando ganhos de produtividade muito expressivos. O progresso neste setor tende a ter efeitos positivos sobre o restante da economia, beneficiando segmentos como o de transportes, defensivos, máquinas, varejo, entre outros.

Estudo recente publicado pela MCM Consultores, baseado em mais de uma metodologia, mostra que considerando efeitos diretos e indiretos, o agronegócio praticamente “garante” crescimento entre 0,6% e 1,0% neste ano. O consenso de mercado para o crescimento em 2017 é de cerca de 0,5%. Se não houver uma catástrofe com a agricultura e o estudo da MCM estiver certo, podemos afirmar que o segmento primário está carregando o resto da economia nas costas, inclusive compensando parte da perda advinda dos setores que ainda estão encolhendo.

A segunda boa notícia vem dos indicadores de confiança dos agentes. Após patinarem entre agosto de 2016 e fevereiro passado, as sondagens começaram a revelar uma pequena melhora do sentimento econômico em março e abril. Nada espetacular e ainda em um nível mais compatível com estagnação do que com crescimento. Ainda assim, devemos comemorar o sinal tímido porque, sem avanço da confiança, a retomada será fraca e irregular, com feedback negativo sobre o cenário político e vice-versa.

A notícia preocupante vem do mercado de crédito. A diferença entre o juro cobrado do cliente e o pago para o dono do recurso é um dos indicadores mais fieis das condições desse mercado – ele retrata a situação atual e também tem um componente de expectativa. Os prêmios não estão caindo no ritmo que seria de se esperar dada a perspectiva de continuidade do afrouxamento da política monetária. As empresas estão cortando dívidas agressivamente desde 2015 e o ritmo parece que se acelerou na virada do ano. Esse tipo de comportamento tende a dificultar a retomada e, portanto, é motivo para aflição.

Evidentemente, a evolução da confiança econômica em geral não é algo que se dá independentemente das condições do crédito. Mas há razão para acreditar que a primeira continue progredindo, ainda que lentamente, por conta do desempenho muito favorável da inflação, que alivia o orçamento das famílias. No primeiro trimestre de 2017, a massa real de rendimentos reverteu de forma robusta a queda livre que vinha se materializando há um ano e meio. Este desempenho tende a dar suporte ao consumo e a garantir que as condições do crédito para as famílias não seja tão restritiva quanto as das empresas.

No final do dia, o futuro do Brasil depende mesmo do sucesso das reformas – se elas avançarem, a confiança e o crédito também andarão. O maior nó a ser desatado é convencer politicamente uma população duramente maltratada pela incompetência dos últimos anos a fazer sacrifícios. Os criadores das maldades que provocaram a maior recessão desde a República Velha insistem com eficácia que o caminho trilhado sob a égide da “Nova Matriz” era o correto e sugerem repetir as mesmas barbeiragens para tirar o país da crise.

Pacotes populistas “descem redondo”, explicando as falhas recentes da democracia, sobretudo em uma sociedade acostumada a recorrer ao Estado Salvador desde sua formação. A maioria desinformada, que tem, é claro, reivindicações legítimas, é muito suscetível a dar suporte a sonhos irrealistas vendidos por uma esquerda cujos atributos (não mutualmente excludentes) são ingenuidade, ignorância e desonestidade. Infelizmente, a chance de “dar ruim” no encaminhamento das reformas é ainda considerável. Aí reside o principal perigo.

celsonovo

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A economia vai andando aos trancos e barrancos. Comentei neste espaço que o termômetro de minha preferência é uma média ponderada de quinze indicadores referentes a diversos ângulos da atividade, como produção, vendas, rendimentos, tributação, comércio exterior, confiança, etc.

Apesar de não ser a oitava maravilha, o índice tipicamente captura entre 70% e 80% das oscilações trimestrais do PIB. Além disso, a experiência tem mostrado que os erros que ele comete não são muito distintos dos incorridos pela moçada que acompanha o PIB no detalhe do detalhe.

Com informações parciais até março, chuto crescimento de 0,2% no trimestre passado contra o último de 2016, com 70% de ter sido algo acima de zero. Se der isso, apesar da confirmação de termos batido no fundo do poço, será um resultado inferior à estimativa consensual de 0,6%.

Há duas razões para esperar que o número possa, na verdade, ser um pouco melhor. Primeiro, o IBGE mudou a pesquisa mensal dos serviços para retratar mais de perto as informações censitárias, coletadas com periodicidade menor. O indicador ganhou qualidade, mas a comparação com o trimestre anterior ficou prejudicada. Meu chute incorpora a pesquisa de serviços, mas não de modo “contábil”, o que possivelmente introduz um viés para cima.

A segunda razão é o fato de a agricultura estar “bombando”. Os economistas com quem trabalho que olham o setor de perto projetam crescimento de algo entre 7% e 8% para o PIB agropecuário em 2016, com o maior impacto concentrado no primeiro trimestre. Minha estimativa para o PIB total pode estar conservadora, porque capturo a influência da agricultura indiretamente.

Dito isso, torçamos para que o resultado efetivo esteja mais próximo da projeção consensual, mas, independentemente do que tenha ocorrido no trimestre passado, interessa saber como estão as perspectivas para frente. Estamos ou não avançando em ritmo decente? Neste quesito, vejo dois fatos promissores e um preocupante. Parto do pressuposto que o resto do mundo continuará jogando a favor, coisa que não pode ser tida como certa, conforme a coluna da semana passada.

A primeira boa notícia é uma extensão das surpresas favoráveis da agricultura, que vem apresentando ganhos de produtividade muito expressivos. O progresso neste setor tende a ter efeitos positivos sobre o restante da economia, beneficiando segmentos como o de transportes, defensivos, máquinas, varejo, entre outros.

Estudo recente publicado pela MCM Consultores, baseado em mais de uma metodologia, mostra que considerando efeitos diretos e indiretos, o agronegócio praticamente “garante” crescimento entre 0,6% e 1,0% neste ano. O consenso de mercado para o crescimento em 2017 é de cerca de 0,5%. Se não houver uma catástrofe com a agricultura e o estudo da MCM estiver certo, podemos afirmar que o segmento primário está carregando o resto da economia nas costas, inclusive compensando parte da perda advinda dos setores que ainda estão encolhendo.

A segunda boa notícia vem dos indicadores de confiança dos agentes. Após patinarem entre agosto de 2016 e fevereiro passado, as sondagens começaram a revelar uma pequena melhora do sentimento econômico em março e abril. Nada espetacular e ainda em um nível mais compatível com estagnação do que com crescimento. Ainda assim, devemos comemorar o sinal tímido porque, sem avanço da confiança, a retomada será fraca e irregular, com feedback negativo sobre o cenário político e vice-versa.

A notícia preocupante vem do mercado de crédito. A diferença entre o juro cobrado do cliente e o pago para o dono do recurso é um dos indicadores mais fieis das condições desse mercado – ele retrata a situação atual e também tem um componente de expectativa. Os prêmios não estão caindo no ritmo que seria de se esperar dada a perspectiva de continuidade do afrouxamento da política monetária. As empresas estão cortando dívidas agressivamente desde 2015 e o ritmo parece que se acelerou na virada do ano. Esse tipo de comportamento tende a dificultar a retomada e, portanto, é motivo para aflição.

Evidentemente, a evolução da confiança econômica em geral não é algo que se dá independentemente das condições do crédito. Mas há razão para acreditar que a primeira continue progredindo, ainda que lentamente, por conta do desempenho muito favorável da inflação, que alivia o orçamento das famílias. No primeiro trimestre de 2017, a massa real de rendimentos reverteu de forma robusta a queda livre que vinha se materializando há um ano e meio. Este desempenho tende a dar suporte ao consumo e a garantir que as condições do crédito para as famílias não seja tão restritiva quanto as das empresas.

No final do dia, o futuro do Brasil depende mesmo do sucesso das reformas – se elas avançarem, a confiança e o crédito também andarão. O maior nó a ser desatado é convencer politicamente uma população duramente maltratada pela incompetência dos últimos anos a fazer sacrifícios. Os criadores das maldades que provocaram a maior recessão desde a República Velha insistem com eficácia que o caminho trilhado sob a égide da “Nova Matriz” era o correto e sugerem repetir as mesmas barbeiragens para tirar o país da crise.

Pacotes populistas “descem redondo”, explicando as falhas recentes da democracia, sobretudo em uma sociedade acostumada a recorrer ao Estado Salvador desde sua formação. A maioria desinformada, que tem, é claro, reivindicações legítimas, é muito suscetível a dar suporte a sonhos irrealistas vendidos por uma esquerda cujos atributos (não mutualmente excludentes) são ingenuidade, ignorância e desonestidade. Infelizmente, a chance de “dar ruim” no encaminhamento das reformas é ainda considerável. Aí reside o principal perigo.

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