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A economia mundial balançou, mas evita um tombo maior no curto prazo

Os ventos de fora não devem nos atrapalhar no momento, mas é preciso aproveitar a janela de oportunidade para fazer a lição de casa porque eles não devem durar para sempre

BANCO CENTRAL DOS EUA: a vasta maioria dos economistas aposta no início de uma nova recessão em 2020 ou em 2021 / Kevin Lamarque/ Reuters
BANCO CENTRAL DOS EUA: a vasta maioria dos economistas aposta no início de uma nova recessão em 2020 ou em 2021 / Kevin Lamarque/ Reuters
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Celso Toledo

Publicado em 29 de abril de 2019 às, 11h53.

No final de 2017 a economia mundial estava crescendo à vistosa taxa de 4% ao ano. Desde então o ritmo esfriou, mas isso não foi motivo de preocupação durante o primeiro semestre de 2018. Para muitos a desaceleração era algo desejável. Passado o verão no hemisfério norte, no entanto, a tranquilidade deu lugar ao receio crescente de que a aterrissagem suave poderia descambar para um mergulho recessivo. E agora?

As informações disponíveis sugerem que o crescimento global pode de fato ter caído para perto de 3% ao ano no trimestre passado. Se os 4% do final de 2017 pareciam demais, os 3% atuais estão perto do limiar que delimita as “recessões” em escala mundial, pois são muito raros os casos em que o produto agregado efetivamente diminui em um ano. O ideal é avançar em um compasso intermediário, como nos últimos sete anos.

Ao revisar recentemente as expectativas de crescimento, o FMI tirou 0,2 pontos da projeção feita em janeiro, prevendo agora que o mundo crescerá 3,3% em 2019 – o ajuste parece pequeno, mas equivale ao PIB da Finlândia. A boa notícia é que o organismo manteve a crença em uma desaceleração suave. No entanto, usou o adjetivo “precário” para qualificar o cenário econômico. Como é quase impossível prever exatamente o início das recessões, é bom ficar de olho.

O avanço do protecionismo é o maior risco ao crescimento da economia global. Apesar disso, as exportações agregadas vinham se sustentando, crescendo cerca de 4% ao ano até outubro passado. De repente, em novembro e dezembro o comércio mundial despencou, registrando a segunda maior retração dos últimos vinte anos, atrás apenas da observada após a crise financeira. O susto provocou uma onda de reavaliações sobre a saúde da economia global.

O fato é que está difícil tomar o pulso da economia global em “tempo real”. Por exemplo, as diretrizes do FED – o banco central americano –, que normalmente são um dos principais guias para a formação de expectativas, recentemente se transformaram em fonte de ruído. Até outubro passado a pretensão de elevar os juros refletia a confiança da instituição na força da recuperação da economia. Depois, passou a ser vista como uma das possíveis causas da engasgada. Desde então a orientação das políticas econômicas das principais autoridades mudou 180 graus.

Diante da deterioração das expectativas, o FED e o Banco Central Europeu entraram em modo de espera. A China, por sua vez, pisou no acelerador adotando medidas monetárias, creditícias e fiscais, ao mesmo tempo em que busca chegar a um acordo com os EUA para por um fim às disputas comerciais. Reino Unido e União Europeia têm preferido empurrar o problema do Brexit com a barriga para evitar um divórcio traumático. Esses movimentos devem ser suficientes para evitar um mergulho profundo no curto prazo.

Nos EUA, a confiança parece ter parado de piorar e espera-se que no segundo trimestre o crescimento ganhe mais consistência – a demanda interna registrou nos primeiros três meses o desempenho mais fraco desde o final de 2015. A reação mais impressionante veio da China. O crescimento interanual da produção industrial, que corria pouco acima de 6% desde 2015 saltou para 8,5% em março. Indicadores menos diretos, mas menos sujeitos a manipulações, também sugerem uma reversão do ciclo no curto prazo. Os dados do comércio global melhoraram no início do ano.

Os ventos de fora não devem nos atrapalhar no curto prazo, mas é preciso aproveitar a janela de oportunidade para fazer a lição de casa porque eles não devem durar para sempre. Nos EUA, a percepção de chance de uma nova recessão nos próximos 12 meses encontra-se atualmente em 25%. Parece pouco, mas não é. Um mês antes do estouro da crise financeira atribuía-se chance de recessão de apenas 40% em um ano. A vasta maioria dos economistas aposta no início de uma nova recessão em 2020 ou em 2021. E o tipo de estímulo que tem segurado a economia chinesa tem efeito temporário por definição.