Equidade de gênero nas empresas é fundamental para recuperar a economia
Novo estudo do Bank Of America (BofA) mostra que a paridade de gênero poderá gerar US$ 28 trilhões à economia global
Rodrigo Caetano
Publicado em 8 de março de 2021 às 15h24.
Última atualização em 8 de março de 2021 às 16h37.
O Dia Internacional da Mulher foi criado pela ONU para ser um dia de celebração das conquistas sociais, econômicas e políticas das mulheres. Um dia para servir como um chamado à ação para a equidade de gênero.
Nesse ano de pandemia, não existem muitos avanços a se comemorar. Elas estão sendo desproporcionalmente afetadas pela pandemia, como sempre são, em especial as mulheres negras.
A maioria nas profissões da linha de frente de combate à pandemia são ocupadas por mulheres, 70%, em média, no mundo e no Brasil.
As mulheres também são as mais presentes no cuidado da casa. No Brasil, gastam 21 horas por semana no trabalho doméstico, contra vergonhosas 11 horas dos homens. Não bastasse a carga excessiva de trabalho, as denúncias de violência contra a mulher aumentaram em 2020 no canal 180, do Governo Federal, somando 105 mil casos.
Apesar de avanços recentes, no mercado de trabalho constata-se uma situação alarmante. Em 2020, segundo o CAGED, 230 mil novas vagas foram ocupadas por homens, enquanto as mulheres perderam quase 90 mil postos. Isso faz com que 45,6% desse público não tenha empregos formais. As mulheres com carteira assinada, por sua vez, recebem menos de 78% dos salários dos homens.
Avançando na pirâmide hierárquica das empresas, esses números são ainda preocupantes: mulheres ocupam, em média, apenas 35% dos cargos de gerência, 16% dos cargos de liderança (diretoria), menos de 10% das presidências, 11% dos assentos em conselhos de administração e, apenas, 6% a posição de presidentes de Conselhos. Nesses casos as mulheres recebem ainda menos, 62% do que os homens ganham, segundo o IBGE.
Deve-se deixar evidente que essa situação não é igual entre todas as mulheres, as negras sofrem ainda mais, muito mais. Segundo Instituto Ethos, em 2016, apenas 9,3% da força de trabalho das 500 maiores empresas do Brasil era de mulheres negras e 0,4% delas ocupavam cargos de liderança, sendo que representam 28% da população brasileira.
Paradoxalmente, neste tempo pandêmico no qual as mulheres são mais negligenciadas e no qual o PIB global caiu 3,5% e, no Brasil, 4,1%, parte da solução para uma retomada social e econômica está na paridade efetiva entre homens e mulheres no mercado de trabalho. Por isso, o tema estabelecido pela ONU foi “Mulheres na Liderança: alcançando um futuro igualitário num mundo de COVID-19”. Um estudo do Bank of America mostra que a equidade total de gênero pode adicionar USD 28 trilhões à economia global, quase um terço do PIB do mundo de 2020. Esse relatório destaca ainda que conselhos mais diversos têm um retorno financeiro 15% mais alto e faz uma provocação: “A regra 101 de investimento – regra da Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos – é diversificar o capital de para maximizar os retornos, então por que não fazemos o mesmo com o capital humano”.
Nesse sentido, o Pacto Global das Nações Unidas e mais de 30 outras instituições, lançaram no ano passado a iniciativa Equidade é Prioridade. Mais de 300 empresas em 19 países – 31 no Brasil – se desafiaram a estabelecer metas para aumentar o número de mulheres em cargos de liderança. Em 2021, o programa contará com as participações de 52 países. As metas vão de 30% a 50% em cargos acima de diretoria, para superarmos os atuais míseros 16%. O alcance dessas metas trará mais inovação e lucratividade às empresas que aderirem.
Se a equidade de gênero já era um imperativo para o efetivo desenvolvimento do Brasil, torna-se ainda mais necessária para a retomada da economia. Portanto, no dia 08 de março, no lugar de dar flores e presentes às mulheres de sua empresa, anuncie ações e metas concretas que se traduzam em oportunidades mais equânimes a elas. Com isso, ganha sua empresa, ganha o Brasil.
Carlo Pereira, diretor-executivo da Rede Brasil do Pacto Global, com Gabriela Almeida, gerente de Direitos Humanos na Rede Brasil do Pacto Global
O Dia Internacional da Mulher foi criado pela ONU para ser um dia de celebração das conquistas sociais, econômicas e políticas das mulheres. Um dia para servir como um chamado à ação para a equidade de gênero.
Nesse ano de pandemia, não existem muitos avanços a se comemorar. Elas estão sendo desproporcionalmente afetadas pela pandemia, como sempre são, em especial as mulheres negras.
A maioria nas profissões da linha de frente de combate à pandemia são ocupadas por mulheres, 70%, em média, no mundo e no Brasil.
As mulheres também são as mais presentes no cuidado da casa. No Brasil, gastam 21 horas por semana no trabalho doméstico, contra vergonhosas 11 horas dos homens. Não bastasse a carga excessiva de trabalho, as denúncias de violência contra a mulher aumentaram em 2020 no canal 180, do Governo Federal, somando 105 mil casos.
Apesar de avanços recentes, no mercado de trabalho constata-se uma situação alarmante. Em 2020, segundo o CAGED, 230 mil novas vagas foram ocupadas por homens, enquanto as mulheres perderam quase 90 mil postos. Isso faz com que 45,6% desse público não tenha empregos formais. As mulheres com carteira assinada, por sua vez, recebem menos de 78% dos salários dos homens.
Avançando na pirâmide hierárquica das empresas, esses números são ainda preocupantes: mulheres ocupam, em média, apenas 35% dos cargos de gerência, 16% dos cargos de liderança (diretoria), menos de 10% das presidências, 11% dos assentos em conselhos de administração e, apenas, 6% a posição de presidentes de Conselhos. Nesses casos as mulheres recebem ainda menos, 62% do que os homens ganham, segundo o IBGE.
Deve-se deixar evidente que essa situação não é igual entre todas as mulheres, as negras sofrem ainda mais, muito mais. Segundo Instituto Ethos, em 2016, apenas 9,3% da força de trabalho das 500 maiores empresas do Brasil era de mulheres negras e 0,4% delas ocupavam cargos de liderança, sendo que representam 28% da população brasileira.
Paradoxalmente, neste tempo pandêmico no qual as mulheres são mais negligenciadas e no qual o PIB global caiu 3,5% e, no Brasil, 4,1%, parte da solução para uma retomada social e econômica está na paridade efetiva entre homens e mulheres no mercado de trabalho. Por isso, o tema estabelecido pela ONU foi “Mulheres na Liderança: alcançando um futuro igualitário num mundo de COVID-19”. Um estudo do Bank of America mostra que a equidade total de gênero pode adicionar USD 28 trilhões à economia global, quase um terço do PIB do mundo de 2020. Esse relatório destaca ainda que conselhos mais diversos têm um retorno financeiro 15% mais alto e faz uma provocação: “A regra 101 de investimento – regra da Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos – é diversificar o capital de para maximizar os retornos, então por que não fazemos o mesmo com o capital humano”.
Nesse sentido, o Pacto Global das Nações Unidas e mais de 30 outras instituições, lançaram no ano passado a iniciativa Equidade é Prioridade. Mais de 300 empresas em 19 países – 31 no Brasil – se desafiaram a estabelecer metas para aumentar o número de mulheres em cargos de liderança. Em 2021, o programa contará com as participações de 52 países. As metas vão de 30% a 50% em cargos acima de diretoria, para superarmos os atuais míseros 16%. O alcance dessas metas trará mais inovação e lucratividade às empresas que aderirem.
Se a equidade de gênero já era um imperativo para o efetivo desenvolvimento do Brasil, torna-se ainda mais necessária para a retomada da economia. Portanto, no dia 08 de março, no lugar de dar flores e presentes às mulheres de sua empresa, anuncie ações e metas concretas que se traduzam em oportunidades mais equânimes a elas. Com isso, ganha sua empresa, ganha o Brasil.
Carlo Pereira, diretor-executivo da Rede Brasil do Pacto Global, com Gabriela Almeida, gerente de Direitos Humanos na Rede Brasil do Pacto Global