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Parabéns, você está se vendendo

Falar de si próprio, contar suas histórias, saber promover o que você faz não se compara mais àquele momento arrepiante de apresentar um trabalho no colégio

 (Kentaroo Tryman/Getty Images)
(Kentaroo Tryman/Getty Images)
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Bruno Parodi

Publicado em 16 de abril de 2021 às, 09h08.

Última atualização em 16 de abril de 2021 às, 09h09.

Preciso te dizer uma coisa e não sei como você vai lidar com ela, mas você está se vendendo na internet.

Fiquei surpreso ao constatar isso porque no mundo offline você costuma ter outra postura. Parece mais tímido, mais reservado. Talvez isso venha da sua profissão, que é mais tradicional. Afinal, a gente aprende que falar, se expressar, aparecer é para comunicadores, artistas, galera do marketing, não é?

Aliás, entrei nos seus perfis de Instagram, Facebook, Twitter e entendi que por essas bandas online você funciona de outra maneira, bem diferente da sua versão física. Até dei risada...

Ué, você está no TikTok também? Dançando, dublando e fazendo graça? E até no Clubhouse sei que você anda falando uma porção de coisas. Irreconhecível mesmo .

Comecei a te entender melhor quando observei meu filho de 3 anos mais de perto — e espero que não entenda isso mal. A relação dele com a sua própria imagem é bem diferente da que eu mesmo tive com a minha.

Quando fui tirar uma foto do pequeno, ele se viu no meu celular e teve uma reação banal. Nenhuma surpresa ou constrangimento ao se ver na tela. Sua imagem de carne e osso era algo absolutamente cotidiano para ele.

Lembrei, então, de quando eu era mais novo. À exceção do uso de um espelho, para saber como você se parecia era preciso de uma máquina fotográfica analógica. Bater uma foto, esperar acabar o rolo do filme, mandar os negativos para revelação e aguardar alguns dias para ver o resultado. Esse processo inteiro podia demorar semanas.

Outro exemplo é minha filha mais velha, de 7 anos, que faz montagens em vídeo para mandar recado para a família no WhatsApp. Filma, edita e dispara tudo em 2 ou 3 minutos, numa comunicação cada vez mais multimídia, codificada e insinuante.

Mas voltando novamente no tempo, até 2003 ou 2004 não víamos nossa imagem física nos serviços online. Fotologs (primos mais rústicos do Instagram) e plataformas estilo Hot or Not (que deram origem ao Facebook), onde usuários diziam se a pessoa era bonita ou não, deram rostos a nomes até então definidos apenas por letras.

E hoje você consegue citar alguma plataforma digital que não peça para você associar a sua foto? Até mesmo o aplicativo do seu banco já para publicar a sua carinha. E, de tão corriqueiro, você não se importa mais com isso.

Nosso rosto não é mais um tabu. Nos ver não é mais uma questão. Nosso sorriso é nosso cartão de visitas. E se expor não é mais um traço de vaidade, mas uma imposição da dinâmica digital para ser lembrado — e não importa quão convencional seja a sua profissão.

Falar de si próprio, contar suas histórias, saber promover o que você faz não se compara mais àquele momento arrepiante de apresentar um trabalho na frente da turma no colégio. Quebramos o gelo e entendemos que hoje você solta suas teias ou não será mais lembrado. Afinal, viramos todos vendedores.

Conexões são cada vez mais pessoais — em breve conto aqui mais sobre uma das minhas paixões, que venho chamando de Marketing de Conexão. Não à toa, 13 das 15 contas mais seguidas no Instagram são de pessoas e não de marcas. As outras duas são: National Geographic e a conta oficial do próprio Instagram.

E até mesmo as marcas mais imponentes do mundo buscam a simplicidade e a autenticidade de uma pessoa para se relacionar mais intimamente com o seu público.

Ser um youtuber, ser um influenciador, se pronunciar e abusar das ferramentas e plataformas digitais não é mais uma opção: é praticamente uma obrigação tão óbvia quanto antigamente era ter seu negócio listado nas Páginas Amarelas.

Explorar a mídia não é mais tarefa apenas para os comunicadores. É hoje para todos.