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Aquele home office não existe mais

"Aquele home office que idealizamos não existe mais. E o que no começo era um oásis, hoje soa como uma maratona sem fim"

 (By lijing/Getty Images)
(By lijing/Getty Images)
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Bruno Parodi

Publicado em 17 de maio de 2022 às, 18h16.

Última atualização em 28 de maio de 2022 às, 20h00.

Por Bruno Parodi

Há algum tempo uma multinacional me perguntou sobre algumas tendências tecnológicas que poderíamos encontrar num futuro breve. Já tinha em mente convicções e devaneios próprios, mas tratei de ir atrás do que o mercado estava falando sobre.

Dentre novidades, como dispositivos que você interage com gestos e sem toques, ou o “everything as a service” -- que aponta uma mudança no senso de propriedade para o direito de uso de qualquer tipo de item (os carros por assinatura já estão aí), não havia como fugir do “novo” home office. Afinal, quem não o conhecia ou não o praticava, teve que ser apresentado da maneira mais violenta possível: por obrigação.

Tanto a indústria do software quanto a de dispositivos físicos avançaram aceleradamente para abocanhar oportunidades que quicavam. Principalmente quando o foco estava em melhorar a experiência das massacrantes videoconferências. Câmeras em alta resolução e que acompanham o rosto de quem está falando, extensões de navegadores que transcrevem em texto o que foi dito, editores de fundo de tela e de animações para apresentações, entre tantos outros. Mas, não era preciso ser nenhum gênio para entender que nosso grande desafio seria prioritariamente psicológico e comportamental.

Sim, foi bacana empresas enviarem cadeiras mais confortáveis, notebooks, instalarem conexões velozes nas casas dos funcionários. Mas, cá entre nós, essa é a base da dignidade que cada colaborador precisa para desempenhar um trabalho minimamente sustentável.

E agora, com o mundo reabrindo? O que acontece com a gente, com a nossa casa e com a nossa relação com a empresa e projetos com os quais nos envolvemos?

Aquele home office que idealizamos não existe mais. E o que no começo era um oásis, fugindo do trânsito e outros inconvenientes da rotina, hoje soa como uma maratona sem fim. Exige-se um esforço mental considerável para lidar com o trabalho dentro de casa, sem que obrigações familiares e domésticas arruinem a sua discutível sanidade mental.

Invariavelmente isso passa pelo debate e experimentação do trabalho híbrido, remoto, síncrono, assim ou assado. E isso está fora de questão.

Mas, pra mim, de fato a cabeça é a bola da vez. Estafas, burnouts, crises de ansiedade, problemas de concentração passaram a ser corriqueiros. Todo mundo teve, tem ou conhece alguém que teve ou tem.

E o que acontece com nossa saúde física quando não somos obrigados a sair fisicamente de casa? E aquela mínima caminhada até o ponto de ônibus ou da volta do almoço? Fora o papo jogado fora, que ajuda a descomprimir. Qual o saldo desse novo pacote? Quilos a mais, sociabilidade em declínio?

Uma série de novos estudos também apontam para o enfraquecimento da criatividade nas dinâmicas remotas. Seria o fim do brainstorm? Claro que não. Mas fica claro que precisaremos rever, refletir, discutir para evoluir.

Os próximos capítulos são tradicionais: alguma empresa sexy ou autoridade recente vai apontar o caminho infalível para sermos produtivos, felizes e saudáveis. Talvez um framework cheio de setas, talvez um mantra a ser entoado no início da manhã ou quem sabe uma nova plataforma de gestão da vida 3.0. Todos aplaudiremos, aderindo ao movimento. Até nos tocarmos que ele não resolve tudo e aí voltamos ao incômodo inicial de novos problemas.

Mas, quer saber o grande barato disso? Não é nada diferente do que já passamos. E tudo vai acabar bem.