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Crypto-as-a-Service e a nova infraestrutura do mercado financeiro

Entenda como essa atividade está ajudando a criar as bases para a transformação das empresas no contexto da criptoeconomia

BEE4: a primeira exchange de tokens de ações de empresas do país (blackdovfx/Getty Images)
MM

Mariana Maria Silva

Publicado em 5 de março de 2022 às 10h00.

É impressionante ver o ganho de popularidade dos criptoativos perante o grande público e sua aproximação junto ao mercado tradicional nos últimos anos. À medida que passamos a acompanhar notícias relacionadas a esse tema ganhando um destaque cada vez maior nos noticiários – e, por consequência, transcendendo os círculos mais especializados e chegando até às mesas de bares e rodas de conversas entre amigos - vimos também uma reação do mercado no sentido de proporcionar uma maior facilidade no acesso aos criptoativos, indo além das corretoras, até então a principal porta de entrada para esse mundo. Inicialmente, algumas fintechs mundo afora começaram a embarcar nessa oportunidade adicionando a possibilidade de compra e venda de bitcoin dentre o rol das soluções oferecidas aos seus clientes. Aos poucos, mais criptoativos (como o ether, por exemplo) passaram a ser também incorporados dentre as ofertas destas fintechs. Até que, recentemente, essa possibilidade se abriu para empresas de diferentes setores, ávidas por participar deste crescente mercado.

No centro desta transformação, encontramos um provedor de serviços que está ganhando cada vez mais importância nos dias de hoje, ao passo que contribui com a transição das empresas e de seus consumidores para o contexto da criptoeconomia, apresentando uma infraestrutura alternativa e mais moderna ao mercado financeiro tradicional. Trata-se dos provedores de Crypto-as-a-Service, atividade que foi, inclusive, citada em meu artigo sobre tendências para o cenário fintech em 2022, publicada aqui nesta coluna na Exame Future of Money. Este é um movimento global e que já está se manifestando rapidamente no Brasil, conforme mostrarei a seguir.

Crypto-as-a-Service ao redor do mundo

Um dos movimentos internacionais mais emblemáticos de empresas que decidiram abraçar o mundo cripto aconteceu em 2017, quando o neobank britânico Revolut começou a ofertar um serviço de compra e venda de criptoativos para seus clientes. No ano seguinte, foi a vez da fintech Robinhood (até então focada na oferta de produtos tradicionais de investimento, como ações e opções) surfar essa onda.

No final de 2020 o PayPal anunciou o lançamento de um novo serviço, permitindo que seus clientes comprem, mantenham e vendam criptoativos diretamente de sua conta na plataforma, além de possibilitar o pagamento via cripto por compras realizadas junto aos mais de 26 milhões de comerciantes que utilizam a fintech em todo mundo.

Os casos da Revolut e Paypal guardam algumas similaridades e nos levam a um fornecedor em comum – a Paxos, fintech especializada em Crypto-as-a-Service que provê a infraestrutura necessária para que essas empresas possam habilitar soluções baseadas em criptoativos para os seus próprios clientes. A lógica é parecida com o Banking-as-a-Service, contudo, esse pode ser considerado um próximo passo que possibilita embutir nas empresas uma nova geração de serviços financeiros baseados em blockchain – sendo que o ato de desbloquear a negociação de criptoativos é uma solução inicial que, consequentemente, permite a abertura de mais portas dentro desse vasto ecossistema.

A Paxos surgiu em 2012 sob o nome itBit, uma corretora de Bitcoin que no ano de 2015 recebeu do Departamento de Serviços Financeiros do Estado de Nova York sua licença de operações, o que concedeu à empresa a capacidade de ser o custodiante e realizar compra e venda para clientes nos Estados Unidos. Nos anos seguintes, a fintech se especializou no desenvolvimento de soluções reguladas baseadas em blockchain, tais como stablecoins, tokens lastreados em ouro e serviços de liquidação de negociações de ações (sendo a primeira e única autorizada pela SEC para realizar essa tarefa usando a tecnologia blockchain). Hoje, a fintech possui como clientes, além do PayPal e da Revolut, o Credit Suisse, o Societe Generale, a StoneX e, mais recentemente, o Mercado Pago (fintech do Mercado Livre que, inclusive, comprou uma participação na empresa). Desta forma, a Paxos se apresenta no mercado como a primeira plataforma de infraestrutura blockchain regulamentada, adotando uma abordagem global para modernizar o sistema financeiro.

A oportunidade existente na inserção de instituições do mercado financeiro tradicional e outras empresas no contexto da criptoeconomia é tão grande que atraiu diversos outros players para essa arena. Assim, vemos desde empresas que iniciaram suas atividades como corretoras e estão expandindo sua atuação para o mercado B2B de infraestrutura (Bitstamp e Bitpanda), até players que são nativos desse espaço (Moonpay e Ramp) e empresas que atuavam com infraestrutura para o mercado tradicional, como Banking-as-a-Service ou Fintech-as-a-Service, e hoje buscam explorar esse novo nicho (Nium e Drivewealth).

Assim, vemos cada vez mais pessoas ao redor do mundo encontrando formas simplificadas de ingresso no universo cripto, sendo que o primeiro contato pode acontecer diretamente junto a múltiplas marcas (não necessariamente financeiras) com as quais nos relacionamos todos os dias – como já está acontecendo no nosso país.

E no Brasil?

Por aqui, a tendência está avançando e fez até surgir um caso bem interessante. A 99Pay, empresa ligada à startup de mobilidade 99 e que é também subsidiária da gigante chinesa Didi Chuxing, anunciou em 2021 que seus clientes poderiam ter exposição ao bitcoin, de maneira isenta de taxas, pelo seu aplicativo a partir de R$10,00 (até o máximo de R$10.000,00), além de obter cashback baseado nesse mesmo ativo. Neste caso, o cliente não consegue sacar os bitcoins, apenas negociá-los dentro da plataforma. A ideia de adicionar essa solução ao ecossistema da 99Pay (que já contava com conta digital remunerada pagando 220% do CDI) é, sobretudo, fazer com que o usuário consulte o aplicativo ao menos uma vez ao dia para ver seu saldo atualizado, aumentando, assim, seu relacionamento com a marca. Por trás da operação encontra-se a Foxbit, tradicional corretora nacional que inaugurou uma área B2B para fornecer sua expertise acumulada ao longo dos anos em forma de serviços de infraestrutura para o mercado. Segundo o Co-CEO da Foxbit, João Canhada, o processo contou com forte envolvimento da Didi que, no final, transformou a experiência em um case global para o grupo.

Além da Foxbit, outras empresas também estão colocando o pé neste mercado, em uma dinâmica similar ao que vemos lá fora. Temos aqueles que já atuavam como corretoras (caso da 2TM, holding controladora do Mercado Bitcoin), os novos entrantes (como a Liqi) e os players de Banking-as-a-Service que buscam agregar novas soluções ao seu portfólio (terreno no qual encontramos a Dock).

Um crescente número de empresas já anunciou interesse em mergulhar nesse mundo, como é o caso da Méliuz (que está montado um banco digital cripto em cima da tecnologia da Acesso e do Alter Bank, fintechs adquiridas em 2021) e do Nubank (que está em conversas avançadas com parceiros para oferecer criptoativos como investimento via NuInvest). Mais companhias estão hoje avaliando essa oportunidade e, uma vez optando por seguir em frente, se tornarão potenciais clientes para os provedores de Crypto-as-a-Service que já estão atuando no país.

Próximos passos

Tudo indica que presenciaremos ao longo de 2022 (e nos próximos anos) um aumento significativo nos investimentos e operações de fusões e aquisições envolvendo fornecedores de soluções focados em preencher a lacuna entre a criptoeconomia e o mercado tradicional. Esse é um terreno no qual poucos possuem domínio real e onde a curva de aprendizagem e o desenvolvimento dentro de casa pode levar mais tempo do que é possível esperar (fortalecendo a tese na qual se faz necessário a compra de startups que atuem no setor ou a realização de parcerias).

Por fim, estamos falando sobre a infraestrutura do futuro e seus novos caminhos, que certamente devem acelerar e ganhar corpo com a evolução da Web3 e seus diferentes elementos (DeFi, NFTs, metaverso, dentre outros).

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É impressionante ver o ganho de popularidade dos criptoativos perante o grande público e sua aproximação junto ao mercado tradicional nos últimos anos. À medida que passamos a acompanhar notícias relacionadas a esse tema ganhando um destaque cada vez maior nos noticiários – e, por consequência, transcendendo os círculos mais especializados e chegando até às mesas de bares e rodas de conversas entre amigos - vimos também uma reação do mercado no sentido de proporcionar uma maior facilidade no acesso aos criptoativos, indo além das corretoras, até então a principal porta de entrada para esse mundo. Inicialmente, algumas fintechs mundo afora começaram a embarcar nessa oportunidade adicionando a possibilidade de compra e venda de bitcoin dentre o rol das soluções oferecidas aos seus clientes. Aos poucos, mais criptoativos (como o ether, por exemplo) passaram a ser também incorporados dentre as ofertas destas fintechs. Até que, recentemente, essa possibilidade se abriu para empresas de diferentes setores, ávidas por participar deste crescente mercado.

No centro desta transformação, encontramos um provedor de serviços que está ganhando cada vez mais importância nos dias de hoje, ao passo que contribui com a transição das empresas e de seus consumidores para o contexto da criptoeconomia, apresentando uma infraestrutura alternativa e mais moderna ao mercado financeiro tradicional. Trata-se dos provedores de Crypto-as-a-Service, atividade que foi, inclusive, citada em meu artigo sobre tendências para o cenário fintech em 2022, publicada aqui nesta coluna na Exame Future of Money. Este é um movimento global e que já está se manifestando rapidamente no Brasil, conforme mostrarei a seguir.

Crypto-as-a-Service ao redor do mundo

Um dos movimentos internacionais mais emblemáticos de empresas que decidiram abraçar o mundo cripto aconteceu em 2017, quando o neobank britânico Revolut começou a ofertar um serviço de compra e venda de criptoativos para seus clientes. No ano seguinte, foi a vez da fintech Robinhood (até então focada na oferta de produtos tradicionais de investimento, como ações e opções) surfar essa onda.

No final de 2020 o PayPal anunciou o lançamento de um novo serviço, permitindo que seus clientes comprem, mantenham e vendam criptoativos diretamente de sua conta na plataforma, além de possibilitar o pagamento via cripto por compras realizadas junto aos mais de 26 milhões de comerciantes que utilizam a fintech em todo mundo.

Os casos da Revolut e Paypal guardam algumas similaridades e nos levam a um fornecedor em comum – a Paxos, fintech especializada em Crypto-as-a-Service que provê a infraestrutura necessária para que essas empresas possam habilitar soluções baseadas em criptoativos para os seus próprios clientes. A lógica é parecida com o Banking-as-a-Service, contudo, esse pode ser considerado um próximo passo que possibilita embutir nas empresas uma nova geração de serviços financeiros baseados em blockchain – sendo que o ato de desbloquear a negociação de criptoativos é uma solução inicial que, consequentemente, permite a abertura de mais portas dentro desse vasto ecossistema.

A Paxos surgiu em 2012 sob o nome itBit, uma corretora de Bitcoin que no ano de 2015 recebeu do Departamento de Serviços Financeiros do Estado de Nova York sua licença de operações, o que concedeu à empresa a capacidade de ser o custodiante e realizar compra e venda para clientes nos Estados Unidos. Nos anos seguintes, a fintech se especializou no desenvolvimento de soluções reguladas baseadas em blockchain, tais como stablecoins, tokens lastreados em ouro e serviços de liquidação de negociações de ações (sendo a primeira e única autorizada pela SEC para realizar essa tarefa usando a tecnologia blockchain). Hoje, a fintech possui como clientes, além do PayPal e da Revolut, o Credit Suisse, o Societe Generale, a StoneX e, mais recentemente, o Mercado Pago (fintech do Mercado Livre que, inclusive, comprou uma participação na empresa). Desta forma, a Paxos se apresenta no mercado como a primeira plataforma de infraestrutura blockchain regulamentada, adotando uma abordagem global para modernizar o sistema financeiro.

A oportunidade existente na inserção de instituições do mercado financeiro tradicional e outras empresas no contexto da criptoeconomia é tão grande que atraiu diversos outros players para essa arena. Assim, vemos desde empresas que iniciaram suas atividades como corretoras e estão expandindo sua atuação para o mercado B2B de infraestrutura (Bitstamp e Bitpanda), até players que são nativos desse espaço (Moonpay e Ramp) e empresas que atuavam com infraestrutura para o mercado tradicional, como Banking-as-a-Service ou Fintech-as-a-Service, e hoje buscam explorar esse novo nicho (Nium e Drivewealth).

Assim, vemos cada vez mais pessoas ao redor do mundo encontrando formas simplificadas de ingresso no universo cripto, sendo que o primeiro contato pode acontecer diretamente junto a múltiplas marcas (não necessariamente financeiras) com as quais nos relacionamos todos os dias – como já está acontecendo no nosso país.

E no Brasil?

Por aqui, a tendência está avançando e fez até surgir um caso bem interessante. A 99Pay, empresa ligada à startup de mobilidade 99 e que é também subsidiária da gigante chinesa Didi Chuxing, anunciou em 2021 que seus clientes poderiam ter exposição ao bitcoin, de maneira isenta de taxas, pelo seu aplicativo a partir de R$10,00 (até o máximo de R$10.000,00), além de obter cashback baseado nesse mesmo ativo. Neste caso, o cliente não consegue sacar os bitcoins, apenas negociá-los dentro da plataforma. A ideia de adicionar essa solução ao ecossistema da 99Pay (que já contava com conta digital remunerada pagando 220% do CDI) é, sobretudo, fazer com que o usuário consulte o aplicativo ao menos uma vez ao dia para ver seu saldo atualizado, aumentando, assim, seu relacionamento com a marca. Por trás da operação encontra-se a Foxbit, tradicional corretora nacional que inaugurou uma área B2B para fornecer sua expertise acumulada ao longo dos anos em forma de serviços de infraestrutura para o mercado. Segundo o Co-CEO da Foxbit, João Canhada, o processo contou com forte envolvimento da Didi que, no final, transformou a experiência em um case global para o grupo.

Além da Foxbit, outras empresas também estão colocando o pé neste mercado, em uma dinâmica similar ao que vemos lá fora. Temos aqueles que já atuavam como corretoras (caso da 2TM, holding controladora do Mercado Bitcoin), os novos entrantes (como a Liqi) e os players de Banking-as-a-Service que buscam agregar novas soluções ao seu portfólio (terreno no qual encontramos a Dock).

Um crescente número de empresas já anunciou interesse em mergulhar nesse mundo, como é o caso da Méliuz (que está montado um banco digital cripto em cima da tecnologia da Acesso e do Alter Bank, fintechs adquiridas em 2021) e do Nubank (que está em conversas avançadas com parceiros para oferecer criptoativos como investimento via NuInvest). Mais companhias estão hoje avaliando essa oportunidade e, uma vez optando por seguir em frente, se tornarão potenciais clientes para os provedores de Crypto-as-a-Service que já estão atuando no país.

Próximos passos

Tudo indica que presenciaremos ao longo de 2022 (e nos próximos anos) um aumento significativo nos investimentos e operações de fusões e aquisições envolvendo fornecedores de soluções focados em preencher a lacuna entre a criptoeconomia e o mercado tradicional. Esse é um terreno no qual poucos possuem domínio real e onde a curva de aprendizagem e o desenvolvimento dentro de casa pode levar mais tempo do que é possível esperar (fortalecendo a tese na qual se faz necessário a compra de startups que atuem no setor ou a realização de parcerias).

Por fim, estamos falando sobre a infraestrutura do futuro e seus novos caminhos, que certamente devem acelerar e ganhar corpo com a evolução da Web3 e seus diferentes elementos (DeFi, NFTs, metaverso, dentre outros).

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