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As “green fintechs” e uma nova consciência no mercado financeiro

O surgimento de startups financeiras “verdes”, que tem tudo para crescer com o aumento das preocupações das organizações com temas ligados às premissas ESG.

(Florian Gaertner / Photothek/Getty Images)
LJ

Lucas Josa

Publicado em 25 de março de 2021 às 17h15.

Além das conhecidas preocupações com o resultado financeiro e a operação de uma empresa, executivos e investidores têm, cada vez mais, voltado sua atenção para outros aspectos dos negócios, sobretudo relacionados ao impacto de suas atividades na sociedade e no meio ambiente. Essa preocupação vem ganhando destaque e dando impulso a diferentes formas de avaliar a sustentabilidade de uma companhia por meio da análise dos elementos agrupados na sigla ESG – Environmental, Social and Governance (meio ambiente, social e governança corporativa).

Em janeiro de 2020, Larry Fink, CEO e fundador da gestora de investimentos Blackrock, enfatizou em sua tradicional carta anual o compromisso da sua empresa em investir em negócios que estejam alinhados com a agenda ESG, afirmando que a consciência do mercado está mudando muito rapidamente, o que coloca a sociedade à beira de uma mudança estrutural nas finanças, algo que nos levará a um capitalismo mais inclusivo. No mesmo ano, vimos também o fundo Bridgewater, fundado por Ray Dalio, anunciar que irá incorporar às suas estratégias de investimento modelos de seleção de ativos que estejam mais alinhados com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, que buscam erradicar a pobreza, combater tanto as desigualdades quanto as mudanças climáticas. O executivo Carsten Stendevad, que é um dos responsáveis pela iniciativa na Bridgewater, chegou a afirmar à época que “O investimento sustentável é a principal agenda estratégica da indústria” – frase essa que se mostra evidente conforme cada vez mais empresas (de diferentes setores) se movimentam para realizar esses questionamentos no seu núcleo estratégico e promovem mudanças, algumas vezes, inclusive, motivadas por cobranças de seus acionistas.

Atentos às várias demandas e desafios que esse novo contexto trará para as pessoas e empresas, alguns empreendedores têm dedicado esforços na criação de fintechs que desenvolvam soluções alinhadas com esse propósito junto aos seus consumidores (no caso de modelos de negócio B2C) ou que auxiliem empresas no atingimento das suas metas voltadas aos critérios ESG (atuando, deste modo, em um modelo B2B). Esse novo nicho de atuação está sendo chamado internacionalmente de “green fintech”, uma categoria ainda bastante nova, mas que deve crescer na esteira dessa virada de chave que estamos presenciando no mercado.

De acordo com a consultoria holandesa Dealroom, a maioria das fintechs europeias desta vertente iniciaram as atividades após 2019 e já temos alguns interessantes casos internacionais. Uma dessas empresas é a Minimum, green fintech britânica fundada em 2020 que foi investida pela prestigiada aceleradora Y-Combinator (investidora de startups como a Stripe, Brex, AirBnB, dentre outras), que busca revolucionar a maneira como as pessoas podem gerenciar e reduzir seus impactos de carbono. Isso é feito a partir da utilização do Open Banking para o monitoramento da pegada de carbono nas transações financeiras de uma pessoa (como a compra de um sanduíche, por exemplo), informação esta que serve como base para um treinamento personalizado criado pela Minimum sobre como reduzir as emissões de carbono no seu dia a dia, indo desde mudanças no comportamento até sugestões de lugares para realizar compras. Por fim, a startup ajuda a neutralizar as pegadas de carbono restantes, investindo o dinheiro dos clientes nos melhores projetos de compensação em todo o mundo.

Outro projeto que segue uma proposta parecida é o da fintech francesa Helios, recentemente investida pela aceleradora Plug & Play, que além do monitoramento da pegada de carbono por transação financeira, oferece também uma conta digital com cartão de débito atrelado (feito de madeira) ao custo de €6 mensais (sem mais nenhuma taxa escondida, garantem os fundadores). Também será possível aplicar os recursos depositados em projetos climáticos, como energia renovável ou remoção de carbono. Dezenas de empresas similares estão surgindo, como a Greenly, Cushon, Creed, Mitto, Bunq, dentre outras – representantes desta primeira onda verde.

 

O movimento ainda engatinha no Brasil

 

Por aqui, o ecossistema de green fintechs encontra-se na sua fase inicial e tem um bom potencial de crescimento, dada a distância que ainda temos que percorrer para melhor endereçarmos questões ambientais, sociais e de governança corporativa. Contudo, há alguns casos que vem ganhando destaque recentemente.

Em 2020 foi fundada a Moss.earth, uma startup que acredita que o desenvolvimento de um novo mercado de créditos de carbono é uma das formas de impulsionar a mudança do cenário de aquecimento global, estimulando pessoas e empresas a comprarem estes créditos e, por consequência, fazendo com que os maiores poluidores neutralizem suas emissões, equilibrando o planeta. Deste modo, quanto mais pessoas e empresas comprarem créditos de carbono, mais caros ficarão, mais rentáveis serão os projetos ambientais, e mais próximos estaremos do objetivo da fintech de tornar a atividade poluidora mais cara, refletindo seu verdadeiro impacto no Planeta. Para operacionalizar esse processo, a Moss.earth desenvolveu o primeiro Token de Crédito de Carbono verdadeiramente global, que oferece facilidade, transparência, escala global e segurança para a compensação das pegadas de carbono. Este token, batizado MCO2, está listado e pode ser adquirido nas corretoras nacionais Mercado Bitcoin e FlowBTC, além de estar presente na exchange internacional Uniswap.

No país destaca-se também a [BVM]12, uma plataforma que conecta empresas com impacto positivo e investidores com propósito que valorizam as premissas ESG. O projeto está sendo desenvolvido em parceria com o Banco Maré, que nasceu na comunidade da Maré no Rio de Janeiro – a sigla que dá nome à fintech vem de Bolsa de Valores da Maré e o número 12 é a quantidade de projetos que a plataforma deseja listar a princípio. A [BVM]12 utiliza a tecnologia Blockchain Corda da R3 e é uma das empresas que se inscreveu para o primeiro ciclo do sandbox regulatório da CVM. O objetivo é possibilitar que projetos de impacto tenham uma alternativa a mais para obtenção de recursos para os seus negócios, sendo que o valor de cada oferta não deve exceder a cifra de R$10 milhões.

 

Nem tudo é, de fato, verde

 

O conceito é bastante interessante, mas devido à novidade que apresenta é importante estarmos atentos para não cairmos na armadilha de confiarmos em empresas que atrelem sua proposta simplesmente a iniciativas isoladas como cartões de crédito biodegradáveis, discursos com pouco apelo prático e outras ações que se enquadram dentro do contexto de “greenwashing” – termo dado às iniciativas enganosas realizadas por algumas companhias por aparentarem seguir uma diretriz sustentável. Para evoluirmos nesse sentido, o mercado precisa desenvolver formas de solucionar a falta de confiabilidade, padronização e comparabilidade de certas informações divulgadas e classificações. Esse é um movimento natural que faz parte do amadurecimento deste nicho, ajudando separar os casos concretos de iniciativas falsas.

 

Uma nova consciência pós-pandemia

 

Somado ao contexto de evolução das práticas corporativas à luz da ESG, é possível ver também que a pandemia é um fator que acabou por nos testar enquanto uma sociedade que precisa equilibrar diferentes necessidades, medos e anseios em momentos extremos.

Na última carta de Lary Fink publicada em janeiro de 2021, essa situação foi descrita de forma ímpar: “A pandemia apresentou uma crise existencial de tal magnitude – um lembrete tão forte de nossa fragilidade – o que nos levou a confrontar a ameaça global das mudanças climáticas de maneira mais enfática e refletir como, a exemplo da pandemia, elas transformarão nossas vidas”.

Sem dúvidas estamos diante de uma grande transformação na forma de fazer negócios daqui por diante, sendo esperado que as fintechs também venham ajudar a tangibilizar cada vez mais essa visão via aplicação de formas inovadoras para resolver essas questões. E a jornada está apenas começando.

No curso "Decifrando as Criptomoedas" da EXAME Academy, Nicholas Sacchi, head de criptoativos da Exame, mergulha no universo de criptoativos, com o objetivo de desmistificar e trazer clareza sobre o funcionamento.Confira.

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Em janeiro de 2020, Larry Fink, CEO e fundador da gestora de investimentos Blackrock, enfatizou em sua tradicional carta anual o compromisso da sua empresa em investir em negócios que estejam alinhados com a agenda ESG, afirmando que a consciência do mercado está mudando muito rapidamente, o que coloca a sociedade à beira de uma mudança estrutural nas finanças, algo que nos levará a um capitalismo mais inclusivo. No mesmo ano, vimos também o fundo Bridgewater, fundado por Ray Dalio, anunciar que irá incorporar às suas estratégias de investimento modelos de seleção de ativos que estejam mais alinhados com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, que buscam erradicar a pobreza, combater tanto as desigualdades quanto as mudanças climáticas. O executivo Carsten Stendevad, que é um dos responsáveis pela iniciativa na Bridgewater, chegou a afirmar à época que “O investimento sustentável é a principal agenda estratégica da indústria” – frase essa que se mostra evidente conforme cada vez mais empresas (de diferentes setores) se movimentam para realizar esses questionamentos no seu núcleo estratégico e promovem mudanças, algumas vezes, inclusive, motivadas por cobranças de seus acionistas.

Atentos às várias demandas e desafios que esse novo contexto trará para as pessoas e empresas, alguns empreendedores têm dedicado esforços na criação de fintechs que desenvolvam soluções alinhadas com esse propósito junto aos seus consumidores (no caso de modelos de negócio B2C) ou que auxiliem empresas no atingimento das suas metas voltadas aos critérios ESG (atuando, deste modo, em um modelo B2B). Esse novo nicho de atuação está sendo chamado internacionalmente de “green fintech”, uma categoria ainda bastante nova, mas que deve crescer na esteira dessa virada de chave que estamos presenciando no mercado.

De acordo com a consultoria holandesa Dealroom, a maioria das fintechs europeias desta vertente iniciaram as atividades após 2019 e já temos alguns interessantes casos internacionais. Uma dessas empresas é a Minimum, green fintech britânica fundada em 2020 que foi investida pela prestigiada aceleradora Y-Combinator (investidora de startups como a Stripe, Brex, AirBnB, dentre outras), que busca revolucionar a maneira como as pessoas podem gerenciar e reduzir seus impactos de carbono. Isso é feito a partir da utilização do Open Banking para o monitoramento da pegada de carbono nas transações financeiras de uma pessoa (como a compra de um sanduíche, por exemplo), informação esta que serve como base para um treinamento personalizado criado pela Minimum sobre como reduzir as emissões de carbono no seu dia a dia, indo desde mudanças no comportamento até sugestões de lugares para realizar compras. Por fim, a startup ajuda a neutralizar as pegadas de carbono restantes, investindo o dinheiro dos clientes nos melhores projetos de compensação em todo o mundo.

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O movimento ainda engatinha no Brasil

 

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Em 2020 foi fundada a Moss.earth, uma startup que acredita que o desenvolvimento de um novo mercado de créditos de carbono é uma das formas de impulsionar a mudança do cenário de aquecimento global, estimulando pessoas e empresas a comprarem estes créditos e, por consequência, fazendo com que os maiores poluidores neutralizem suas emissões, equilibrando o planeta. Deste modo, quanto mais pessoas e empresas comprarem créditos de carbono, mais caros ficarão, mais rentáveis serão os projetos ambientais, e mais próximos estaremos do objetivo da fintech de tornar a atividade poluidora mais cara, refletindo seu verdadeiro impacto no Planeta. Para operacionalizar esse processo, a Moss.earth desenvolveu o primeiro Token de Crédito de Carbono verdadeiramente global, que oferece facilidade, transparência, escala global e segurança para a compensação das pegadas de carbono. Este token, batizado MCO2, está listado e pode ser adquirido nas corretoras nacionais Mercado Bitcoin e FlowBTC, além de estar presente na exchange internacional Uniswap.

No país destaca-se também a [BVM]12, uma plataforma que conecta empresas com impacto positivo e investidores com propósito que valorizam as premissas ESG. O projeto está sendo desenvolvido em parceria com o Banco Maré, que nasceu na comunidade da Maré no Rio de Janeiro – a sigla que dá nome à fintech vem de Bolsa de Valores da Maré e o número 12 é a quantidade de projetos que a plataforma deseja listar a princípio. A [BVM]12 utiliza a tecnologia Blockchain Corda da R3 e é uma das empresas que se inscreveu para o primeiro ciclo do sandbox regulatório da CVM. O objetivo é possibilitar que projetos de impacto tenham uma alternativa a mais para obtenção de recursos para os seus negócios, sendo que o valor de cada oferta não deve exceder a cifra de R$10 milhões.

 

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Somado ao contexto de evolução das práticas corporativas à luz da ESG, é possível ver também que a pandemia é um fator que acabou por nos testar enquanto uma sociedade que precisa equilibrar diferentes necessidades, medos e anseios em momentos extremos.

Na última carta de Lary Fink publicada em janeiro de 2021, essa situação foi descrita de forma ímpar: “A pandemia apresentou uma crise existencial de tal magnitude – um lembrete tão forte de nossa fragilidade – o que nos levou a confrontar a ameaça global das mudanças climáticas de maneira mais enfática e refletir como, a exemplo da pandemia, elas transformarão nossas vidas”.

Sem dúvidas estamos diante de uma grande transformação na forma de fazer negócios daqui por diante, sendo esperado que as fintechs também venham ajudar a tangibilizar cada vez mais essa visão via aplicação de formas inovadoras para resolver essas questões. E a jornada está apenas começando.

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