Colunistas

Como sair da armadilha da microprodutividade da IA generativa e conquistar resultados reais

A corrida tecnológica segue veloz, mas apenas empresas com capacidade gerencial robusta conseguirão transformar velocidade em resultado

Startup employee looking over business charts, using AI software to take data driven decisions in tech industry. IT expert developing innovative artificial intelligence solutions for company, camera B (Freepik)

Startup employee looking over business charts, using AI software to take data driven decisions in tech industry. IT expert developing innovative artificial intelligence solutions for company, camera B (Freepik)

Breno Barros
Breno Barros

CTO e VP de Soluções Digitais da Falconi

Publicado em 19 de agosto de 2025 às 20h38.

Apesar do avanço expressivo nas capacidades da inteligência artificial (IA) generativa, o impacto real no desempenho organizacional ainda está aquém do esperado. Estima-se que, mesmo com US$ 644 bilhões em investimentos previstos para 2025 segundo a empresa de pesquisa Gartner, a maioria das companhias não ultrapassou a fase de testes e pilotos sem impacto.

A lacuna entre expectativa e resultado é visível: muitas empresas seguem aplicando a tecnologia de forma superficial, sem traduzi-la em ganho estrutural de produtividade, inovação ou rentabilidade. O desafio, portanto, não é mais tecnológico, mas, sim, organizacional. Por isso, a questão central é: como transformar a IA generativa em alavancas reais de valor?

As empresas que estão conseguindo fazer isso com consistência seguem um caminho claro, baseado em quatro pilares estratégicos. O primeiro pilar é a reinvenção estrutural do negócio, abandonando abordagens isoladas. Redesenham estratégias, processos e modelos operacionais com a hiperautomação (combina IA generativa, aprendizado de máquina e automações) no centro.
Dessa forma, a tecnologia deixa de ser periférica e passa a integrar a lógica de geração de valor da organização. Quando bem implementada, permite reconfigurar operações, acelerar decisões e ampliar a competitividade de forma escalável.

O segundo é a liderança engajada e intencional. A transformação digital não deve ser delegada apenas à área de tecnologia. É necessário o envolvimento direto do C-level, que precisa estabelecer metas claras, revisando estruturas de incentivo e promovendo uma cultura de capacitação em inteligência artificial em todos os níveis da organização. Empresas que estão avançando nessa frente encaram a fluência digital como competência estratégica. Porque conectam o tema da IA à agenda de performance e crescimento.

O terceiro é o foco estratégico em áreas de alto impacto. Em vez de pulverizar recursos, organizações bem-sucedidas concentram esforços em frentes com alto potencial de escalabilidade. No varejo, isso inclui personalização de ofertas e precificação dinâmica. Na indústria, o uso de IA no controle de qualidade e na manutenção preditiva tem ganhado relevância. No setor de tecnologia, ferramentas generativas aceleram a produção de software e documentação. E na saúde, já se observam aplicações em triagem clínica e relatórios automatizados. Em todos, a escolha inteligente de onde aplicar é determinante para gerar impacto tangível.

Por fim, o quarto pilar é a construção de um modelo operacional robusto, que permita escalar essas soluções com governança, eficiência e segurança. Isso envolve três fundamentos principais: governança de dados sólida, para garantir qualidade e confiabilidade; infraestrutura tecnológica escalável, capaz de sustentar a experimentação e a implantação ágil de modelos; e organização em modelo de operação dual, com equipes capazes de manter a operação atual enquanto constroem o futuro.

Essa combinação tem se mostrado decisiva para sustentar a transformação sem comprometer a competitividade do momento enquanto se constrói vantagens futuras. Vale lembrar que, segundo projeções do próprio Gartner, até 2028 15% das decisões operacionais das empresas serão tomadas autonomamente por IA (algo inexistente no ano passado). Isso sinaliza um deslocamento claro de poder analítico e decisório para os sistemas. Mas também exige preparo organizacional profundo, em termos de dados, pessoas e processos.

A corrida tecnológica segue veloz, mas apenas empresas com capacidade gerencial robusta conseguirão transformar velocidade em resultado. A armadilha da microprodutividade continuará aprisionando empresas que tratam a IA como ferramenta de apoio pontual. O caminho para escapar dela exige visão estratégica, foco disciplinado e coragem para redesenhar a operação do negócio.

A tecnologia está pronta. A questão é: as organizações também estão?