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Impasse sobre CCJ traz à tona fraqueza do velho PMDB

Divergências na sigla de Temer sobre comissão mostram que Sarney e Renan já não tem a mesma força dentro do partido

Sarney fala sobre o código (Wilson Dias/Agência Brasil)
Sarney fala sobre o código (Wilson Dias/Agência Brasil)
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Brasília em Pauta

Publicado em 8 de fevereiro de 2017 às, 12h13.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 07h18.

Brasília - Após uma reunião longa e com diversas paralisações, a bancada do PMDB no Senado encerrou a terça-feira (7) sem definir quem será o candidato da sigla para presidir a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). O impasse para bater o martelo sobre quem deve concorrer ao comando da comissão traz à tona o enfraquecimento da influência que o “Velho PMDB” exerce sobre os parlamentares do partido.

Concluídas as conversas desta terça-feira, a senadora Marta Suplicy (PMDB-SP) abriu mão da disputa pela presidência da CCJ. Ao sair da reunião, a parlamentar afirmou ao Brasília em Pauta que concorrerá ao comando da Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado.

Os senadores Raimundo Lira (PMDB-PB) e Edison Lobão (PMDB-MA) seguem firmes com o objetivo de comandar a comissão que será responsável por sabatinar Alexandre de Moraes, que foi indicado como novo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) pelo presidente Michel Temer (PMDB). A importância da comissão não para por aí. Em setembro, passará pela comissão um possível terceiro mandato de Rodrigo Janot ou o nome de seu sucessor na Procuradoria-Geral da República.

Apoiado informalmente pelo novo presidente do Senado Eunício Oliveira (PMDB-CE), Lira enfrenta um concorrente que tem a candidatura defendida por nomes importantes do Velho PMDB. Aliado do ex-presidente José Sarney (PMDB-MA), Lobão tem o apoio não oficial do ex-presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL).

Apoiadores de Lira revelaram ao blog que há um movimento dentro da legenda peemedebista em resistência a indicação de Lobão para o comando da CCJ. Por que? Eles alegam que os aliados de Sarney já conseguiram emplacar João Alberto (PMDB-MA) na 2ª vice-presidência do Senado. Por isso, o grupo não deveria exigir que Lobão fosse conduzido à presidência da comissão.

Além disso, aliados de Lira destacam que o "candidato tem ficha limpa, o que não se pode dizer de Lobão, que é citado na Lava Jato". Lobão é um dos 47 políticos investigados no STF na Lava Jato, acusado de negociar propina de R$ 2 milhões para a campanha da ex-governadora do Maranhão Roseana Sarney em 2010. Ele nega as acusações.

De acordo com auxiliares da cúpula do PMDB, as divergências internas mostram que Renan e Sarney já não exercem a mesma influência dentro do partido. “Se eles ainda tivessem tanto poder sobre os parlamentares, não haveria essa divisão e o partido já teria definido Lobão como candidato ao comando da CCJ”.

Procurado pelo Brasília em Pauta, Renan disse que a decisão tardia sobre quem será indicado pelo PMDB para comandar a CCJ reflete o sentimento democrático que existe dentro da sigla.

“Estou fazendo as convergências e tentando aproximar as correntes. Se isso não for possível, vamos ouvir a bancada, o que será a decisão mais democrática possível”, afirmou o ex-presidente do Senado e atual líder do PMDB na Casa.

Renan descartou a possibilidade de indicar Lira e Lobão ao comando da CCJ. Para ele, a decisão precisa ser feita internamente. “Pretendemos definir isso o quanto antes. Não cogito indicar dois ou três nomes. Essa disputa precisa se esgotar na bancada e não na CCJ, porque isso representaria a falência de uma liderança que nem começou”, disse Renan, acrescentando que conversará com os líderes para que as indicações sejam feitas até 15h para que a eleição do presidente da comissão seja feita ainda nesta quarta-feira (8).

Sobre a possibilidade de o partido bater o martelo sobre a indicação ao comando da CCJ por votação na bancada, Renan avaliou que essa não é a melhor opção. “Sem dúvidas deixa sequelas. Mas quando não se consegue estabelecer um critério, que é o caso, não há outra solução se não ouvir a manifestação da bancada. O ideal seria evitar isso”.

Além disso, o ex-presidente do Senado reforçou que não tem favoritismo por Lobão. “Eu não tenho preferência, porque o líder não pode ter isso, pois teria dificuldades no encaminhamento de qualquer questão com o setor que se sentisse derrotado”, disse o peemedebista.

Ao sair do encontro, Marta disse acreditar que a decisão ocorrerá apenas após a manifestação pessoal dos senadores peemedebistas. A parlamentar afirmou ainda que Renan não está intercedendo pela indicação de Lobão. “O líder está bem quieto. Está deixando a bancada decidir”.

Lobão também aposta que a decisão será feita no voto. Segundo o senador maranhense, “a decisão que for tomada terá que ser respeitada por todos para não abalar a unidade do partido e o prestígio do líder Renan”.

Lira, por sua vez, disse que não aceitará ser “atropelado” por uma eventual influência dos aliados de Lobão e que pretende gastar todas as possibilidade. De acordo com ele, abrir mão da candidatura está fora de questão.