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Com PDV, Correios contratam a peso de ouro; presidente nega

Funcionários de carreira afirmam que indicações políticas tem sido atendidas mesmo durante fase de reestruturação

Funcionário dos Correios cruza os braços durante uma manifestação de greve (Agência Brasil/Agência Brasil)
Funcionário dos Correios cruza os braços durante uma manifestação de greve (Agência Brasil/Agência Brasil)
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Brasília em Pauta

Publicado em 6 de janeiro de 2017 às, 16h22.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 07h19.

Brasília – Com rombo de cerca de R$ 2 bilhões em 2016, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos aposta em um programa de demissões voluntárias (PDV) - já autorizado pelo Ministério do Planejamento - para  melhorar seus números. Funcionários de carreira da empresa, porém, afirmam que “contratações a peso de ouro” têm sido feitas nos últimos meses.

Ao Brasília em Pauta, fontes destacaram a nomeação de uma assessora especial para o gabinete da Presidência dos Correios. A nova funcionária foi contratada para a função de analista 13 - o cargo mais bem remunerado entre os analistas da empresa - com salário de quase R$ 20 mil. De acordo com as fontes, a funcionária é casada com um dos assessores do senador Sérgio Petecão (PSD-AC). O presidente dos Correios, Guilherme Campos, também é do PSD.

Também foram citados outros casos de assessores especiais das vice-presidências dos Correios, que foram nomeados recentemente e possuem remuneração elevada.

O que vem irritando os funcionários de carreira da empresa? As contratações mais recentes não condizem com o plano de reestruturação da companhia. Além do PDV, a estatal está reduzindo funções, ou seja, rebaixando funcionários de funções com o objetivo de reduzir gastos. Além disso, a companhia também está deixando de conceder gratificações, usando a mesma justificativa.

Pediram para o Jurídico fazer um estudo se podem demitir os aposentados sob a alegação de que a empresa está com um déficit muito elevado”, afirmou uma fonte ao Brasília em Pauta. “De que adianta cortar gastos de um lado, e contratar cabides com salários altíssimos de outro?”, questionou.

Outra reclamação dos funcionários dos Correios foi a contratação da consultoria Accenture para estabelecer um plano de reestruturação eficiente. Os serviços custarão aos Correios quase R$ 29 milhões.

Os técnicos que já fazem parte da empresa ficaram à disposição para fazer essa consultoria para enxugar gastos. A presidência não aceitou, disse uma fonte do setor jurídico da estatal.

Em reunião com Campos, os funcionários de carreira propuseram que houvesse isonomia nos cortes salariais. Para eles, “o justo seria que houvesse um acordo para que cada funcionário desse sua cota de sacrifício. A direção executiva da estatal não aceitou a proposta.

Ao blog, os funcionários de carreira não descartam uma paralisação nas próximas semanas e disseram que estudam solicitar uma reunião com o presidente Michel Temer (PMDB).

Outro lado

O presidente dos Correios, Guilherme Campos, afirmou ao Brasília em Pauta que as contratações feitas recentemente ocorreram “porque os cargos estavam abertos para ocupação”. O programa de corte das funções gratificadas dos Correios não inclui cortes nas funções dos chefes de departamento e gerentes, que possuem altos salários

De acordo com Campos, a contratação da Accenture tem como objetivo “arrumar o quadro da empresa,que está completamente desconfigurado”.

Ele explicou por que recusou a oferta dos funcionários de carreira de fazerem a reestruturação internamente. “Se os nomes técnicos da empresa tivessem capacidade, a empresa não estaria desde 2005 com prejuízo operacional”.

Segundo o presidente dos Correios, a proposta de isonomia nos cortes salariais não foi aceita, porque ele considera incorreto colocar “quem produz e quem não produz no mesmo balaio”. Campos disse que os gestores de cada área ficaram responsáveis por definir quem sofreria cortes de acordo com a produtividade.

Procurado pelo blog, o senador Sérgio Petecão não respondeu até a publicação da matéria.