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Política e economia no segundo semestre

Mesmo com o desafio trazido pela chegada da variante indiana ao país, os sinais são de que 2021 será muito melhor do que 2020

Trabalhadora costura bandeira do Brasil.  (Dado Galdieri/Bloomberg)
Trabalhadora costura bandeira do Brasil. (Dado Galdieri/Bloomberg)
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Brasília Estratégica

Publicado em 31 de maio de 2021 às, 09h03.

Murillo de Aragão

O segundo semestre de 2021 promete emoções na economia. As expectativas de crescimento ultrapassam 3% do PIB. E o governo está mais otimista ainda: acredita que o PIB pode ultrapassar 3,5%. As expectativas são embaladas pelo boom das commodities, a venda de insumos e de veículos e o aquecimento do setor de serviços. A arrecadação fiscal recorde em abril também é um indício consistente de retomada.

No agronegócio, espera-se novo recorde na produção de grãos: segundo estimativas, o crescimento pode ser de mais de 4% em relação à safra de 2020. Os destaques são a soja e o trigo, mas as exportações de proteína animal e de minério também ajudam a aquecer a economia.

Partindo de uma base deprimida em 2020, um crescimento expressivo já era esperado, porém tal crescimento pode se apresentar melhor do que a encomenda. E o que pode fazer a diferença para melhor é a vacinação em massa contra a covid-19, o que deve ocorrer a partir de julho. Com ela, um “novo normal” começará a surgir. Atividades antes contidas serão revitalizadas. Caso do turismo, por exemplo.

No entanto, há desafios pela frente que podem trazer repercussões negativas sobre a retomada. Na semana passada, o Maranhão confirmou os primeiros casos da variante indiana do novo coronavírus no país. O governo federal, tentando evitar uma eventual transmissão comunitária dessa nova cepa, enviou 600 testes para o estado.

Outros estados também buscam se preparar para essa nova variante instituindo barreiras sanitárias. Haverá uma terceira onda de pandemia no Brasil? Ainda não sabemos. Se houver, as projeções otimistas de expansão do PIB em torno de 3% podem ser revisadas, já que novas medidas restritivas serão necessárias.

Mesmo com o desafio trazido pela chegada da variante indiana ao país, os sinais são de que 2021 será muito melhor do que 2020. E, politicamente, qual a repercussão de um cenário econômico positivo?

Em primeiro lugar, é importante saber qual será a sensação térmica da economia no fim deste ano. Não basta haver crescimento econômico. O ambiente de retomada tem de ser sentido pelo cidadão no emprego e no consumo. Em segundo lugar, temos a questão da inflação. Como ela será percebida pelo consumidor? A inflação alta afeta, em especial, o consumidor de baixa renda.

E o que o governo pensa fazer para assegurar uma boa sensação térmica? Sabendo do risco de a inflação corroer as boas expectativas, o governo já prepara um novo auxílio emergencial para irrigar o consumo e a satisfação do consumidor.

As repercussões políticas poderão ser muito favoráveis para o governo, que enfrenta desafios de popularidade com vistas às eleições presidenciais de 2022. Nesse sentido, o risco para o mercado é de que o ímpeto reformista no segundo semestre possa arrefecer, o que criaria um ambiente de “mixed feelings”: a economia cresce mas as reformas nem tanto.

O ideal dos mundos é que, pelo menos, se aprove a MP da Eletrobras definitivamente nas próximas semanas, se avance com a reforma administrativa na Câmara e se aprofunde o debate em torno da reforma tributária.

O mercado deve estar atento ao fato de que as eleições crescentemente ganham relevância no mundo político. E, como é perceptível pelo tom do presidente Jair Bolsonaro, a pré-campanha já está em curso.

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