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Odebrecht e o fim de uma marca

A Odebrecht e a Petrobrás estão envolvidas em processos de corrupção. Mas quais as diferenças que explicam a recuperação de uma, e a derrocada da outra?

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Branding, Consumo e Negócios

Publicado em 26 de janeiro de 2017 às, 12h16.

Última atualização em 26 de janeiro de 2017 às, 12h18.

Nas últimas semanas foram divulgadas inúmeras listas das marcas mais comentadas na internet em 2016. Em todas essas listas, senti falta de uma: a Odebrecht. Talvez nenhuma outra marca brasileira tenha sido tão comentada, discutida e noticiada quanto a dessa empresa.  E essa exposição não está acontecendo só no Brasil. Outros países da América Latina, como Panamá, Peru e Equador, já passam a investigar os contratos da companhia. A empresa também já era alvo de investigações na Suíça, Portugal e Itália, entre outros países.

Após assinar o acordo com a Justiça Brasileira, a Odebrecht tentou pedir desculpas ao povo brasileiro com poucos anúncios com o título “Desculpe, a Odebrecht errou”. Funcionou? Certamente não.

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Anúncio de página dupla da Odebrecht, com seu pedido de desculpas

Ainda que os anúncios possam ter tido algum efeito nos colaboradores da empresa, é improvável que qualquer outro stakeholder tenha se sentido sensibilizado por ele. Não há campanha que consiga reverter milhares de reportagens colocando a empresa no centro de um esquema de corrupção.

A marca caminha para o fracasso inevitável, pois ela perdeu aquilo que é mais valorizado no mercado em que atua: a sua reputação.

Situação similar foi vista no longínquo ano 2001 com a Arthur Andersen, na esteira da falência da Enron, gigante americana de energia. A Arthur Andersen, na época, era conhecida globalmente e fazia parte das “Big Fives” – as 5 grandes empresas globais de auditoria financeira junto com a PWC, a Ernst & Young, a Deloitte e a KPMG. A Arthur Andersen foi fundada em 1913 e sempre teve uma reputação ilibada. Ao participar da fraude contábil que levou à falência da Enron, a empresa perdeu por completo a sua credibilidade. Ainda que inocentada no final do processo, o dano à reputação da marca já havia sido feito. A empresa deixou de operar em auditoria, e a sua parte de consultoria adotou o nome de Accenture.

Destino diferente teve a Petrobras. Por que ela conseguiu aparentemente começar a reverter o dano feito à sua imagem?

A verdade é que a Odebrecht e a Petrobras só são similares no seu envolvimento com corrupção. A gestão, governança e a própria dinâmica do segmento em que atuam são muito diferentes.

A Petrobrás, composta de um núcleo indicado por políticos, e um grupo de funcionários de carreira, preservou parte da empresa intacta. Ao se trocar o núcleo político envolvido na corrupção, a marca conseguiu um capital de perdão. Ela também tem uma força de marca maior do que a Odebrecht, mas essa possibilidade de expurgo da “parte danificada” se provou essencial para que ela pudesse se manter com uma imagem positiva com a população.

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Campanha “Somos Petrobrás”, feito pelos colaboradores de carreira da Petrobrás durante o início do processo do Petrolão

Mas a Odebrecht não tem essa prerrogativa. Ela é uma empresa privada, comandada por executivos escolhidos pelos acionistas, e que só possui o tamanho que tem em função das obras públicas das quais participou. Teve um grande crescimento em função desses contratos e inclusive parte do seu esforço de internacionalização foi feito “em parceria” com o mesmo grupo político que está envolvido nos escândalos. Há ainda outro problema: o nome da empresa se confunde com o nome da família de seus acionistas.

Ter o seu principal executivo preso já é extremamente danoso. Mas o fato dele levar no sobrenome a marca da empresa piora ainda mais a situação. Sem conseguir se separar do nome da família, é impossível escapar da espiral que irá consumir toda a credibilidade da empresa. O nome se tornou tóxico e irá prejudicar todos os que estão ao redor dele. Quem fecharia um contrato hoje com a Odebrecht?

Mas o que fazer então daqui para a frente, já que simplesmente fechar as portas não é uma opção? Esse parece ser um dos pouquíssimos casos que a marca se torna tão danificada, e que a possiblidade de resgata-la é tão remota, que se recomenda a troca do nome da empresa.

Ainda que esse procedimento pareça infantil, afinal, não é trocando a fachada que se muda a gestão, ele pode funcionar. O novo nome irá naturalmente se distanciar do nome Odebrecht. Enquanto isso, o nome Odebrecht estará para sempre marcado na história brasileira.

Acompanhar o caso continua sendo essencial. Afinal, estamos vivenciando a derrocada de uma marca grande, forte, e que chegou a representar orgulho para o país por ser uma empresa nacional de grande sucesso dentro e fora do Brasil.