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As oportunidades com a transformação do setor financeiro

A combinação das novas regulações e tecnologias criaram oportunidades para empreendedores participarem da transformação da indústria financeira

Oportunidade: A infraestrutura na nuvem e o avanço dos microsserviços permitiram a ‘quebra’ de sistemas monolíticos em conjuntos menores (Getty Images/Getty Images)
Oportunidade: A infraestrutura na nuvem e o avanço dos microsserviços permitiram a ‘quebra’ de sistemas monolíticos em conjuntos menores (Getty Images/Getty Images)

Ao longo dos últimos anos, o setor financeiro brasileiro vem passando por grandes mudanças que trazem diversas oportunidades para empreendedores. Depois de uma forte onda de consolidação nos anos seguintes ao Plano Real (1994-2007), o setor se encontrava extremamente concentrado e com um dos maiores spreads do mundo. Visando estimular a competição, o Banco Central iniciou uma agenda de inovação transformacional para toda a indústria.

Entre as mudanças de maior impacto, em 2013, o BACEN criou a figura da IP (Instituição de Pagamento), permitindo o surgimento de centenas de contas e carteiras digitais de forma segura, dado que o dinheiro dos clientes só poderia ser aplicado em Títulos Públicos. Cinco anos depois, vieram as SCDs (Sociedade Direta de Crédito) e SEPs (Sociedade de Crédito entre Pessoas) para regular fintechs que fazem empréstimos com recursos próprios ou diretamente entre pessoas, respectivamente.

E não parou por aí. Depois da criação destas novas figuras do Sistema Financeiro, vieram novos 'rails' de pagamentos e dados. Em outubro de 2020, foi lançado o PIX, que ganhou tração impressionante, substituindo rapidamente a TED e dividindo cada vez mais o espaço com os pagamentos em dinheiro, cartões e boletos. Também em 2020, foram definidas as regras iniciais do Open Banking no Brasil, que começou a ser implementado no ano seguinte.

Em paralelo à agenda regulatória, na parte da tecnologia, novas soluções permitiram a reconstrução dos sistemas de um jeito totalmente diferente. A infraestrutura na nuvem e o avanço dos microsserviços permitiram a ‘quebra’ de sistemas monolíticos em conjuntos menores, que podem ser construídos com muito mais independência e velocidade. E ainda, as APIs (Application Programming Interface) tornaram possíveis integrações entre diferentes sistemas de forma rápida e padronizada.

A combinação das novas regulações e tecnologias criaram uma oportunidade única para empreendedores participarem da transformação da indústria financeira de diversas formas. A grande pergunta que fazemos para identificar as maiores oportunidades é: para onde vai o setor financeiro depois desta revolução?

Aqui na Celcoin, apostamos em duas fortes tendências. A primeira é a desconcentração gradativa do setor através da entrada de novos players. Estamos acompanhando ano após ano o nascimento de mais iniciativas financeiras, que vem ocorrendo no ‘mar aberto’ (geralmente começando 'nichadas') ou dentro de ecossistemas próprios fechados. São contas e carteiras digitais voltadas para jovens, MEIs, entregadores, produtores rurais, advogados, condomínios, entre outros.

No grupo de fintechs criadas em ecossistemas fechados, apoiamos marketplaces na construção de seus próprios “Mercado Pago”, redes de maquininhas oferecendo contas para seus lojistas, carteiras digitais em ambientes fechados de concessionárias, clínicas, empresas de logística, construtoras, e por aí vai. Todos têm uma necessidade em comum: uma infraestrutura financeira que possa combinar tecnologia, conexões com diversas entidades e sistemas do Banco Central, e as licenças regulatórias necessárias para viabilizar seus projetos.

Vale lembrar que temos ainda os casos de empresas que podem originar e conceder crédito para sua própria base de clientes por meio da nossa infraestrutura de “lending as a service”. Com isso, elas não precisam se preocupar com a bancarização e o controle dos empréstimos, nem com as licenças necessárias para operar.

A segunda tendência que observamos é uma nova forma de consumir serviços financeiros, de uma maneira cada vez mais ‘embedada’ em plataformas ou sistemas. Se, antes, uma empresa exportava um arquivo de pagamentos do seu ERP e depois importava no Internet Banking, hoje tudo é feito dentro do próprio sistema de gestão. Aqui, a necessidade dos ERPs, sistemas de gestão e várias outras aplicações é de uma camada de ‘Embedded Payments’, entre outros serviços, que possa ser integrada de forma simples e que transforme sua solução na ferramenta principal de gestão financeira dos clientes. Acreditamos tanto na força dessa mudança, que investimos na integração das nossas APIs de pagamentos, PIX e consulta de extratos e dados em mais de 80 softwares de gestão.

O que vem sendo mais gratificante nesta jornada é ver a criatividade de centenas de empreendedores ao utilizar nossa infraestrutura na construção de novas startups, seja para democratizar o acesso a serviços, promover inclusão financeira, monetizar e fidelizar seus clientes, ou para criar aplicações disruptivas e inovadoras.

Em 2002, a Amazon decidiu abrir pela primeira vez as APIs de seu site Amazon.com para desenvolvedores. No lançamento, anunciaram o desafio: "let them surprise us" (ainda no mesmo ano seria criada a divisão da AWS). Isso é exatamente o que estamos vendo na indústria financeira! E, a cada iniciativa nova, uma transação financeira que ocorria dentro de um Banco tradicional passa a ser feita em um novo entrante ou em um ecossistema fechado.

Todas essas novas iniciativas e startups vão dar certo? Os desafios de empreender certamente não são poucos. Conquistar o mercado, conseguir tração, escala, time e funding, especialmente no momento atual, são sempre grandes desafios. Mas, se depender de infraestrutura e tecnologia, continuaremos fazendo de tudo para apoiar e transformar cada projeto em um grande sucesso.

*Marcelo é CEO e fundador da Celcoin, fintech potencializada e investida pelo boostLAB. A startup possui solução de BaaS e infraestrutura de serviços financeiros, que atende mais de 3.000 Bancos, fintechs e empresas. Teve passagens pelo grupo Bozano Simonsen, participando da privatização do Banco Meridional e do lançamento da corretora InvestShop. Também atuou como CTO do Lemon Bank, primeiro Banco brasileiro focado em correspondentes bancários. Formado em Tecnologia pela PUC-RJ, possui MBA em Finanças pela IBMEC-RJ e Doutorado em Inteligência Artificial pela PUC-RJ.