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Exame recebe convidados e discute racismo na sociedade e no jornalismo

Promover a equidade racial no trabalho e nas notícias gera ganhos para todos, apontam Paulo Rogério Nunes e David Wilson, fundadores da AFAR Ventures

Paulo Rogério Nunes e David Wilson falaram de equidade racial para os colaboradores de Exame (//Divulgação)
Paulo Rogério Nunes e David Wilson falaram de equidade racial para os colaboradores de Exame (//Divulgação)
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Blog da Exame

Publicado em 12 de junho de 2020 às, 14h58.

Última atualização em 12 de junho de 2020 às, 15h27.

Para debater racismo na sociedade e no jornalismo, com a intenção de criar maior equidade étnico-racial em diferentes setores, Exame recebeu virtualmente nesta sexa-feira Paulo Rogério Nunes, co-fundador da aceleradora Vale do Dendê, e David Wilson, co-fundador do The Grio -- juntos eles fundaram também a AFAR Ventures.

Nunes iniciou a conversa falando sobre como a sociedade está acostumada a ver pessoas negras em filmes e na música, mas ignora empreendedores como os da Soweto Gold, cervejaria sul-africana comprada pela Heineken em 2017. Pensando nisso, ele escreveu algumas histórias de empreendedores negros no livro Oportunidades Invisíveis.

Juntos, os empreendedores têm criado oportunidades para pessoas negras em diferentes segmentos, um deles é o festival de arte AfroPunk, que estava previsto para acontecer na Bahia com um público de 40.000 pessoas, mas adiado por conta da covid-19.

Racismo

Para Nunes, os negros precisam ser visto com a devida importância social e econômica. Pretos e pardos formam 56% da população brasileira, movimentam 1,7 trilhão de reais por ano, mas ainda são majoritariamente sub-representados. "A falta de inclusão, nesse caso, é como se fosse uma Ferrari usando apenas duas rodas. Não chega a lugar nenhum porque ignora peças importantes para rodar", diz.

Desde que George Floyd, um homem negro foi assassinado por um policial branco em Minneapolis, nos Estados Unidos, protestos que começaram a exigir equidade racial e empresas como Nike, Adidas, P&G e Netflix se posicionaram a favor das manifestações.

"Eu nunca vi protestos como esses. As empresas estão respondendo aos manifestantes, pessoas brancas foram para as ruas, e estou encorajado a acreditar que é uma importante maneira de quebrar o status quo", diz Wilson. "Infelizmente, porém, ainda não há a mesma força no Brasil, inclusive em relação ao posicionamento das companhias. Algumas delas até parecem empresas totalmente diferentes quando se olha para os Estados Unidos e para cá".

Os empreendedores pontuaram também a importância de que pessoas brancas sejam a favor das manifestações de equidade racial, especialmente de forma ativa, mesmo quando algo pareça incomodar. "É desconfortável falar sobre racismo, mas pessoas brancas precisam reforçar o que as negras falam, mas não são escutadas", afirma Wilson.

Jornalismo e mídia

Historicamente as narrativas construídas sem diversidade étnico-racial não ajudam a promover  importantes mudanças sociais e privilegiam determinados grupos, como apontam os palestrantes no papo de Exame.

Para eles, é preciso diversificar as redações e as empresas de mídia em geral, mas também as fontes. É necessário que o jornalismo retrate a sociedade, que no Brasil não é de maioria branca, apesar de ser a população branca que muitas tem a voz.

Sendo apenas 4% dos cargos executivos ocupados por negros no país, Nunes acredita que a imprensa tem também a necessidade de cobrar as empresas para entender o quão promovida a diversidade está de fato. Além de contar histórias que mostrem também funcionários de outros cargos e, assim como ele, empreendedores.

Com experiência como parceirod de conteúdo na CNN nos Estados Unidos, Wilson acredita que uma narrativa igualitária no jornalismo é uma ferramenta para cessar a opressão de diferentes grupos que são minorizados. "Mostrar histórias diversas é bom para toda a sociedade. Isso cria oportunidades e acelera a economia. E, quando os negros estão livres toda a população está, não há perdas", diz.