PMEs podem obter vantagens consideráveis com o uso de IA (Keeproll/Getty Images)
Publicado em 30 de julho de 2025 às 18h32.
Por Wilson Victorio Rodrigues*
O Conselho Nacional de Educação (CNE) prepara um conjunto de diretrizes para o uso de Inteligência Artificial (IA) na formação de professores. A proposta, que deve ser votada ainda neste ano, mira diretamente os cursos de Pedagogia e Licenciaturas, e busca incorporar, de forma obrigatória, conteúdos sobre o uso crítico, ético e pedagógico dessas tecnologias emergentes.
A iniciativa é inédita no Brasil e vem em boa hora. A educação pública e privada já está imersa em um cotidiano tecnológico acelerado — e os professores, muitas vezes, estão sendo deixados sozinhos nesse novo território.
Enquanto alunos usam IA para redigir textos e resolver exercícios, professores recorrem a ferramentas para planejar aulas e automatizar tarefas. Mas, ao mesmo tempo, a formação docente segue defasada: raras são as universidades que oferecem disciplinas específicas sobre IA ou que abordam temas como vieses algorítmicos, ética digital ou segurança de dados educacionais.
O movimento do CNE representa mais do que uma atualização curricular — é o reconhecimento de que o papel do professor no século XXI depende também de sua capacidade de compreender e mediar o impacto das tecnologias em sala de aula.
Não se trata de rejeição automática, ou mesmo, excessos de tecnicismo. Trata-se de equilíbrio.
A inteligência artificial, por si só, não é uma inimiga da educação — mas também não é uma aliada incondicional. Pode ampliar horizontes e personalizar o ensino, mas também pode gerar dependência intelectual, desinformação e exclusão, se usada de forma irrefletida.
Por isso, a formação de professores deve ir além do uso instrumental das ferramentas. É preciso formar profissionais capazes de avaliar criticamente o conteúdo gerado por IA, reconhecer suas limitações, evitar seus vieses e, principalmente, preservar a função social e humana da educação: ensinar a pensar.
O Brasil já chega atrasado nesse debate. Em países como Canadá, Coreia do Sul e Reino Unido, a discussão sobre IA nas escolas é pública, estruturada e vem acompanhada de investimentos. Aqui, o que se vê ainda é hesitação, improviso e um mercado que se antecipa ao Estado — muitas vezes, sem critérios claros.
A proposta do CNE não resolve todos os problemas, mas inaugura um caminho. Ao colocar a IA na pauta da formação docente, o Conselho indica que não basta apenas combater os excessos do uso tecnológico nas escolas — é preciso formar professores aptos a guiá-lo.
Se a escola não souber lidar com a inteligência artificial, alguém — ou algo — o fará no lugar dela. E não necessariamente em favor da educação.
No comércio, a Inteligência Artificial tem revolucionado desde a experiência do consumidor até a gestão de estoques. Ferramentas baseadas em IA já são amplamente utilizadas para prever padrões de compra, personalizar ofertas em tempo real, automatizar atendimentos por meio de chatbots e otimizar processos logísticos. Grandes redes varejistas usam algoritmos para definir preços dinâmicos, sugerir produtos com base no comportamento de navegação e até detectar fraudes em transações digitais. Para pequenos empreendedores, plataformas acessíveis com recursos de IA estão permitindo uma atuação mais estratégica, com análises de dados que antes exigiam estruturas complexas. Trata-se de uma transformação silenciosa, mas profunda, que está mudando a forma como se vende — e como se consome. Mas, também, como se ensina - e a Faculdade do Comércio da Associação Comercial de São Paulo já incorporou essa disciplina para contribuir, diretamente, com a evolução que já está em curso no Brasil.
*Wilson Victorio Rodrigues é membro do Conselho Estadual de Educação de São Paulo e diretor-geral da Faculdade do Comércio