Live Commerce: será que essa moda pega?
O modelo de divulgação se popularizou na China e já é um dos principais canais de venda do varejo no país
Publicado em 23 de fevereiro de 2022 às, 14h41.
Última atualização em 23 de fevereiro de 2022 às, 18h25.
Por Bernardo Carneiro
A live commerce se popularizou na China e já é um dos principais canais de venda do varejo. Neste modelo de divulgação, uma pessoa (ou marca) faz uma transmissão ao vivo na qual apresenta e testa os produtos que podem ser comprados em tempo real. Somente em 2020, a venda por streaming rendeu mais de US$ 200 bilhões no país asiático e, segundo os estudos da consultoria iResearch, cerca de 1,3 milhão de chineses declaram ter como profissão a venda de produtos através dessas lives. No Brasil, a modalidade ainda engatinha, mas a tendência é que ganhe cada vez mais adeptos.
No ambiente virtual, a proposta da live commerce é proporcionar uma experiência diversificada de venda, pois integra mídia, conteúdo, entretenimento e compra. Isso não só agrega valor ao item, como gera uma experiência bem mais completa e prazerosa do que só permitir as compras no site ou a aquisição de produtos diretamente através de um aplicativo.
Para criar uma live commerce de qualidade é preciso ter um bom conteúdo e oferecer diversão com inclusão, empatia e uma pitada de humor. Estabelecer intimidade com o espectador é o primeiro passo para transformar o momento ao vivo em um entretenimento e gerar engajamento. Como? Uma rede de supermercados pode ensinar a fazer receitas, disponibilizar os ingredientes de acordo com o número de pessoas diretamente no seu carrinho de compras e quem sabe entregar na sua casa em 15 minutos. Já uma loja de vinhos pode mostrar como harmonizar a bebida com a sua receita para o jantar.
Dentre as tantas funcionalidades, a live commerce se diferencia por não parecer um comercial, como os que vemos com frequência nos canais da TV a cabo, que tem um cenário, trilha sonora e roteiro pré-estabelecido. A ideia da live é que seja espontânea, interativa e transparente, aproximando o consumidor do apresentador e que cada live se torne de fato uma experiência nova e enriquecedora. Este modelo de venda começa a se disseminar no Brasil e deve impulsionar as vendas online.
E novos negócios vêm surgindo no embalo da novidade. A Alive, por exemplo, criou uma plataforma para fazer lives. Além da transmissão dos vídeos, a solução oferece às marcas o banco de dados das vendas e dos clientes que realizaram compras durante o evento. Soluções como essa de live commerce, tem se mostrado um forte canal com conversões que podem chegar a 10x mais do que o e-commerce tradicional, segundo pesquisa da McKinsey.
Entre os varejistas, a Dafiti, o maior marketplace de moda da América Latina, aderiu às lives e viu suas vendas crescerem mais de 72% em 2021 e o engajamento do público crescer 90%, segundo reportagem publicada na Exame. O Grupo Soma decidiu ousar lançando uma coleção de alto inverno da marca Farm, sendo a primeira coleção 100% Digital. Obtiveram recorde de vendas com R$3,4MM e uma conversão de 17% em uma live interativa, ao todo venderam R$9,6MM no 2T21 no canal live commerce. Para isso, criaram a própria plataforma chamada Lojix, que já disponibilizava na tela um chat ao vivo, uma aba de ajuda, lista de produtos e uma de mochila, equivalente ao carrinho de compras. Todas as funcionalidades podiam ser acionadas sem precisar parar de assistir ao programa.
A marca de chocolates Dengo criou uma loja online e ao vivo. Nela o cliente pode tirar dúvidas com o vendedor e escolher mercadorias em tempo real, que depois serão entregues em seu endereço. A intenção é proporcionar ao cliente uma experiência de compra semelhante àquela que acontece em uma unidade física.
Gigantes do setor, Mercado Livre e a Americanas optaram por criar uma plataforma própria para isso, chamada Mercado Livre Live e Americanas ao Vivo, ambas com transmissões integradas ao marketplace da companhia. Conversando com os responsáveis pelo serviço e outras pessoas do meio, soube que as lives ainda têm pouca visualização, mas a taxa de conversão se mostra bem acima da média do e-commerce. Ou seja, das pessoas que assistem, uma parte relevante delas compra algum produto da live.
A live commerce no Brasil não deve alcançar as mesmas proporções que na China, devido às diferenças do mercado consumidor e cultura. Mesmo assim, penso que essa ferramenta não será só um modismo. Suas qualidades deverão ajudá-la a se estabelecer como um canal de vendas complementar dos negócios. Mas tem um, porém: a chance de o espectador sair da sua live para acessar o site para fazer a compra é baixa. Por isso, os varejistas precisam correr atrás de soluções que tornem as lives eficientes e práticas para o consumidor - quanto menor o número de cliques para fechar o carrinho, melhor para o negócio.