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Seu chefe gosta de você? Um dilema que atormenta carreiras e o que fazer a respeito

Mais de 57% dos profissionais declaram ter pouca ou nenhuma confiança de que seus gestores apoiam genuinamente seu desenvolvimento

Portrait of busy partners working together in office. Group of businessmen and businesswomen sitting in a board room while leadership talking to them. Business partners discussing documents. (Foto/Thinkstock)

Portrait of busy partners working together in office. Group of businessmen and businesswomen sitting in a board room while leadership talking to them. Business partners discussing documents. (Foto/Thinkstock)

Adriano Lima
Adriano Lima

Autor do livro "Você em Ação"

Publicado em 11 de julho de 2025 às 18h19.

“Seu chefe gosta de você?”. A simples pergunta, que publiquei recentemente nas minhas redes, explodiu em visualizações, comentários e compartilhamentos. O tema mexe com o emocional das pessoas porque, no fundo, revela uma ferida aberta no ambiente corporativo: a incerteza sobre onde estamos pisando e quem está, de fato, torcendo (ou não) pelo nosso sucesso.

Não é exagero dizer que grande parte da frustração profissional nasce nesse ponto cego. De acordo com pesquisa da DDI (Global Leadership Forecast 2023), mais de 57% dos profissionais declaram ter pouca ou nenhuma confiança de que seus gestores apoiam genuinamente seu desenvolvimento. O número é alarmante e ajuda a explicar por que tanta gente se sente estagnada ou injustiçada na carreira.

E há outra ponta do problema: segundo a Gallup, apenas 21% dos líderes se dizem “muito confiantes” em dar feedbacks difíceis ou lidar com conversas delicadas, como dizer a um colaborador que ele não está indo bem ou mesmo reconhecer, honestamente, que há falta de química interpessoal. Resultado? A maioria deixa a relação correr solta, cheia de ruídos, simpatias ou antipatias veladas.

O perigo de não saber se seu chefe gosta de você

No Brasil, ainda carregamos muito da cultura de “gostar” ou “não gostar” como fator decisivo em quem recebe oportunidades, promoções ou projetos importantes. Não deveria ser assim mas, na prática, muitas portas se abrem (ou se fecham) por afinidade pessoal.

Isso não significa que seja sempre algo injusto ou antiético. É humano querer trabalhar ao lado de quem gera confiança, entrega resultados e se conecta com nossos valores. O problema é quando o critério vira puramente simpatia, e não performance ou comportamento alinhado à cultura da empresa.

Ninguém precisa virar melhor amigo do chefe. Mas, se o seu gestor não gosta de você, as chances de crescer na carreira diminuem drasticamente. É cruel, mas é fato: chefes tendem a investir tempo, energia e oportunidades em quem apreciam ou, pelo menos, em quem respeitam e percebem como parceiro confiável.

Como fazer seu chefe gostar (ou, ao menos, respeitar) você

A boa notícia é que existem atitudes concretas que aumentam as chances de construir uma relação saudável com seu gestor, mesmo sem afinidade pessoal extraordinária:

Entregue resultados consistentes. Nada conquista confiança mais rápido do que cumprir o combinado e, sempre que possível, superar expectativas.

Tenha postura de dono. Encare os problemas da empresa como se fossem seus. Chefe adora quem resolve, não quem transfere problemas.

Adapte sua comunicação. Preste atenção no estilo do seu chefe: ele prefere relatórios longos ou conversas rápidas? Gosta de detalhes ou só de resumo? Moldar seu jeito de interagir demonstra inteligência emocional.

Alinhe-se à cultura. Empresas possuem valores explícitos (e implícitos). Gente desalinhada, mesmo competente, tende a gerar atrito. Descubra o “jeitão” da casa e jogue junto.

Peça feedback regularmente. Não espere avaliação anual. Pergunte o que pode melhorar. Mostra maturidade e disposição para evoluir.

E se ele não gostar mesmo assim?

Nem sempre vai funcionar. Pode haver questões de antipatia pessoal, diferenças de valores ou simplesmente incompatibilidade de estilo. Se, mesmo entregando resultados e se comportando de forma alinhada, o seu chefe não gosta de você, é sinal de alerta.

Nesses casos, há basicamente três caminhos:

Tentar realocar-se internamente, buscando um gestor que reconheça seu valor.

Buscar sponsors. Líderes influentes em outras áreas podem abrir portas ou protegê-lo em momentos difíceis.

Planejar sua saída. Às vezes, não vale a pena insistir. Sua energia, autoestima e saúde mental podem custar caro demais para caber num lugar que não lhe querem.

No fim, não se trata apenas de agradar. Trata-se de construir relações profissionais baseadas em confiança, respeito e entrega de valor. E, sim, de escolher estar em lugares onde as pessoas torçam verdadeiramente pelo seu sucesso.

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