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Com o jeito e a alma do profissional: a nova gestão de carreiras

A grande evolução da gestão de carreiras reside na sua capacidade de se adaptar ao indivíduo, reconhecendo a importância da personalização e flexibilidade

Gestão de talentos: os vários caminhos que um líder pode tomar estarão sempre baseados em suas crenças, atitudes e autoconhecimento (runeer/Getty Images)

Gestão de talentos: os vários caminhos que um líder pode tomar estarão sempre baseados em suas crenças, atitudes e autoconhecimento (runeer/Getty Images)

Adriano Lima
Adriano Lima

Autor do livro "Você em Ação"

Publicado em 24 de janeiro de 2025 às 18h23.

Se antes as empresas ditavam os caminhos profissionais como um roteiro engessado, hoje o foco está nas necessidades, aspirações e individualidade de cada colaborador. Essa mudança representa uma verdadeira evolução, que reconhece as carreiras como trilhas personalizadas em uma montanha, com diferentes caminhos e desafios para alcançar o topo.

Ou seja, a grande revolução na gestão de carreiras nos últimos 20 anos pode ser resumida em duas palavras: personalização e flexibilidade.

Essa transformação na gestão de carreiras é um reflexo da própria evolução das empresas em um mundo cada vez mais fluido e complexo. As organizações que desejam prosperar nesse novo cenário precisam abandonar o modelo antigo de gestão de carreira, que limita os horizontes e impede o desenvolvimento pleno de seus colaboradores.

As empresas do futuro – que já é presente – demandam profissionais com uma mentalidade de prontidão, capazes de enfrentar os desafios de um mundo em constante mudança e de sair de suas zonas de conforto.

Do job description à “pessoa description”

A dinâmica do local de trabalho está em constante evolução, e com ela, a demanda por profissionais capazes de transitar entre funções e aplicar suas competências em diferentes áreas cresce cada vez mais. Se antes era comum comparar um profissional com o job description, agora o foco está em como integrar as competências do profissional ao negócio, como peças de um quebra-cabeça que se encaixam para formar um todo coeso e dinâmico.

Essa analogia ilustra o caráter de personalização da gestão de carreira, com o olhar voltado para o indivíduo e suas potencialidades. E olhar do C-level para isso está cada vez mais atento a esse novo modelo de gestão de carreiras.

Ao transferir a responsabilidade de moldar o caminho de crescimento para o funcionário, a partir de suas necessidades e anseios, as empresas promovem uma mudança significativa na experiência do colaborador. Essa experiência se torna mais engajadora e motivadora, alinhando os valores dos talentos com os da organização e fortalecendo a marca empregadora.

A evolução da gestão de carreiras tem se mostrado um fator estratégico para o sucesso das empresas, e o board reconhece seu valor na atração, retenção e desenvolvimento de talentos.

Propósitos, aspirações e o impacto da tecnologia

Duas grandes forças impulsionaram a evolução da gestão de carreiras: as novas gerações, com seus valores e expectativas distintos, e a tecnologia, que transformou as formas de trabalho e redefiniu o local de trabalho.

Os avanços tecnológicos remodelaram o local de trabalho, tornando o trabalho remoto e híbrido uma realidade cada vez mais presente. A Gig Economy ganhou espaço, oferecendo novas possibilidades de trabalho e flexibilidade.

Nesse contexto, as carreiras se tornaram multifacetadas, com profissionais transitando entre áreas, empresas e projetos, construindo trajetórias mais personalizadas e alinhadas com seus propósitos e aspirações. O LinkedIn, em 2022, registrou um aumento de 557% na busca por "remote jobs" desde o início da pandemia, evidenciando a crescente demanda por flexibilidade e autonomia no trabalho.

Mas se evolução da gestão de carreiras traz consigo mais flexibilidade e personalização, ela também apresenta novos desafios para os profissionais. A autonomia e a responsabilidade na condução da carreira exigem maior maturidade, proatividade, autoconhecimento e capacidade de adaptação.

É preciso desenvolver habilidades de autogestão, planejamento e tomada de decisão, além de cultivar uma mentalidade de aprendizado contínuo.

A rápida evolução tecnológica e as mudanças no mercado de trabalho demandam uma postura de aprendizado contínuo e adaptabilidade. Isso faz com que os profissionais precisem estar atentos às novas tendências, desenvolver novas habilidades e se reinventar continuamente para se manterem relevantes e competitivos.

O relatório "The Future of Jobs Report 2023" do Fórum Econômico Mundial previa que 85 milhões de empregos seriam substituídos por máquinas até 2025, mas 97 milhões de novas oportunidades seriam criadas. O que significa também a necessidade de desenvolver habilidades como pensamento crítico, resolução de problemas e inteligência emocional.

A flexibilidade do trabalho remoto e híbrido abriu novas possibilidades para o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, um novo componente na gestão de carreiras. No entanto, a gestão do tempo e a definição de limites claros são fundamentais para evitar o esgotamento profissional.

A pesquisa "Global Millennial and Gen Z Survey 2022" da Deloitte revelou que o equilíbrio entre vida pessoal e profissional é a principal prioridade dessas gerações, o que reforça a importância de um ambiente de trabalho que promova o bem-estar e a qualidade de vida. Quer mais dados sobre isso? Vamos nós!

Pesquisa da Monster, por exemplo, revelou que 79% dos trabalhadores priorizam o bem-estar no trabalho mais do que uma promoção (43%) ou um aumento de salário (36%). E mais: 62% dos trabalhadores priorizam o bem-estar no trabalho mais do que ter um emprego impressionante e digno de se gabar, e, para completar: 48% dos trabalhadores priorizam o bem-estar no trabalho mais do que oportunidades de crescimento imediato.

Outro estudo, desta vez da Associação Americana de Psicologia, comprova que o bem-estar psicológico é uma prioridade muito alta para os profissionais: a maioria (92%) dos trabalhadores entrevistados disseram que é muito (57%) ou um tanto (35%) importante para eles trabalhar para uma organização que valoriza seu bem-estar emocional e psicológico; 95% disseram que é muito (61%) ou um tanto (34%) importante para eles trabalhar para uma organização que respeita os limites entre o tempo de trabalho e o tempo livre.

Desafios organizacionais

As empresas também enfrentam desafios na gestão de carreiras nessa nova era. É preciso cultivar uma cultura de aprendizado contínuo, oferecendo oportunidades de desenvolvimento profissional que vão além dos treinamentos tradicionais.

Criar um ambiente que estimule a curiosidade, a experimentação e a busca por novos conhecimentos é essencial para preparar os colaboradores para os desafios do futuro do trabalho. O Fórum Econômico Mundial estima que mais de 1 bilhão de pessoas precisarão se requalificar até 2030 para se adaptarem às demandas do mercado de trabalho.

A era do "plano de carreira único" acabou. As empresas precisam adotar uma abordagem mais individualizada, que leve em conta as necessidades, aspirações e objetivos de cada colaborador.

Ferramentas como a inteligência artificial e a análise de dados podem auxiliar na identificação de talentos, na criação de planos de desenvolvimento individualizados e na oferta de oportunidades de crescimento alinhadas com o perfil de cada profissional.

Os líderes têm um papel fundamental na gestão de carreiras, atuando como mentores e facilitadores do desenvolvimento de seus liderados. É preciso desenvolver habilidades de comunicação, escuta ativa e feedback construtivo para orientar e apoiar o crescimento dos colaboradores.

Um ambiente de trabalho aberto e transparente, no qual os indivíduos se sintam à vontade para compartilhar suas ideias e perspectivas, é essencial para uma gestão de carreiras eficaz.

A fluidez na gestão de carreiras

A gestão de carreiras precisa ser tão fluida e personalizada quanto as próprias carreiras. É preciso estar atento às mudanças no mercado de trabalho, às novas tecnologias e às expectativas das novas gerações. É um processo dinâmico, em constante adaptação, para atender às necessidades de um mundo em constante transformação.

Em última análise, a gestão de carreira ideal terá aparência diferente em diferentes organizações. Isso ocorre porque ela é influenciada pela cultura, recursos, domínio, estrutura de equipe e outros fatores específicos de cada organização. O ponto em comum é que qualquer processo de gestão de carreira que incorpore esses fatores estabelecerá a base para uma organização mais dinâmica, responsiva e centrada no ser humano.

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