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Efeitos colaterais

A abertura pragmática do atual governo ao gasto social pode trazer moderação e entendimento. Isso é bom para o Brasil

(Getty Images/Getty Images)
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felipegiacomelli

Publicado em 16 de julho de 2020 às 10h50.

O governo de Jair Bolsonaro foi o primeiro desde a redemocratização a ser eleito defendendo abertamente uma plataforma econômica liberal, que conteria o explosivo déficit público brasileiro e estimularia o setor privado. Um choque liberal inédito, que já começava a ter efeitos positivos na economia. Mas, no meio do caminho, apareceu uma pandemia terrível. E o governo economicamente mais liberal que o Brasil teve em décadas precisou dar um cavalo de pau. Afinal, como nos ensinou Milton Friedman, um dos ícones do liberalismo, em épocas de crise somos todos keynesianos.

Rapidamente, diante de circunstâncias extraordinárias e incertas, o governo federal adotou algumas das medidas mais fortes de expansão do gasto público e de transferência de renda que o país já viu, provas de que as críticas ferozes contra uma suposta ortodoxia radical do ministro da Economia, Paulo Guedes, e sua equipe não se sustentam na realidade. Os liberais no governo estão abrindo o cofre, mesmo diante de nossa grande fragilidade fiscal. Isso revela pragmatismo e flexibilidade, que são o contrário da ortodoxia.

E é bom ter ministro e equipe que defendam o equilíbrio fiscal e a eficiência do gasto público no comando desse monumental e necessário aumento de gastos. Isso traz mais foco ao que precisa ser feito e alguma moderação racional neste momento de tanto estresse e de tantas demandas. Como, aliás, foi positivo que o governo de viés esquerdista que assumiu o Brasil em 2003 tenha adotado, para surpresa de muita gente, medidas pró-mercado diante da aguda crise de confiança que antecedera sua chegada ao poder.

Os liberais fiscalistas do governo Bolsonaro tiveram a coragem de abrir o cofre, como a ajuda emergencial de 600 reais aos vulneráveis, que pode atenuar em até 4 pontos a queda do produto interno bruto (PIB) neste ano. Mas o custo é alto. Alguns analistas estimam que a dívida pública bruta do país chegará perto de 100% do PIB ao final de 2020. Preveem ainda que não só as metas originais de contenção do déficit fiscal não serão alcançadas neste governo como também o déficit deverá aumentar ao final do mandato.

A pandemia com suas crises gêmeas — sanitária e econômica — e sua alta imprevisibilidade impôs necessidades extraordinárias que estão sendo respondidas pela equipe econômica com sensibilidade e atenção aos mais vulneráveis.

Mas não podemos novamente cair na armadilha de remediar o presente comprometendo nosso futuro. Para além das indispensáveis ações emergenciais, e provocado por elas, avança no país um debate fundamental sobre a eficiência e a forma dos benefícios sociais. Se o debate for racional e bem conduzido, poderá criar condições para a eliminação definitiva da extrema pobreza no Brasil. E esse é um objetivo que deve unir nosso polarizado país.

O economista Renato Paes de Barros calcula em mais de 100 bilhões de reais os gastos anuais com a rede de proteção social criada nas últimas décadas, o que inclui Bolsa Família, abono salarial, seguro-desemprego, entre outros. Para ele, se esses recursos forem gastos da forma mais eficiente possível, o que deve ser a meta de todo gestor sério, pode-se eliminar grande parte da pobreza aguda no Brasil. Outras iniciativas estão também ganhando força nessa área, como o estabelecimento de modelos capazes de avaliar com precisão o resultado do gasto social brasileiro, fundamental para alocarmos melhor recursos tão importantes.

E tudo isso, repito, está avançando sob o governo mais liberal do Brasil das últimas décadas.

Assim como o governo do PT convergiu em alguns momentos para o centro e adotou uma agenda econômica de viés liberal e social, e com isso deu impulso à atividade econômica e ao bem-estar da população, o governo Bolsonaro poderá caminhar contra o senso comum e, premido pela pandemia e seus efeitos, estabelecer uma reforma importante e eficiente da proteção social no Brasil, gerando inclusão e redução das desigualdades.

As crises são propícias para gerar oportunidades, como diz o manjado clichê. E é verdade. Essa abertura pragmática ao gasto social eficiente pode trazer moderação e entendimento, e isso é bom para o ­Brasil e para os brasileiros.


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O governo de Jair Bolsonaro foi o primeiro desde a redemocratização a ser eleito defendendo abertamente uma plataforma econômica liberal, que conteria o explosivo déficit público brasileiro e estimularia o setor privado. Um choque liberal inédito, que já começava a ter efeitos positivos na economia. Mas, no meio do caminho, apareceu uma pandemia terrível. E o governo economicamente mais liberal que o Brasil teve em décadas precisou dar um cavalo de pau. Afinal, como nos ensinou Milton Friedman, um dos ícones do liberalismo, em épocas de crise somos todos keynesianos.

Rapidamente, diante de circunstâncias extraordinárias e incertas, o governo federal adotou algumas das medidas mais fortes de expansão do gasto público e de transferência de renda que o país já viu, provas de que as críticas ferozes contra uma suposta ortodoxia radical do ministro da Economia, Paulo Guedes, e sua equipe não se sustentam na realidade. Os liberais no governo estão abrindo o cofre, mesmo diante de nossa grande fragilidade fiscal. Isso revela pragmatismo e flexibilidade, que são o contrário da ortodoxia.

E é bom ter ministro e equipe que defendam o equilíbrio fiscal e a eficiência do gasto público no comando desse monumental e necessário aumento de gastos. Isso traz mais foco ao que precisa ser feito e alguma moderação racional neste momento de tanto estresse e de tantas demandas. Como, aliás, foi positivo que o governo de viés esquerdista que assumiu o Brasil em 2003 tenha adotado, para surpresa de muita gente, medidas pró-mercado diante da aguda crise de confiança que antecedera sua chegada ao poder.

Os liberais fiscalistas do governo Bolsonaro tiveram a coragem de abrir o cofre, como a ajuda emergencial de 600 reais aos vulneráveis, que pode atenuar em até 4 pontos a queda do produto interno bruto (PIB) neste ano. Mas o custo é alto. Alguns analistas estimam que a dívida pública bruta do país chegará perto de 100% do PIB ao final de 2020. Preveem ainda que não só as metas originais de contenção do déficit fiscal não serão alcançadas neste governo como também o déficit deverá aumentar ao final do mandato.

A pandemia com suas crises gêmeas — sanitária e econômica — e sua alta imprevisibilidade impôs necessidades extraordinárias que estão sendo respondidas pela equipe econômica com sensibilidade e atenção aos mais vulneráveis.

Mas não podemos novamente cair na armadilha de remediar o presente comprometendo nosso futuro. Para além das indispensáveis ações emergenciais, e provocado por elas, avança no país um debate fundamental sobre a eficiência e a forma dos benefícios sociais. Se o debate for racional e bem conduzido, poderá criar condições para a eliminação definitiva da extrema pobreza no Brasil. E esse é um objetivo que deve unir nosso polarizado país.

O economista Renato Paes de Barros calcula em mais de 100 bilhões de reais os gastos anuais com a rede de proteção social criada nas últimas décadas, o que inclui Bolsa Família, abono salarial, seguro-desemprego, entre outros. Para ele, se esses recursos forem gastos da forma mais eficiente possível, o que deve ser a meta de todo gestor sério, pode-se eliminar grande parte da pobreza aguda no Brasil. Outras iniciativas estão também ganhando força nessa área, como o estabelecimento de modelos capazes de avaliar com precisão o resultado do gasto social brasileiro, fundamental para alocarmos melhor recursos tão importantes.

E tudo isso, repito, está avançando sob o governo mais liberal do Brasil das últimas décadas.

Assim como o governo do PT convergiu em alguns momentos para o centro e adotou uma agenda econômica de viés liberal e social, e com isso deu impulso à atividade econômica e ao bem-estar da população, o governo Bolsonaro poderá caminhar contra o senso comum e, premido pela pandemia e seus efeitos, estabelecer uma reforma importante e eficiente da proteção social no Brasil, gerando inclusão e redução das desigualdades.

As crises são propícias para gerar oportunidades, como diz o manjado clichê. E é verdade. Essa abertura pragmática ao gasto social eficiente pode trazer moderação e entendimento, e isso é bom para o ­Brasil e para os brasileiros.


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