Remédios: diversas combinações de remédios têm sido destadas contra o coronavírus (Cadu Rolim/Fotoarena)
AFP
Publicado em 18 de junho de 2020 às 13h59.
Contra a covid-19, a ciência se mobiliza com dezenas de medicamentos em teste e uma centena de projetos de vacinas, embora ainda aguarde a grande descoberta que mudará o curso da doença.
Dexametasona para reduzir a mortalidade
Barato e amplamente disponível, este corticoide é atualmente o único medicamento que parece melhorar a sobrevida entre os pacientes com COVID-19.
Mas diz respeito apenas aos pacientes mais graves, ou seja, aos que estão sob respiração artificial e, em menor grau, aos que recebem oxigênio através de uma máscara.
Entre os primeiros, a dexametasona reduz a mortalidade em um terço, de acordo com resultados preliminares do grande ensaio clínico britânico Recovery.
Essas descobertas ainda não foram publicadas em uma revista científica, mas seu anúncio na segunda-feira levou o governo britânico a comunicar que começaria imediatamente a aplicar esse tratamento.
A dexametasona, com um poderoso efeito antiinflamatório, é geralmente prescrita para tratar reações alérgicas, asma e artrite reumática.
Remdesivir, com eficácia modesta
O New England Journal of Medicine publicou uma pesquisa em maio sobre a capacidade desse antiviral de reduzir o tempo de recuperação dos pacientes.
Mas sua eficácia não é espetacular: reduz esse período de 15 para 11 dias entre pacientes hospitalizados e não tem incidência na mortalidade.
Os Estados Unidos e o Japão validaram a autorização de emergência para usar o remdesivir em hospitais. A Europa está avaliando sua autorização no mercado.
Fabricado pelo laboratório Gilead, o remdesivir foi desenvolvido inicialmente - sem sucesso - contra o ebola.
Hidroxicloroquina, uma saga
Promovido pelo presidente Donald Trump e pelo controverso médico francês Didier Raoult, esse tratamento até agora não se mostrou eficaz, muito pelo contrário.
O ensaio clínico Recovery concluiu que a hidroxicloroquina não tem efeito benéfico contra a COVID-19. Como resultado, os Estados Unidos retiraram a autorização de emergência para seu uso na segunda-feira.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou na quarta-feira a suspensão de ensaios clínicos com esta molécula usada contra a malária.
No total, mais de mil ensaios clínicos estão sendo realizados em todo o mundo em dezenas de tratamentos, de acordo com o banco de dados da The Lancet.
Destacam a associação de dois medicamentos anti-HIV - lopinavir e ritonavir -, a transfusão de plasma sanguíneo de pessoas curadas para pacientes, a clorpromazina antipsicótica e tocilizumabe.
No entanto, a maioria dos especialistas acredita que a chave será encontrar uma combinação de medicamentos para somar seus efeitos.
A OMS lista 11 ensaios clínicos em andamento para outras tantas vacinais potenciais em todo o mundo, dos quais cinco são realizados na China.
Até agora, apenas resultados parciais foram publicados, alguns descritos como "encorajadores". Entre os mais avançados, estão o projeto europeu da Universidade de Oxford, em cooperação com a AstraZeneca, e o projeto chinês da Academia Militar de Ciências Médicas e a empresa farmacêutica CanSinoBIO.
Além desses ensaios em andamento, a OMS lista 128 projetos potenciais de vacinas que estão em estágios iniciais.
Por seu lado, a Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres cita 194 projetos, dos quais 17 estão em fase de testes clínicos.
A Agência Europeia de Medicamentos estimou em meados de maio que, sendo "otimista", a vacina poderia estar pronta em um ano.
Mas muitos países esperam seu desenvolvimento até o final do ano, para evitar uma segunda onda da epidemia com a chegada do inverno no hemisfério norte.
Assim, os Estados Unidos esperam distribuir 300 milhões de doses como parte de sua operação "Warp speed" em janeiro de 2021, ou seja, praticamente para toda a população, através de financiamento e apoio a laboratórios.
Na China, a empresa farmacêutica estatal Sinopharm, que atualmente prepara duas vacinas em potencial, espera lançá-las no mercado entre o final de 2020 e o início de 2021.
Na Europa, onde vários projetos estão em andamento, esses prazos também estão sendo trabalhados.
Alemanha, França, Itália e Holanda assinaram um acordo com a AstraZeneca para fornecer à UE 300 milhões de doses.
Os grupos farmacêuticos repetem que as vacinas serão vendidas a um preço acessível, até mesmo pelo seu preço de custo.
A AstraZeneca prometeu "não lucrar com esta vacina", segundo seu presidente na França, Olivier Nataf, que está estimando o preço em cerca de 2 euros (2,24 dólares) por dose.
Os Estados Unidos anunciaram sua intenção de priorizar idosos, cidadãos com histórico médico e trabalhadores "essenciais".