Ciência

Varíola dos macacos: OMS revela onde pode ter surgido surto da doença

Conselheiro da OMS descreve que surto pode ter acontecido por "hábitos sexuais de risco" em dois eventos inusitados

Varíola dos macacos: surto já alcançou 16 países (Jepayona Delita/Future Publishing/Getty Images)

Varíola dos macacos: surto já alcançou 16 países (Jepayona Delita/Future Publishing/Getty Images)

AO

Agência O Globo

Publicado em 23 de maio de 2022 às 17h21.

Última atualização em 23 de maio de 2022 às 18h31.

O surto de varíola dos macacos na Europa pode ter sido causado por hábitos sexuais de risco e raves na Espanha e na Bélgica, segundo David Heymann, conselheiro da Organização Mundial da Saúde (OMS). Ainda de acordo com ele, o maior surto da doença na história da Europa pode ser encarado como um “evento aleatório”.

O que dizem as últimas pesquisas científicas mais importantes? Descubra ao assinar a EXAME, por menos de R$ 0,37/dia.

O médico, que anteriormente chefiou o departamento de emergências da OMS, disse em entrevista à Associated Press (AP), que a principal teoria para explicar a propagação da doença é a transmissão sexual entre homens gays e bissexuais em duas raves realizadas nos dois países.

"É muito possível que alguém tenha se infectado, desenvolvido lesões nos genitais, nas mãos ou em outro lugar, e depois tenha espalhado para outras pessoas quando houve contato físico ou sexual próximo", disse Heymann. "E então houve esses eventos internacionais que semearam o surto em todo o mundo, nos Estados Unidos e em outros países europeus."

Se confirmada a teoria, o surto atual segue roteiro atípico para a doença, já que na África Central e Ocidental — onde a doença é endêmica —, as pessoas são infectadas na maioria das vezes por animais como roedores selvagens e primatas, e os surtos não se espalharam para além das fronteiras.

LEIA TAMBÉM: O que é varíola do macaco? Saiba qual a gravidade e tratamento da doença

Transmissão da doença

Um relatório do governo alemão obtido pela AP, disse que espera ver mais casos e que o risco de pegar a varíola dos macacos “parece estar principalmente em contatos sexuais entre homens”.

Os quatro casos confirmados na Alemanha foram associados a exposição à doença em “eventos de festa, incluindo nas Ilhas Canárias e em Berlim, onde ocorreram atividades sexuais”, afirmou o documento.

As autoridades de saúde de Madri disseram nesta segunda-feira que a cidade registrou 30 casos confirmados até agora. Segundo Enrique Ruiz Escudero, conselheiro de saúde da capital espanhola, as autoridades estão investigando possíveis ligações entre um evento de orgulho gay nas Ilhas Canárias, que atraiu cerca de 80 mil pessoas, e casos de pessoas que testaram positivo para a doença após frequentar uma sauna em Madri.

Heymann presidiu uma reunião urgente do grupo consultivo da OMS sobre ameaças de doenças infecciosas na última sexta-feira para avaliar a epidemia em andamento. Ele disse que não há evidências que sugiram que a varíola possa ter se transformado em uma forma mais infecciosa.

LEIA TAMBÉM: Três doses da vacina da Pfizer geram forte resposta em menores de 5 anos

A varíola dos macacos normalmente causa febre, calafrios, erupções cutâneas e lesões no rosto ou genitais. Ela pode ser transmitida através do contato próximo com uma pessoa infectada ou suas roupas ou lençóis, mas a transmissão sexual ainda não foi documentada.

A maioria das pessoas se recupera da doença após várias semanas, sem precisar de hospitalização. As vacinas contra a varíola também são eficazes na prevenção da varíola dos macacos. Alguns medicamentos antivirais já estão sendo desenvolvidos.

Nos últimos anos, a doença foi fatal em até 6% das infecções, mas nenhuma morte foi relatada entre os casos atuais. A OMS disse que os casos confirmados até agora são do grupo menos grave da doença e parecem estar ligados a um vírus que foi detectado pela primeira vez em casos exportados da Nigéria para o Reino Unido, Israel e Singapura em 2018 e 2019.

LEIA TAMBÉM: Varíola dos macacos: OMS diz que não há evidência de mutação do vírus

Apesar do surto, Heymann enfatizou que é improvável que a doença desencadeie uma transmissão generalizada.

"Isso não é covid", disse ele. "Precisamos desacelerar [a transmissão da doença], mas ela não se espalha no ar e temos vacinas para combatê-la", afirmou o conselheiro da OMS.

Heymann disse também que os estudos sobre o surto devem ser conduzidos rapidamente para determinar se a varíola dos macacos pode ser transmitida por pessoas sem sintomas, e que as populações em risco da doença devem tomar precauções para se proteger.

"Evento altamente incomum"

A OMS informou que o surto é “um evento altamente incomum” e que o fato de casos estarem sendo vistos em tantos países diferentes sugere que a doença pode estar se espalhando silenciosamente há algum tempo. O escritório da OMS na Europa alertou que, à medida que o verão começa em todo o continente, aglomerações, festivais e festas podem acelerar a propagação.

Outros cientistas apontaram que será difícil distinguir se é o sexo em si ou o contato próximo relacionado ao sexo que impulsionou a recente disseminação da doença por toda a Europa.

LEIA TAMBÉM: Varíola de macaco: conheça os sintomas e quais são os países com casos

"Por natureza, a atividade sexual envolve contato íntimo, aumentando a probabilidade de contágio, independentemente da orientação sexual de uma pessoa e do modo de transmissão", disse Mike Skinner, virologista do Imperial College de Londres, para a AP.

No domingo, a principal conselheira médica da Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido, Susan Hopkins, disse esperar que mais casos de varíola sejam identificados no país “diariamente”.

Autoridades do Reino Unido afirmaram que “uma proporção notável” dos casos no Reino Unido e na Europa ocorreu em homens jovens sem histórico de viagens à África e que são gays, bissexuais ou fazem sexo com homens. Autoridades em Portugal e Espanha também disseram que seus casos ocorreram em homens, principalmente aqueles que fizeram sexo com outros homens e cujas infecções foram detectadas quando procuraram ajuda em clínicas de saúde sexual.

(Agência O Globo)

LEIA TAMBÉM: Febre amarela: cientistas brasileiros criam tratamento inédito para doença

Acompanhe tudo sobre:EuropaMpoxOMS (Organização Mundial da Saúde)

Mais de Ciência

Cientistas criam "espaguete" 200 vezes mais fino que um fio de cabelo humano

Cientistas conseguem reverter problemas de visão usando células-tronco pela primeira vez

Meteorito sugere que existia água em Marte há 742 milhões de anos

Como esta cientista curou o próprio câncer de mama — e por que isso não deve ser repetido