Ciência

Vacina de Oxford é segura e induz resposta imune, diz estudo de fase 2

Todos os 560 adultos saudáveis que participaram dos testes tiveram uma produção de resposta imunológica similar apesar da faixa etária

Oxford: vacina apresenta bons resultados (Athit Perawongmetha/Reuters Business)

Oxford: vacina apresenta bons resultados (Athit Perawongmetha/Reuters Business)

Tamires Vitorio

Tamires Vitorio

Publicado em 19 de novembro de 2020 às 08h12.

Última atualização em 19 de novembro de 2020 às 08h17.

Em uma semana repleta de boas notícias sobre vacinas, a quinta-feira, 19, não poderia decepcionar. De acordo com um estudo de estágio inicial publicado na prestigiada revista científica The Lancet, a vacina desenvolvida pela universidade britânica de Oxford e pela farmacêutica anglo-sueca AstraZeneca contra o novo coronavírus é segura e consegue induzir uma resposta imune robusta entre todos os adultos envolvidos no teste. A pesquisa publicada é da fase dois da vacina e passou por revisão de pares.

Apesar de ser de fase dois, e não de fase três, os resultados não deixam de ser promissores. Todos os 560 adultos saudáveis que participaram dos testes (sendo que 240 tinham mais de 70 anos) tiveram uma produção de resposta imunológica similar apesar da faixa etária.

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O estudo realizado para a vacina de Oxford é duplo-cego, ou seja, quando nem o médico e nem o paciente sabem qual dose está sendo administrada ---- método mais eficaz para testes científicos. Isso significa que, enquanto um grupo aleatório recebe a vacina de fato, outro receb um placebo, geralmente um salino.

A vacina britânica está sendo testada em diversos países, entre eles o Brasil e o Reino Unido, com 10 mil pessoas sendo testadas em cada país.

Resultados preliminares divulgados no final de outubro mostram que a vacina foi capaz de induzir uma resposta imune em todas as faixas etárias que participam dos testes, bem como em idosos — integrantes do grupo de risco da doença. Os divulgados nesta quinta, então, apenas confirmam a eficácia da imunização em pessoas jovens, bem como em pessoas idosas.

A vacina de Oxford é feita com base em adenovírus de chimpanzés (grupo de vírus que causam problemas respiratórios), e contém espículas do novo coronavírus.

Vista como a mais promissora pela OMS, a vacina britânica também não sai dos holofotes desde o anúncio de seu desenvolvimento. A última análise divulgada pelas desenvolvedoras mostrou que a vacina foi capaz de gerar uma resposta imunológica. A análise, feita de forma independente por virologistas da Universidade de Bristol, afirmou que a vacina está fazendo tudo que era esperado, o que é positivo para o combate ao coronavírus.

No Brasil, até o momento, aproximadamente 8.000 voluntários já tomaram as duas doses da proteção e outros 2.000 devem tomá-la até o final das pesquisas.

As outras promissoras

Nesta quarta-feira, a vacina desenvolvida pela farmacêutica Pfizer em parceria com a alemã BioNTech apresentou uma eficácia de 95% em testes de fase três. Segundo a companhia, a taxa de eficácia tem como base 170 casos de covid-19 que foram observados no estudo, sendo que 162 pessoas infectadas estavam recebendo doses de placebo e não da vacina. O resultado, segundo a Pfizer, foi similar em indivíduos apesar de sua faixa etária, raça ou etnia.

O novo resultado traz ainda mais esperança para acabar com uma pandemia que já matou mais de 1,3 milhão de pessoas no mundo todo. A Moderna afirmou nesta segunda-feira, que sua vacina foi capaz de reduzir as infecções por 94,5%. Se em alguns casos ambas as vacinas forem tomadas em conjunto, as chances de uma proteção mais eficaz podem aumentar ainda mais.

Outro estudo publicado na The Lancet apontou que a CoronaVac, também testada no Brasil, é segura e foi capaz de criar anticorpos em 97% de 700 voluntários que participaram da fase de testes 1 e 2 na China.

Como estamos?

Das 48 em fases de testes, apenas 11 estão na fase 3, a última antes de uma possível aprovação. São elas a chinesa da Sinovac Biotech, a também chinesa da Sinopharm, a britânica de Oxford em parceria com a AstraZeneca, a americana da Moderna, da Pfizer e BioNTech, a russa do Instituto Gamaleya, a chinesa CanSino, a americana Janssen Pharmaceutical Companies e a também americana Novavax.

Quem terá prioridade para tomar a vacina?

Nenhuma vacina contra a covid-19 foi aprovada ainda, mas os países estão correndo para entender melhor qual será a ordem de prioridade para a população uma vez que a proteção chegar ao mercado. Um grupo de especialistas nos Estados Unidos, por exemplo, divulgou em setembro uma lista de recomendações que podem dar uma luz a como deve acontecer a campanha de vacinação.

Segundo o relatório dos especialistas americanos (ainda em rascunho), na primeira fase deverão ser vacinados profissionais de alto risco na área da saúde, socorristas, depois pessoas de todas as idades com problemas prévios de saúde e condições que as coloquem em alto risco e idosos que morem em locais lotados.

Na segunda fase, a vacinação deve ocorrer em trabalhadores essenciais com alto risco de exposição à doença, professores e demais profissionais da área de educação, pessoas com doenças prévias de risco médio, adultos mais velhos não inclusos na primeira fase, pessoas em situação de rua que passam as noites em abrigos, indivíduos em prisões e profissionais que atuam nas áreas.

A terceira fase deve ter como foco jovens, crianças e trabalhadores essenciais que não foram incluídos nas duas primeiras. É somente na quarta e última fase que toda a população será vacinada.

Quão eficaz uma vacina precisa ser?

Segundo uma pesquisa publicada no jornal científico American Journal of Preventive Medicine uma vacina precisa ter 80% de eficácia para colocar um ponto final à pandemia. Para evitar que outras aconteçam, a prevenção precisa ser 70% eficaz.

Uma vacina com uma taxa de eficácia menor, de 60% a 80% pode, inclusive, reduzir a necessidade por outras medidas para evitar a transmissão do vírus, como o distanciamento social. Mas não é tão simples assim.

Isso porque a eficácia de uma vacina é diretamente proporcional à quantidade de pessoas que a tomam, ou seja, se 75% da população for vacinada, a proteção precisa ser 70% capaz de prevenir uma infecção para evitar futuras pandemias e 80% eficaz para acabar com o surto de uma doença.

As perspectivas mudam se apenas 60% das pessoas receberem a vacinação, e a eficácia precisa ser de 100% para conseguir acabar com uma pandemia que já estiver acontecendo — como a da covid-19.

Isso indica que a vida pode não voltar ao “normal” assim que, finalmente, uma vacina passar por todas as fases de testes clínicos e for aprovada e pode demorar até que 75% da população mundial esteja vacinada.

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