Pfizer: vacina da companhia pode funcionar contra variante encontrada no Reino Unido (AFP/AFP)
Tamires Vitorio
Publicado em 20 de janeiro de 2021 às 08h43.
Um estudo realizado pela farmacêutica americana Pfizer e pela companhia alemã BioNTech afirma que a vacina contra o novo coronavírus das companhias funciona também contra a variante B.1.1.7., encontrada no Reino Unido no final do ano passado.
A pesquisa, que ainda não passou pela revisão dos pares, e foi publicada no site bioRxiv, mostrou que "nenhuma diferença biológica foi encontrada na atividade de neutralização do vírus" em testes realizados no laboratório com amostras da variante.
Para chegar a essa conclusão, foram analisadas amostras sanguíneas de 16 pacientes que receberam a vacina durante as fases de testes, sendo que metade tinham mais de 55 anos de idade.
Apesar da boa notícia, os autores do estudo afirmaram que a evolução contínua do SARS-CoV-2 torna o monitoramento frequente necessário das vacinas autorizadas até o momento, com o objetivo de atualizá-las caso elas não sejam eficazes contra uma variante específica.
No começo deste mês, a Pfizer já havia afirmado que sua vacina provavelmente funcionava contra a variante do vírus – esse, no entanto, é o primeiro estudo de uma grande empresa a ser divulgado até o momento.
A pesquisa realizada em 8 de janeiro foi feita com base em amostras sanguínea de pessoas que já tomaram a vacina, que se mostrou eficaz ao neutralizar a mutação N501Y nas proteínas da espícula do vírus. Os resultados, no entanto, são limitados – uma vez que não analisam as mutações encontradas nas novas variantes, responsáveis por uma transmissão ainda mais alta da doença.
"Já testamos 16 mutações diferentes e nenhuma delas teve um impacto significante [na vacina]. Isso é uma boa notícia. Mas não significa que a 17ª não possa ter", afirmou Phil Dormitzer, cientista viral da Pfizer, em entrevista à agência de notícias Reuters.
Mutações virais são comuns e, até o momento, não existe confirmação de que elas escaparão das vacinas aprovadas.
As projeções para o futuro, no entanto, são menos otimistas. “Acredito que o número de mutações que acumulamos nesse período curto de tempo mostra que é bastante racional assumir que com um certo período de tempo — pode ser um ano, dois anos — as vacinas atuais, todas elas, vão perder sua atividade. Elas não ficarão inativas do dia para a noite, mas vão perder gradualmente”, disse Mikael Dolsten, chefe da área de ciência da Pfizer.
Apesar disso, Dolsten defende que a Pfizer conseguirá se adaptar rapidamente às mutações, atualizando a vacina conforme necessário. Em média, uma nova versão da vacina deve demorar cerca de duas semanas para ser criada. Os testes em humanos, caso sejam obrigatórios nesse caso, podem demorar “alguns meses”.
Para lidar com as novas variantes de forma mais rápida, Dolsten acredita que as agências reguladoras terão de permitir as atualizações nas vacinas somente com dados de testes pré-clínicos, “como fazem com as vacinas da gripe”, e sem testes em humanos.
Para uma vacina ser aprovada, ela precisa passar por diversas fases de testes clínicos prévios e em humanos. Primeiro, ela passa por fases pré-clínicos, que incluem testes em animais como ratos ou macacos para identificar se a proteção produz resposta imunológica.
A fase 1 é a inicial, quando os laboratórios tentam comprovar a segurança de seus medicamentos em seres humanos; a fase 2 tenta estabelecer de a vacina ou o remédio produz imunidade contra um vírus.
Já a fase 3 é a última do estudo e procura demonstrar a eficácia da imunização.
Uma vacina é finalmente disponibilizada para a população quando a fase 3 é finalizada e a proteção recebe um registro sanitário.