Ciência

Unicamp desenvolve diagnóstico da covid-19 por mudança de cor

Teste, chamado de Coronayeast, promete ser rápido e barato. A ideia é detectar o vírus em levedura, que ganharia cor vermelha ao confirmar a infecção

Unicamp: pesquisadores desenvolveram diagnóstico de covid-19 por mudança de cor de levedura (Creative Commons/Creative Commons)

Unicamp: pesquisadores desenvolveram diagnóstico de covid-19 por mudança de cor de levedura (Creative Commons/Creative Commons)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 4 de agosto de 2020 às 21h53.

Pesquisadores do Laboratório de Genômica e bioEnergia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) estão desenvolvendo um novo modelo de teste para diagnóstico da covid-19, chamado de Coronayeast, que que promete ser rápido e barato. A ideia é detectar o vírus em levedura, que ganharia cor vermelha ao confirmar a infecção. O exame em desenvolvimento analisa amostras de saliva ou de material coletado da nasofaringe de pacientes.

A equipe já pediu a patente da invenção, o que garante exclusividade para explorá-la comercialmente. No entanto, ainda é preciso um financiamento de R$ 500 mil a R$ 1 milhão para levar o produto no mercado em até seis meses.

A ideia é inserir na levedura um gene que produz a proteína humana ACE-2, substância que facilita a entrada do SARS-CoV-2. Se há o vírus na amostra, após minutos de incubação, passa a ser abundante a presença de angiotensina 2, hormônio que é identificado por estruturas da levedura. O reconhecimento ativa genes que fazem a levedura ficar vermelha a olho nu e fluorescente.

A intensidade da fluorescência, que se nota apenas com auxílio de equipamentos, é proporcional à quantidade de vírus na amostra. Leveduras são organismos unicelulares bastante usados na fabricação de alimentos e bebidas fermentadas, como pão e vinho. Apesar de serem microscópicas, elas crescem em culturas, agregando-se ao ponto de serem facilmente identificadas.

Segundo o professor titular do instituto de biologia da Unicamp Gonçalo Amarante Guimarães Pereira, que participa do projeto, o exame seria barato e poderia ser aplicado diversas vezes por dia inclusive em casa. O custo de cada unidade ainda não foi estimado, mas a expectativa é de que a produção seja até 100 vezes mais barata do que de testes RT-PCR, tido como de "padrão-ouro" para o diagnóstico.

Os pesquisadores também aguardam o desenrolar dos estudos para apontar o tempo necessário para se chegar ao diagnóstico, mas a ideia é de que a coloração vermelha apareça na levedura em no máximo 4 horas. Se não há a presença do vírus, a levedura mantém a cor natural: bege-amarelada.

Segundo os responsáveis pelo invento, o Coronayeast é o primeiro biossensor de levedura para detecção de vírus que se tem notícia. A ideia é usar a mesma lógica para detecção de outras doenças. Embora os experimentos preliminares indiquem que a precisão do teste ainda depende de um número exato de dias após a infecção, a expectativa dos pesquisadores é de que a sensibilidade do teste seja bastante alta. Isso seria uma vantagem sobre os testes RT-PCR, indicados para encontrar o RNA do vírus na fase aguda da doença, entre o 3º e 7º dia de sintomas, e o exame sorológico (teste rápido), que mostra anticorpos após o 8º dia.

"Mesmo que de forma intermitente, a doença deve permanecer até 2025. Por isso, acreditamos no potencial do teste para aumentar o controle da pandemia, até ajudando a reduzir período de reclusão", afirma Carla Maneira da Silva, estudante do mestrado em genética e biologia molecular da Unicamp.

Para o professor Pereira, o exame ainda teria a vantagem de ser de fácil distribuição, por não exigir diversos insumos para o funcionamento. Como o Estadão revelou, por falta de reagentes, cotonetes e outros instrumentos, há milhares de exames sem uso no País. Apenas o Ministério da Saúde estocava 9,85 milhões de testes RT-PCR, tidos como "padrão-ouro" para diagnóstico, até a última semana.

Aluno do pós-doutorado no laboratório da Unicamp, Fellipe da Silveira Bezerra de Mello afirma que o Coronayeast seria um importante legado da universidade pública. "Tem-se falado muito de vacina, mas a testagem é muito importante, principalmente na pandemia. Acho que o projeto ainda valoriza o trabalho científico neste momento", disse.

Acompanhe tudo sobre:CoronavírusPandemiaUnicamp

Mais de Ciência

Qual a fase da Lua de hoje, 22 de abril de 2025?

Qual a fase da Lua de hoje, 21 de abril de 2025?

Icônica praia turística do Rio de Janeiro pode ser engolida pelo mar até 2100, revela estudo

Crime que ameaça várias economias do mundo já era prática comum desde o Império Romano