Ciência

Uma vacina produz mais anticorpos do que outra. Isso importa?

Obter resposta para essa pergunta é uma etapa crucial para determinar os próximos passos dos programas de vacinação no mundo

Ampolas com imunizantes contra covid-19 de diferentes marcas (Dado Ruvic/Reuters)

Ampolas com imunizantes contra covid-19 de diferentes marcas (Dado Ruvic/Reuters)

Dez meses atrás, os resultados de grandes testes clínicos pareciam quase bons demais para ser verdade: duas vacinas de RNA mensageiro reduziram os casos sintomáticos de covid-19 em mais de 90% em quase todos os grupos que as receberam.

Agora, diferenças sutis entre as vacinas da Pfizer-BioNTech e Moderna estão surgindo em grupos de pacientes ao longo do tempo. Um pequeno estudo nos Estados Unidos encontrou níveis decrescentes de anticorpos para a vacina da Pfizer, particularmente em um grupo de pessoas mais velhas. E um estudo maior da Bélgica descobriu que uma dose de Moderna pode gerar mais anticorpos do que as da Pfizer.

Mas o que tudo isso significa no mundo real ainda não está claro. Embora bilhões de doses da vacina tenham sido aplicadas em todo o mundo, pesquisadores ainda trabalham para entender as nuances de quanto tempo dura sua proteção e como ela difere de uma pessoa para a outra.

Obter respostas a essas perguntas é uma etapa crucial para determinar quem pode precisar de uma dose de reforço, especialmente para pessoas mais velhas e aqueles com sistemas imunológicos enfraquecidos. A variante delta, mais infecciosa e cujo aumento coincidiu com ligeiras quedas na eficácia da vacina, levou governos a lançar uma terceira dose.

Muito do foco tem sido nos níveis de anticorpos, que servem como uma das defesas da linha de frente do sistema imunológico. Uma teoria sobre a vacina da Moderna é que ela cria mais desses anticorpos porque usa uma dose maior e as duas doses são administradas durante um período de uma semana a mais do que as da Pfizer.

Mas os anticorpos são apenas um componente da imunidade, e não está claro se eles são o mais importante, especialmente a longo prazo.

“Nós conhecemos um nível de anticorpos que protege contra covid? A resposta simples é que ainda não sabemos isso”, disse Paul Burton, diretor médico da Moderna, em uma teleconferência com repórteres na sexta-feira. Ainda assim, os dados do estudo da Moderna mostram que uma terceira injeção seis meses após a segunda aumenta os níveis de anticorpos “bem dentro daquela zona de conforto”, acima de níveis observados em teste de fase 3.

Memória Imune

Junto com anticorpos de duração mais curta, as vacinas contra covid também ativam o que é essencialmente uma memória de longo prazo no sistema imunológico. Essa memória parece aumentar e tornar-se melhor na produção de anticorpos de combate a variantes com o tempo. Essa proteção de longo prazo é mais difícil de medir em laboratório do que os anticorpos. Mas acredita-se que desempenhe um papel importante na prevenção de doenças graves e hospitalizações.

Diferenças sutis

“Provavelmente existem diferenças sutis entre a Pfizer e a Moderna”, disse Jeffrey Wilson, imunologista da Universidade da Virgínia. “Resta ver se isso tem um impacto clinicamente significativo na proteção contra o vírus.”

A proteção contra doenças graves e hospitalização - o benefício mais importante da vacinação para a saúde pública - tem permanecido forte em geral.

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