Ciência

Uma vacina contra resfriados está bem próxima de ser testada

Após mais de 30 anos do último teste com humanos, cientistas norte-americanos podem ter encontrado uma maneira de destruir os vírus que causam a doença

Resfriado: o rinovírus pode ser especialmente perigoso para pessoas com fibrose cística e asma (Thinkstock)

Resfriado: o rinovírus pode ser especialmente perigoso para pessoas com fibrose cística e asma (Thinkstock)

Marina Demartini

Marina Demartini

Publicado em 23 de outubro de 2016 às 08h00.

Última atualização em 23 de outubro de 2016 às 08h00.

São Paulo – Sabe aquele resfriado que você tem pelo menos uma vez por ano? Ele pode estar com os dias contados. Cientistas americanos estão desenvolvendo uma vacina que poderá proteger os seres humanos do rinovírus, vírus altamente contagioso causador do resfriado. As informações são do site especializado STAT.

Apesar de comum, o rinovírus se tornou um verdadeiro enigma para os infectologistas. Ele foi descoberto na década de 1960 e, desde então, os cientistas tentam criar uma vacina contra ele. A última vez que uma vacina contra o rinovírus passou por testes em humanos foi em 1975.

O que torna o rinovírus tão complicado é seu poder de evolução. Ele está em constante transformação e, por isso, tem mais de 100 serotipos (vírus que se distinguem por responder de maneira diferente a cada anticorpo). Desse modo, a infecção por qualquer um deles não o protege contra os outros cem.

Para criar sua vacina, a equipe composta por pesquisadores de várias universidades norte-americanas decidiu voltar ao passado. Eles utilizaram uma abordagem da década de 70, publicada por cientistas da Universidade de Virginia, que conseguiu combinar dez serotipos diferentes em apenas uma vacina.

O problema dessa solução, na época, é que se algum paciente tivesse um serotipo que não estava na vacina, ele não seria protegido por ela. Assim, os pesquisadores do estudo atual foram em busca de diferentes tipos de rinovírus para analisar. Eles pediram a ajuda de James Gern, um cientista que reuniu rinovírus de seus pacientes por mais de vinte anos.

"Nós provavelmente temos uma das maiores coleções de ranho do mundo", brincou Gern em entrevista para o STAT. A partir disso, a equipe conseguiu isolar vários tipos de rinovírus para depois extrair seus genes e armazena-los. Desse modo, os genes puderam ser injetados em células humanas para se transformarem em novos vírus.

Essa técnica de multiplicação de genes é muito mais rápida do que a utilizada pelos pesquisadores da década de 70. Além disso, eles podem confirmar que estão avaliando o tipo certo de vírus com o método.

Em vez de usar 10 tipos diferentes de rinovírus, os cientistas usaram 50 para fazer o primeiro teste do experimento. Eles colocaram todos os vírus em apenas uma vacina e a injetaram em macacos. Em seguida, eles retiraram sangue dos animais e o misturaram com os vírus escolhidos. O resultado foi surpreendente, pois revelou que os anticorpos responderam aos ataques de 49 dos 50 tipos.

A descoberta foi publicada na renomada revista Nature. A equipe pretende continuar com as análises e espera iniciar a fase clínica com humanos em breve.

Novas abordagens

Os pesquisadores norte-americanos não são os únicos em busca de uma vacina para o rinovírus. O britânico Gary McLean, do Imperial College London, e seus colegas estão desenvolvendo uma vacina que usa uma técnica totalmente diferente da utilizada pelos estudiosos dos Estados Unidos.

No passado, a maioria das vacinas faziam o sistema imunológico produzir anticorpos apenas para as proteínas na superfície dos rinovírus. Quando os pacientes vacinados eram infectados novamente, os anticorpos se uniam aos vírus e atacavam o organismo.

O que McLean descobriu foi que há outra maneira de lutar contra o rinovírus após a sua invasão nas células humanas. Quando os vírus estão dentro das células, sua camada de proteção se abre e eles lançam proteínas e genes. A partir disso, as células reproduzem novos vírus.

Porém, essas mesmas células também podem pegar as proteínas e coloca-las em suas superfícies. McLean notou que, após injetar as proteínas internas dos rinovírus em ratos, o sistema imunológico foi capaz de reconhece-las e ataca-las.

Essa técnica chama atenção, pois as proteínas de um tipo de rinovírus são extremamente similares às de outros tipos. Isso dificulta sua evolução para formas diferentes do vírus. Assim, não é preciso colocar todos os serotipos de rinovírus em uma vacina para que todos os tipos sejam destruídos.

O rinovírus ataca diferentes partes do organismo, dependendo da situação da pessoa. Enquanto o vírus fica depositado apenas no nariz em alguns indivíduos, em outros ele pode atacar o pulmão. O vírus pode ser especialmente perigoso para pessoas com asma, fibrose cística ou doença pulmonar obstrutiva crônica.

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