Imagem de arquivo de uma gestante: havia oito casais voluntários para a experiência, segundo os pesquisadores, e um deles desistiu durante o processo (Jose Luis Pelaez/Getty Images)
AFP
Publicado em 22 de janeiro de 2019 às 18h32.
Uma segunda mulher está grávida de um bebê editado geneticamente após os experimentos do cientista chinês que afirmou ter criado os primeiros bebês do mundo com técnicas de edição de genoma, confirmaram nesta segunda-feira (21) as autoridades chinesas citadas pela agência Xinhua, acrescentando que o pesquisador será alvo de uma investigação policial.
He Jiankui provocou polêmica na comunidade científica mundial em novembro de 2018, ao anunciar o nascimento de gêmeas com o DNA modificado para que sejam imunes ao vírus da aids.
He Jiankui informou depois, em um fórum em Hong Kong, que havia "outra provável gravidez".
Uma investigação do governo provincial de Guangdong (sul) confirmou desde então a existência desta pessoa, que continua grávida, indicou a agência Xinhua.
Esta mulher, assim como as gêmeas da primeira gravidez, estarão sob observação médica, declarou um investigador ao meio estatal.
Segundo os resultados da investigação, He Jiankui "produziu falsos documentos de avaliação ética", montou "de forma privada" uma equipe de pesquisa que incluía cientistas estrangeiros e utilizou "tecnologia cuja segurança e eficácia são duvidosas".
Os investigadores afirmaram à Xinhua que o cientista "busca a fama" e que utilizou seus "próprios fundos" para realizar o projeto.
No total, havia oito casais voluntários para a experiência, segundo os pesquisadores, e um deles desistiu durante o processo.
A condenação da comunidade científica chinesa e do mundo foi generalizada após o anúncio, em novembro. Os detalhes da experiência nunca foram verificados de forma independente.
O governo chinês tinha exigido a suspensão das atividades científicas do pesquisador dias depois de que o estudo foi anunciado publicamente.
Este tipo de edição genética aplicada a humanos é proibida na grande maioria dos países, inclusive na China.
He Jiankui será "tratado [...] de acordo com a lei" e seu caso "vai ser transferido aos órgãos encarregados da segurança pública", indicou a Xinhua nesta segunda-feira.
Na cúpula do genoma em novembro em Hong Kong, o cientista disse que estava "orgulhoso" de ter alterado os genes do bebê, dados os estigmas que afetam os pacientes com aids no país.
O protesto público contra seu experimento permitiu também trazer à luz a crescente epidemia de aids na China, que registrou um aumento drástico de novos casos nos últimos anos.
He Jiankui, formado na universidade americana de Stanford, disse ter utilizado a técnica CRISPR/Cas9, que atua como uma tesoura, retirando e substituindo partes indesejáveis do genoma.
As gêmeas nasceram, disse, após uma fertilização in vitro feita a partir de embriões editados antes de serem implantados no útero da mãe.
Esta técnica é extremamente controversa, principalmente porque as modificações poder ser transmitidas às gerações futuras e afetar o conjunto do patrimônio genético.
Depois da polêmica, a comunidade científica pediu um tratado internacional sobre a edição genética.