Ciência

Tubarão que vive 500 anos revela mistério que pode prolongar a vida humana

Estudo do genoma do animal mais longevo da Terra traz novas pistas sobre como retardar o envelhecimento e prolongar a saúde humana

Da Redação
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 13 de dezembro de 2024 às 11h32.

A cada década, novas descobertas revelam mais sobre o tubarão-da-Groenlândia (Somniosus microcephalus), um dos animais mais misteriosos dos oceanos.

Habitando as águas geladas do Atlântico Norte e do Ártico, este predador noturno esconde um segredo que desafia a biologia: uma expectativa de vida que pode ultrapassar 500 anos. Com isso, o tubarão-da-Groenlândia não é apenas o vertebrado mais longevo da Terra, mas também um modelo de resistência biológica e regeneração celular.

Um novo estudo, realizado por uma equipe internacional de cientistas, conseguiu sequenciar o genoma dessa criatura, abrindo portas para entender como seu corpo consegue suportar tamanhos e idades tão extraordinários, segundo a CNN.

Em um estudo publicado recentemente, pesquisadores identificaram que o genoma do tubarão-da-Groenlândia é duas vezes maior que o de um ser humano, com mais de 70% de seu DNA composto por jumping genes (genes saltadores).

Este fenômeno, até então incomum, pode ser a chave para entender o motivo pelo qual esses tubarões sobrevivem por tantos séculos, adaptando-se de maneira única às condições extremas do fundo marinho. Os resultados sugerem que esses genes saltadores ajudam a reparar o DNA danificado, processo crucial para aumentar a longevidade e prevenir doenças, como o câncer.

O que o genoma revela sobre a longevidade

O estudo do genoma do tubarão-da-Groenlândia não é apenas uma curiosidade científica. Ele pode ter repercussões significativas para a biomedicina, especialmente no campo da longevidade humana.

A descoberta de que a multiplicação de genes responsáveis pela reparação do DNA é um fator chave na longevidade do tubarão abre novas possibilidades para estudos que visam prolongar a vida humana.

Como explica o Dr. Steve Hoffman, biólogo computacional do Leibniz Institute on Aging, à CNN, "somente com a montagem do genoma conseguimos entender as mutações que contribuíram para essa vida tão longa".

O tubarão-da-Groenlândia cresce a um ritmo incrivelmente lento – menos de 1 centímetro por ano – e não atinge a maturidade sexual antes dos 100 anos.

Esses tubarões podem atingir até 6 metros de comprimento e viver até 500 anos, o que os torna uma verdadeira anomalia biológica. Segundo o estudo, a chave para essa longevidade não está apenas na grandeza do seu genoma, mas também na capacidade desses animais de reparar seus próprios danos genéticos de forma mais eficiente que outras espécies.

A pesquisa sugere que a presença de jumping genes, que geralmente são conhecidos por causar mutações prejudiciais, pode ter se transformado em uma vantagem para os tubarões-da-Groenlândia, ajudando a reparar o DNA de forma mais eficaz e retardando o processo de envelhecimento. "Esses genes saltadores, em vez de causar danos, parecem ter se adaptado para corrigir os defeitos genéticos", explica o Dr. Arne Sahm, principal autor do estudo.

Implicações para a medicina humana

A busca pelo segredo da longevidade do tubarão-da-Groenlândia pode trazer insights valiosos para o campo da medicina. A regeneração celular e a reparação do DNA são temas recorrentes em pesquisas sobre envelhecimento e doenças relacionadas à idade.

Ao entender como o tubarão consegue evitar os danos genéticos que afetam outras espécies, os cientistas podem encontrar maneiras de aplicar essas descobertas em humanos.

Embora a ideia de transferir genes de tubarão para seres humanos seja algo ainda distante, as pesquisas estão avançando no sentido de criar medicamentos que imitem esses processos biológicos, visando melhorar a saúde celular e retardar o envelhecimento.

Segundo a Dra. Vera Gorbunova, professora de medicina na Universidade de Rochester, "entender esses mecanismos é fundamental para desenvolver tratamentos que ajudem a prolongar a vida humana de maneira saudável".

A conservação do tubarão-da-Groenlândia

Apesar do seu valor científico, o tubarão-da-Groenlândia é uma espécie vulnerável. Devido à sua adaptação a águas profundas e frias, esses tubarões são difíceis de estudar e monitorar. No entanto, os cientistas esperam que o estudo de seu genoma possa ajudar na conservação da espécie.

Em 2019, a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) listou o tubarão-da-Groenlândia como vulnerável, o que sublinha a necessidade urgente de medidas para proteger esse animal tão único.

Com o genoma mapeado, os pesquisadores esperam entender melhor as necessidades biológicas do tubarão-da-Groenlândia e suas ameaças ambientais. A compreensão desses fatores poderá orientar políticas de conservação mais eficazes, garantindo que as futuras gerações possam continuar a estudar esse predador ancestral.

A pesquisa sobre o tubarão-da-Groenlândia não apenas ilumina os mistérios dessa espécie enigmática, mas também abre novas avenidas para a biologia da longevidade.

Com o aumento da expectativa de vida humana e o interesse por soluções para os desafios do envelhecimento, as descobertas feitas com esse tubarão podem, no futuro, inspirar tratamentos inovadores para melhorar a qualidade de vida e saúde das pessoas.

A longo prazo, talvez os tubarões-da-Groenlândia não apenas revelem os segredos de sua própria longevidade, mas também ajudem a humanidade a aprender a preservar a saúde celular e a envelhecer com mais qualidade de vida. O estudo da biologia desses animais longevos, com seu incrível poder de regeneração, é uma das frentes mais promissoras na ciência moderna.

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