Brasileiros ainda devem continuar com a máscara, mesmo após tomarem a vacina (Catherine Falls Commercial/Getty Images)
Karina Souza
Publicado em 11 de junho de 2021 às 18h23.
Última atualização em 11 de junho de 2021 às 18h36.
O Brasil é um dos últimos países em velocidade de vacinação no mundo. Dados compilados pelo portal Our World in Data mostram que o país só está à frente da Índia quando o assunto é imunização -- e fica atrás de pelo menos 11 países, segundo as informações disponibilizadas pela plataforma. Além disso, o Brasil é o 5º colocado em um ranking que considera a velocidade de vacinação contra a covid-19 entre os países do G20. Ainda assim, no país, os efeitos adversos das vacinas aplicadas, principalmente a da AstraZeneca (que incluem febre e dor no corpo) têm assustado os brasileiros. Em São Paulo, uma matéria mostrou recentemente que moradores da cidade estão se recusando a tomar o imunizante e seguem numa "peregrinação" atrás das doses da Pfizer.
Segundo especialistas em imunização, não há motivos para fazer essa peregrinação. "A melhor vacina é a que está no seu braço", afirmou Carla Domingues, epidemiologista e ex-coordenadora do Plano Nacional de Imunização, em participação no programa Roda Viva.
Veja a seguir cinco motivos pelos quais a atitude de "sommelier de vacina" (salvo em casos específicos de recomendação médica) está longe de ser a ideal:
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Os três imunizantes aplicados em maior escala aqui no Brasil (AstraZeneca, Pfizer e Coronavac) foram aprovados pela Anvisa para uso na população. O que isso quer dizer, na prática? No caso da AstraZeneca e da Coronavac, que obtiveram aprovação de uso emegencial, significa que os imunizantes apresentaram dados sólidos o suficiente para serem aplicadas com segurança na população. O imunizante da Pfizer, ao mesmo tempo, obteve direto a aprovação de uso definitivo pela agência reguladora. Isso porque a empresa já tinha dados de seis meses de sua fase final de estudos, que é considerado um período razoável de acompanhamento para conceder esse tipo de aprovação.
Em relação à diferença entre ambas, a Anvisa afirma à Exame: "O registro é uma aprovação mais definitiva porque leva em considertação uma autorização mais longa, ou seja, que vai durar mais tempo. Mas, em ambas as formas de análise -- emergencial e definitiva -- só há aprovação se tudo estiver de acordo com a qualidade, eficãcia e segurança exigidas pelas melhores práticas regulatórias".
E no que consiste essa análise da agência? A Anvisa responde que se trata de um processo criterioso, que leva em consideração: os dados apresentados pelo fabricante, a população-alvo, as características do produto, os resultados dos estudos pré-clínicos e clínicos e a totalidade das evidências científicas disponíveis relevantes para o produto, ou seja, os resultados provisórios de um ou mais ensaios clínicos que atendam aos critérios de eficácia e segurança para o uso pretendido.
Ao analisar tudo isso, para ser aprovada, uma vacina deve ter seus benefícios superados em relação aos riscos, de forma clara e convincente, considerando os critérios técnicos. Além disso, para a decisão da Anvisa, a empresa deve garantir que as informações de fabricação e estabilidade são adequadas para garantir a consistência da qualidade da vacina.
Em Israel, um dos países que lidera a quantidade de doses aplicadas globalmente, o volume de mortes diárias chegou a cair 99%, de acordo com dados divulgados em abril deste ano. O país tem registrado uma queda acentuada nas taxas de mortalidade e infecções diárias desde o pico da pandemia, no fim de janeiro, à medida que segue com sua campanha de vacinação, uma das mais avançadas do mundo -- e já até afirmou que a população não precisa mais usar máscaras, por causa do avançado ritmo de vacinação.
No Brasil, esse ritmo ainda precisa crescer -- somente em abril o país conseguiu cruzar a marca de 1 milhão de doses aplicadas por dia pela primeira vez. Ainda assim, é possível atestar os efeitos positivos da vacinação (à época, feita somente com a vacina da AstraZeneca e com a Coronavac) na população idosa, que começou a ser imunizada primeiro. Em maio deste ano, as mortes de idosos com mais de 80 anos tiveram queda de mais de 50% na cidade de São Paulo e mais de 65% na cidade do Rio de Janeiro entre dezembro e março, segundo os governos locais, mesmo no auge da pandemia no Brasil.
Nos Estados Unidos, país que tem cerca de 50% da população vacinada, as pessoas imunizadas já podem se encontrar em locais abertos sem máscara. Escolas já foram reabertas e o comércio, pouco a pouco, volta a funcionar. Em Israel, local em que o volume de pessoas vacinadas ultrapassa os 70%, os habitantes foram até mesmo dispensados de usar máscaras.
Enquanto isso, no Brasil, que tem cerca de 11% da população completamente imunizada, a recomendação de especialistas é a de evitar aglomerações e usar máscaras PFF2 -- que têm um grau de proteção contra o vírus maior do que as máscaras convencionais, superando os 90%. O país poderá experimentar os efeitos de "maior liberdade" em relação às máscaras quando ultrapassar a marca de 70% de imunizados.