Ciência

Transplante raro de mãos e rosto faz americano sorrir novamente

Há dois anos, em julho de 2018, DiMeo, à época com 20 anos, caiu no sono enquanto dirigia na Rota 22. A operação, se não fosse feita da forma correta, poderia ter matado DiMeo

Joe DiMeo: americano realizou cirurgia nas mãos e no rosto (NYU Langone/Reprodução)

Joe DiMeo: americano realizou cirurgia nas mãos e no rosto (NYU Langone/Reprodução)

Tamires Vitorio

Tamires Vitorio

Publicado em 5 de fevereiro de 2021 às 14h34.

Última atualização em 5 de fevereiro de 2021 às 21h11.

Um transplante raro de mãos e de face fez com que Joe DiMeo, de 22 anos de idade, voltasse a sorrir. Há dois anos, em julho de 2018, DiMeo, à época com 20 anos, caiu no sono enquanto dirigia na Rota 22, em Nova Jersey, nos Estados Unidos. Ao dormir, ele perdeu controle do carro, que capotou antes de pegar fogo.

Uma pessoa que estava de passagem conseguiu retirá-lo do carro antes de uma explosão, mas DiMeo sofreu queimaduras de terceiro grau em cerca de 80% de seu corpo.

Ele sobreviveu, mas as consequências não foram poucas: suas pálpebras haviam sido queimadas, bem como suas orelhas e boa parte de seus dados, e cicatrizes enormes cobriam seu rosto e pescoço, reduzindo sua mobilidade.

Durante sua estadia no hospital, em um coma induzido, ele passou por 20 cirurgias reconstrutivas e uma série de enxertos de pele para tentar salvar o pouco que restou de seu rosto.

Mas nem tudo estava perdido. Em agosto do ano passado, DiMeo passou por uma série de cirurgias para receber um transplante de rosto e um duplo de mãos – segundo os médicos, ele foi o primeiro paciente a aceitar os três transplantes de uma vez.

A operação durou 23 horas e os doutores esperaram até esta quarta-feira, 3, para divulgar os resultados porque estavam esperando que tudo desse certo durante o período de recuperação e que o corpo do paciente não iria rejeitar os transplantes – algo comum de acontecer em casos como esse. DiMeo passará o resto de sua vida tomando antibióticos para que seu corpo não rejeite seu novo rosto e as mãos e especialistas da NYU Langone Health sugerem cautela na hora de definir a cirurgia como um sucesso absouto.

Antes de DiMeo, outras duas tentativas de uma cirurgia tripla foram feitas. Nenhuma das duas teve sucesso – uma realizada em Paris em 2009 acabou com o paciente morto, enquanto um paciente em Boston em 2011 rejeitou os novos membros. DiMeo, então, é o primeiro paciente no mundo inteiro a trocar de rosto e mãos sem maiores problemas.

"Precisávamos evitar infecções, precisávamos que a operação ocorresse o mais rápido possível, e tivemos de ser muitos seletivos com o doador, e tivemos de implementar cada estado da arte da tecnologia para assegurar o sucesso completo da operação de Joe. Ele é saudável, jovem e forte, ama se exercitar, come de forma saudável", explicou Dr. Eduardo Rodriguez, líder da cirurgia, à CNN americana.

Segundo Rodriguez, DiMeio tem "um alto nível de motivação e uma esperança tremenda". Ao todo, 80 pessoas participaram da cirurgia.

Foram necessárias duas salas de operação adjacentes para completar o procedimento. Em uma delas, os tecidos faciais e das mãos de um doador morto foram removidos e substituídos com próteses em 3D. Na segunda sala, o rosto e as mãos de DiMeo estavam sendo removidas com cortes precisos, tudo para prepará-lo para receber os tecidos do doador.

A operação, se não fosse feita da forma correta, poderia ter matado DiMeo. Em seus braços, diversas partes importantes foram cortadas, como tendões, músculos, veias e nervos, para que ele estivesse pronto para receber os novos membros.

Depois que o rosto de DiMeo foi retirado, pequenas placas foram colocadas em seu queixo para ajudar a "grudar" a sua nova face, e a ponte do nariz do doador foi colocada em seu rosto. Os nervos e a vasculatura foi dividida ao meio para trazer sangue e sentido para o tecido estrangeiro em seu corpo. Apesar de complicado, tudo deu certo – e DiMeo ficou 45 dias no centro de cuidado intensivo e fez reabilitação por dois meses, quando conseguiu abrir seus olhos, mover suas mãos e sorrir – algo que ele não fazia há muito tempo.

"Eu só quero continuar lutando e olhando para a frente. Você sempre pode olhar para o lado negativo das coisas, mas sempre têm mais coisas boas do que ruins", afirmou DiMeo em entrevista ao site americano People.

No mundo todo, ao menos 18 transplantes de rosto e 35 transplantes de mãos foram feitos, segundo a Rede Unida para o Compartilhamento de Órgãos (UNOS, na sigla em inglês).

Em 2015, o bombeiro Patrick Hardison, de 41 anos, passou por uma cirurgia de 26 horas, em agosto deste ano, na qual trabalharam 100 médicos, enfermeiras e auxiliares. O homem recebeu o rosto de David Rodebaugh, um artista e ciclista profissional, que morreu em um acidente de bicicleta, aos 26 anos de idade. O custo da operação foi de 850 mil a 1 milhão de dólares, de acordo com o hospital.

Atenção: fotos fortes

(NYU Langone/Reprodução)

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