Ciência

Teste rápido e canudo que muda de cor: universidades desenvolvem métodos para detectar metanol

O Brasil já tem 217 casos suspeitos de intoxicação por metanol; até o momento, 17 foram confirmados

Metanol: a Unesp desenvolveu um teste químico de baixo custo que muda de cor conforme a concentração da substância na bebida (Getty Images/Getty Images)

Metanol: a Unesp desenvolveu um teste químico de baixo custo que muda de cor conforme a concentração da substância na bebida (Getty Images/Getty Images)

Publicado em 7 de outubro de 2025 às 13h58.

Última atualização em 7 de outubro de 2025 às 14h07.

O Brasil está em estado de alerta após casos de intoxicações por metanol ligadas ao consumo de bebidas alcoólicas. Segundo boletim divulgado pelo Ministério da Saúde na noite de segunda-feira, 6, já são 217 notificações, das quais 17 foram confirmadas e 200 seguem em investigação.

São Paulo concentra a maioria dos registros, com 82,49% dos casos — incluindo 15 confirmações e 164 em análise. O Paraná também confirmou dois casos. Outros 12 estados investigam suspeitas.

Até o momento, duas mortes foram confirmadas em São Paulo. Outras 12 seguem sob apuração, distribuídas em estados como Pernambuco, Ceará, Mato Grosso do Sul e Paraíba.

Diante da crise, as universidades do país lançaram uma série de iniciativas para ajudar a detectar o metanol nas bebidas.

UEPB

Pesquisadores da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) desenvolveram um método com base em espectroscopia no infravermelho, capaz de identificar adulterações em garrafas mesmo lacradas. O resultado sai em poucos minutos, sem uso de reagentes químicos e com 97% de acerto.

O equipamento emite luz infravermelha sobre a bebida, provocando a agitação das moléculas. Um software interpreta o sinal retornado e aponta substâncias estranhas à composição original, como metanol ou até água adicionada para diluir o produto.

Além do equipamento, os pesquisadores estão desenvolvendo um canudo impregnado com reagente químico que muda de cor quando em contato com metanol, o que permitirá que o próprio consumidor faça uma verificação antes de beber.

Unesp

O Instituto de Química da Unesp, em Araraquara (SP), desenvolveu em 2022 um teste químico simples e de baixo custo para identificar adulteração por metanol em bebidas alcoólicas e combustíveis. O custo estimado é entre R$ 10 e R$ 15 por análise, com resultado em até 15 minutos.

O procedimento consiste em adicionar um sal à amostra, que transforma o metanol em formol. Em seguida, aplica-se um ácido que provoca alteração visível na cor da solução. A classificação pode ser feita a olho nu, variando de acordo com a concentração: verde (ausência de metanol), verde amarronzado (0,1% a 0,4%), marrom (0,5% a 0,9%), roxo (1% a 20%) e azul-marinho (50% a 100%).

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O método, que apresentou 100% de precisão nos ensaios, foi patenteado no Inpi e não exige equipamentos sofisticados nem mão de obra especializada. A expectativa dos pesquisadores é transformar a descoberta em kits de baixo custo, acessíveis a distribuidores e órgãos de fiscalização.

UnB

Na Universidade de Brasília, uma pesquisa iniciada em 2013 resultou na criação da Macofren, empresa que hoje comercializa kits específicos para a detecção de metanol.

O exame é realizado a partir de 1 ml de amostra da bebida, utilizando reagentes químicos capazes de identificar a presença da substância. O kit inicial com os instrumentos custa R$ 50, depois, o custo cai para cerca de R$ 25 por teste.

O químico Arilson Onésio Ferreira, responsável pelo projeto, disse à Agência Brasil que açúcares, corantes e outras formulações podem causar falsos positivos, mas nunca um falso negativo.

Desde o início da crise, os pedidos não param, segundo ele e há 200 empresas na fila de espera. Entre os clientes, produtores de eventos como casamentos e outros eventos.

UFPR

Na Universidade Federal do Paraná, o Laboratório Multiusuário de Ressonância Magnética Nuclear adaptou a tecnologia já usada em exames médicos para a análise de bebidas alcoólicas. O método exige apenas 0,5 ml de amostra.

O sistema gera um espectro químico detalhado em cerca de 5 minutos, capaz de detectar a presença de metanol mesmo em líquidos complexos, como bebidas com corantes, frutas ou aditivos.

O laboratório passou a atender gratuitamente a população. De acordo com o vice-coordenador, professor de química Kahlil Salome, qualquer pessoa que desconfie da origem de uma bebida pode levar uma amostra para análise, que leva cerca de cinco minutos.

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