Ciência

Teste de nova vacina experimental contra a aids renova esperança

Pela primeira vez desde a identificação do vírus, em 1983, os cientistas acreditam ter encontrado um estudo promissor

Aids: batizado HVTN 702, o estudo, que começará na quarta-feira, envolverá durante quatro anos mais de 5.400 voluntários (Getty Images)

Aids: batizado HVTN 702, o estudo, que começará na quarta-feira, envolverá durante quatro anos mais de 5.400 voluntários (Getty Images)

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AFP

Publicado em 30 de novembro de 2016 às 13h34.

A África do Sul lançará na quarta-feira um ensaio clínico de envergadura inédita para testar uma vacina experimental contra a Aids, depois de 30 anos de esforços em vão.

Pela primeira vez desde a identificação do vírus, em 1983, os cientistas acreditam ter encontrado um estudo promissor.

Batizado HVTN 702, o estudo, que começará na quarta-feira, envolverá durante quatro anos mais de 5.400 voluntários, homens e mulheres sexualmente ativos de entre 18 e 35 anos, em 15 locais distribuídos por todo o território sul-africano.

Este ensaio clínico, um dos mais importantes já realizados, reaviva a esperança da comunidade científica.

"Se for utilizada ao mesmo tempo que os métodos de prevenção com eficácia comprovada que já estamos usando, uma vacina segura e eficaz poderia ser o golpe de misericórdia contra o HIV", afirmou Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID) dos Estados Unidos.

"Até mesmo uma vacina moderadamente eficaz reduziria de forma significativa o peso da doença em países e populações muito infectadas", acrescentou o responsável do NIAID, que participa do estudo.

A escolha da África do Sul para testar a vacina se deve a que este país tem um dos índices de prevalência de HIV mais altos do mundo (19,2% segundo a Unaids), com sete milhões de infectados.

No mundo, dois milhões e meio de pessoas por ano são infectadas pelo vírus, que causou mais de 30 milhões de mortos desde os anos 1980, segundo um estudo publicado na conferência internacional de Durban (leste da África do Sul) em julho.

A vacina "sul-africana", especialmente adaptada para as populações locais, é uma versão "reforçada" de uma vacina testada em 2009 na Tailândia em mais de 16.000 voluntários.

Esta permitiu reduzir em 31,2% os riscos de contágio, três anos e meio depois da primeira vacina.

"Ponto de inflexão"

A segurança da vacina "sul-africana" foi testada com sucesso durante 18 meses em 252 voluntários. O novo ensaio busca ratificar sua eficácia.

"Os resultados obtidos na Tailândia não são suficientes para seu lançamento (...). Estabelecemos um limite mínimo de eficácia em 50%", disse à AFP Lynn Morris, médico do Instituto Nacional de Doenças Contagiosas (NICD) da África do Sul.

"Temos a esperança de que a eficácia seja ainda maior", disse recentemente ante os deputados o vice-presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa.

Mas apesar do otimismo que esta vacina suscita, os especialistas insistem na necessidade de não baixar a guarda frente à doença.

"Uma vacina eficaz seria um ponto de inflexão, mas estes ensaios durarão anos", insistiu Morris. "Temos que continuar utilizando os outros métodos de prevenção para reduzir os novos contágios", reiterou.

Os tratamentos antirretrovirais (ARV) continuam sendo de longe os mais eficazes contra a doença.

Segundo a Onuaids, metade das 36 milhões de pessoas infectadas pelo HIV em todo o mundo têm acesso aos ARV - o dobro do que há cinco anos.

Graças a estes tratamentos, que permitem controlar a evolução do vírus e aumentar a esperança de vida dos soropositivos, a expectativa de vida dos sul-africanos passou de 57,1 para 62,9 anos em média desde 2009, segundo as autoridades locais.

Os ensaios desta nova vacina são dirigidos pelos Institutos Nacionais da Saúde (NIH) dos Estados Unidos, o Conselho Sul-africano de Pesquisa Médica (SAMRC), a Fundação Bill e Melinda Gates, os laboratórios Sanofi Pasteur e GlaxoSmithKline, e a Rede de Ensaios de Vacinas contra o HIV (HVTN).

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