Ciência

Teoria sobre futuro da Via Láctea pode estar errada, dizem astrônomos

Uma possível colisão da Via Láctea com Andrômeda era esperada dentro de 4,5 bilhões de anos e um novo estudo pode mudar essa previsão

Via Láctea: galáxia pode colidir com Andrômeda em 10 bilhões de anos (Freepik/Freepik)

Via Láctea: galáxia pode colidir com Andrômeda em 10 bilhões de anos (Freepik/Freepik)

Estela Marconi
Estela Marconi

Freelancer

Publicado em 3 de junho de 2025 às 07h32.

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Por mais de um século, a ideia de que a Via Láctea, iria inevitavelmente se chocar com a galáxia de Andrômeda em cerca de 4,5 bilhões de anos era considerada certa. Afinal, ambas estão se aproximando a incríveis 360 mil km/h, um encontro cósmico que prometia formar a galáxia apelidada de “Milkomeda”. Mas novos estudos lançam dúvidas sobre esse destino aparentemente inevitável.

Um grupo de astrônomos descobriu que a chance dessa colisão ocorrer entre 4 e 5 bilhões de anos é de apenas 2%, enquanto a probabilidade de um encontro ao longo dos próximos 10 bilhões de anos sobe para cerca de 50%. Isso significa que a tão falada fusão pode ser muito mais incerta do que se pensava — e, quem sabe, talvez até evitável.

"Achávamos que esse era o destino da Via Láctea”, afirmou o coautor Carlos Frenk, da Universidade de Durham. “Agora sabemos que há uma boa chance de evitarmos esse destino assustador.”

Mas calma: apesar da incerteza sobre Andrômeda, o estudo aponta que a Via Láctea tem uma chance maior de colidir com a Grande Nuvem de Magalhães (LMC), uma galáxia menor, dentro de até 2 bilhões de anos, evento que pode alterar profundamente a estrutura da nossa galáxia.

As simulações do estudo

A equipe responsável pelo estudo analisou 22 variáveis diferentes, incluindo massas, posições e velocidades das galáxias, e realizou milhares de simulações para levar em conta todas as incertezas observacionais. Segundo Sawala, essas variáveis e margens de erro resultaram na conclusão de que a colisão entre a Via Láctea e Andrômeda pode nem acontecer.

Em cerca de metade das simulações, as galáxias se aproximam e se afastam diversas vezes e só depois de bilhões de anos perdem energia suficiente para colidir. Caso o impacto ocorra, ele desencadearia uma intensa explosão de formação estelar, uma forte emissão de radiação e, eventualmente, a fusão resultaria em uma galáxia elíptica, sem os traços espirais que caracterizam as duas galáxias hoje.

Na outra metade das simulações, as galáxias simplesmente passam uma pela outra sem causar grandes perturbações.

LMC deve colidir com a Via Láctea antes

Carlos Frenk, coautor do estudo e professor da Universidade de Durham, destacou que a fusão da Via Láctea com a Grande Nuvem de Magalhães (LMC) é muito mais provável e pode ocorrer dentro de até 2 bilhões de anos. Embora essa colisão não destrua a galáxia, ela provocará mudanças significativas, especialmente no buraco negro central e no halo galáctico.

Sawala reforça que essa fusão com a LMC é praticamente certa e já havia sido prevista por pesquisas anteriores. Apesar disso, seus efeitos seriam menos dramáticos do que um encontro com Andrômeda.

A incerteza cósmica

Para Geraint Lewis, professor da Universidade de Sydney, os novos dados são importantes porque desconstroem a narrativa de uma colisão inevitável. “Mesmo se não houver um choque direto, um encontro próximo pode causar danos consideráveis a ambas as galáxias”, afirmou.

Scott Lucchini, do Centro de Astrofísica de Harvard, elogiou a metodologia que inclui margens de erro nas medições. “Essa abordagem oferece um panorama mais completo e realista do que pode ocorrer no futuro”, disse.

O estudo lembra que galáxias são sistemas extremamente complexos: suas órbitas mudam ao longo do tempo, suas formas se distorcem, e elas podem perder massa de várias maneiras, tornando previsões em escalas bilionárias de anos altamente incertas.

O que pode acontecer com a Terra

Os cientistas asseguram que, mesmo se a fusão galáctica entre Via Láctea e Andrômeda ocorrer, isso não significaria o fim da Terra. “A colisão não seria o fim do Sol ou do nosso planeta”, afirmou Sawala.

O verdadeiro risco para a Terra está relacionado ao destino natural do Sol, que, nos próximos 5 bilhões de anos, deve se tornar uma gigante vermelha e engolir os planetas mais próximos, incluindo nosso próprio planeta. Para os cientistas, esse evento representa uma ameaça muito mais iminente e concreta do que qualquer fusão galáctica.

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