Ciência

Tecnologia desvenda funcionamento de proteínas e deve revolucionar ciência

Inteligência artificial consegue simular dobras de proteínas, o que deve ajudar a entender doenças e facilitar desenvolvimento de novos medicamentos

AlphaFolding: tecnologia de inteligência artificial consegue simular dobra de proteínas com precisão (DeepMind/YouTube/Reprodução)

AlphaFolding: tecnologia de inteligência artificial consegue simular dobra de proteínas com precisão (DeepMind/YouTube/Reprodução)

TL

Thiago Lavado

Publicado em 30 de novembro de 2020 às 18h36.

Última atualização em 30 de novembro de 2020 às 18h36.

Um laboratório de inteligência artificial de Londres chamado DeepMind, cuja dona é a Alphabet, mesma companhia mãe do Google, afirmou nesta segunda-feira, 30, ter solucionado um dos grandes mistérios da ciência contemporânea. O DeepMind afirma ter descoberto como as proteínas se dobram para desenvolver seus formatos.

Proteínas são cadeias de aminoácidos e, por causa dessa característica, elas se dobram e mudam de formato rapidamente. Por causa dessa característica, é um problema complexo desenvolver, por exemplo, medicamentos que ataquem a função proteica de vírus e bactérias. Entender como as proteínas se dobram é importante para compreender o funcionamento de doenças e até de algumas atividades do próprio corpo humano.

A DeepMind afirma ter conseguido solucionar o mistério utilizando uma ferramenta chamada AlphaFold, que precisa apenas de algumas horas para decifrar o dobramento de uma proteína. A tecnologia é revolucionária justamente aí: conseguir esse feito para algo que intriga cientistas há 50 anos. Frequentemente leva décadas para entender o comportamento de algumas proteínas.

O quebra-cabeças foi solucionado pela DeepMind em uma gama ampla de proteínas, com uma precisão que rivaliza com experimentos físicos. Com o anúncio, a empresa bate outros 100 competidores em um desafio de predição de estruturas protéicas chamado CASP. Os resultados foram anunciados em uma conferência sobre o tema, realizada digitalmente este ano.

A divulgação é ainda mais impactante porque tange também inovações no campo da computação: há 25 anos que pesquisadores da área surgiram com uma métrica para avaliar quão próximo um computador estaria de solucionar a questão.

Há até mesmo projetos abertos, como o Folding@Home, um projeto que há 20 anos permite conectar computadores ao redor do mundo para criar uma mesma rede e oferecer capacidade de processamento para desvender a dobra das proteínas.

Este ano, a capacidade computacional do projeto foi tão alta, diante de iniciativas para entender as proteínas do Sars-Cov-2 (o vírus causar da covid-19) que ele se tornou o "computador mais potente do mundo", com 3,5 milhões de computadores conectados, somando mais de 19 milhões de núcleos de processamento e mais de 700 mil unidades de processamento gráfico. Ainda assim, muitos cientistas acreditam que uma máquina ainda levaria anos para conseguir decifrar a questão utilizando apenas inteligência artificial.

Embora a inovação da DeepMind chegue atrasada para o coronavírus, entender melhor o funcionamento de proteínas legará um mundo mais apto a lidar com uma pandemia no futuro, acelerando o desenvolvimento de medicamentos ou até mesmo melhorando a aplicação dos remédios já existentes.

 

 

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