Ciência

Somos umas das últimas gerações de Homo sapiens?

Historiador diz que sim — e o que está por vir será tão diferente que superará as diferenças existentes entre o homem moderno e neandertais ou chimpanzés

Multidão de pessoas (Getty Images)

Multidão de pessoas (Getty Images)

E

EFE

Publicado em 4 de fevereiro de 2017 às 21h52.

Última atualização em 4 de fevereiro de 2017 às 21h55.

Madri - O professor de história e escritor israelense Yuval Noah Harari acredita que provavelmente a nossa seja uma das últimas gerações de Homo sapiens, já que em um século ou dois "os humanos se destruirão ou se desenvolverão de forma completamente diferente".

O que está por vir será tão diferente, detalha à Agência Efe este historiador, que superará as diferenças que agora existem entre o homem moderno e neandertais ou chimpanzés.

Segundo Harari, nas próximas décadas "vamos nos converter em deuses", já que "adquiriremos habilidades que tradicionalmente pensava-se ser habilidades divinas"; em particular, capacidades para a engenharia ou para criar vida.

"Da mesma forma que Deus criou animais, plantas e humanos de acordo com seus desejos, segundo a Bíblia, no século XXI nós provavelmente aprenderemos a desenhá-los e fabricá-los de acordo com os nossos", afirma via e-mail este professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, para quem não se deve confundir divinidade com onipotência.

A engenharia genética será usada para criar novos tipos de seres orgânicos, interfaces cérebro-computador para cyborgs e "podemos ter inclusive êxito na criação de seres completamente inorgânicos", opina este historiador, que resume: "Os principais produtos da economia do século XXI não serão os têxteis, veículos e armas, mas mais bem corpos, cérebros e mentes".

Isto não só será uma das maiores revoluções da história, mas a maior revolução da biologia, segundo Harari, que denomina os "descendentes" do Homo sapiens como Homo Deus por seus "poderes divinos de criação e destruição".

Em seu livro "Homo Deus. Breve história do amanhã", Harari explica que esta mudança será gradual "e não um apocalipse estilo Hollywood. O Homo sapiens não será exterminado por uma rebeldia de robôs, mas é mais provável que melhore passo a passo e que se una a robôs e computadores".

Isto não ocorrerá nem em um dia e nem em um ano, porque de fato já está ocorrendo por meio de inumeráveis atos mundanos: milhões de pessoas diariamente decidem conceder a seu telefone inteligente um pouco mais de controle sobre sua vida ou provar um novo remédio antidepressivo mais eficaz.

Harari defende, além disso, que nas últimas décadas foi possível controlar a crise de fome, peste e guerra. Não é que esses problemas tenham sido resolvido totalmente, mas deixaram de ser forças da natureza incompreensíveis e incontroláveis para se transformar em desafios manejáveis: quando escapam do nosso controle, suspeitamos que alguém deve de ter colocado o dedo.

"Pela primeira vez na história, hoje em dia morrem mais pessoas por comer demais do que por comer de menos (...). No começo do século XXI, o humano médio tem mais probabilidade de morrer de compulsão alimentar em um McDonald's do que em consequência de uma seca, o ebola ou de um ataque da al-Qaeda".

Se estamos pondo sob controle a fome, a peste e a guerra, a pergunta é o que será substituído nos primeiros pontos da agenda humana?, Uma questão que torna-se "duplamente urgente" dados os imensos novos poderes da biotecnologia e tecnologia da informação.

Provavelmente, continua, os próximos objetivos da Humanidade sejam precisamente a imortalidade, felicidade e divinidade. "É vital pensar na nova agenda da humanidade porque temos certa margem de escolha com relação às novas tecnologias", expõe.

No entanto, diz que "se mal interpretarmos a ameaça de uma guerra nuclear, mudanças climáticas e ruptura tecnológica, podemos não ter uma segunda chance."

Perguntado por Donald Trump, o professor conclui: este, o 'Brexit' e o surgimento de movimentos nacionalistas em outras partes do mundo supõem um desenvolvimento muito perigoso. No passado, o nacionalismo era perigoso porque engendrou a guerra, mas agora é ainda mais porque, além de fomentar as guerras, é provável que impeça à Humanidade de resolver seus problemas existenciais.

"Espero que o povo desperte a tempo. Para isso, provavelmente necessitaremos de uma nova ideologia global que una a Humanidade". EFE

ngg/ff

Acompanhe tudo sobre:Direitos HumanosHistória

Mais de Ciência

Monte Everest cresce devido à erosão de rios, dizem pesquisadores

No Rio, Paes promete Ozempic nas clínicas da família em campanha de reeleição

FDA aprova novo tratamento para esquizofrenia após décadas de estagnação

Missão espacial chinesa planeja construir rede sem fio e geração de energia na Lua