(Cia das Letras/Divulgação)
Victor Caputo
Publicado em 6 de maio de 2018 às 07h00.
Última atualização em 6 de maio de 2018 às 07h00.
São Paulo -- Ler a obra A Ordem do Tempo, do físico italiano Carlo Rovelli, pode ser um pouco perturbador. Com foco no leitor leigo, o físico traz uma informação intrigante: o tempo não existe.
"Eu acho que qualquer coisa que nos surpreenda, que nos traga confusão e nos faça refletir acabar por ser bom para nós", afirma Rovelli ao site EXAME em entrevista.
A Ordem do Tempo apresenta um retrospecto da compreensão humana sobre o tempo, passando desde especulações e formulações de filósofos gregos, até noções modernas de física quântica. Tudo isso é feito com uma linguagem acessível e com ilustrações e diagramas que podem auxiliar na compreensão de algo complexo como é discutir o tempo.
O livro foi lançado aqui no Brasil por meio da editora Objetiva (sua versão impressa tem preço sugerido de R$ 34,90 e a digital, R$ 23,90).
Veja abaixo seis perguntas que o site EXAME fez ao físico Carlo Rovelli.
Podemos esperar compreender totalmente o tempo e seus efeitos algum dia?
Sim, eu acredito que sim. Nós temos compreendido muito sobre o tempo ao longo do último século e estamos avançando em novas coisas hoje. É claro que alguns mistérios continuam em aberto, mas eu acredito que seremos capazes de desvendá-los.
Como você acredita que um leigo reagiria à informação que, na realidade, o tempo não existe? Você costuma receber esse tipo de retorno de seus leitores?
Eu acho que qualquer coisa que nos surpreenda, que nos traga confusão e nos faça refletir acabar por ser bom para nós. Isso acaba por abrir as nossas mentes. Recebo muitas cartas e mensagens com comentários de meus leitores. Tantas que às vezes acaba sendo impossível para mim responder a todos.
Entre cientistas que você cita em seu livro estão até pensadores antigos, como Platão. Vemos Platão mais como um filósofo do que como um físico. A nossa divisão moderna de conhecimento mantém as ciências naturais e as ciências humanas muito afastadas?
Aristóteles, por exemplo, era igualmente brilhante como filósofo e cientista. Hoje precisamos de especializações por conta da complexidade do conhecimento moderno. Mas também precisamos de uma integração entre os diferentes campos de conhecimento, não de mantê-los separadas, já que eles se alimentam uns dos outros e porque precisam de coerência para entender o mundo. Acredito que a educação mantém as disciplinas muito separadas. Nós devíamos dar aos jovens uma educação mais ampla.
Seus livros anteriores, como Sete Lições da Física, venderam mais de um milhão de cópias. Como você se sente ao trazer a física de forma compreensível para tantas pessoas?
Eu confesso que isso chegou como uma surpresa para mim. E fico muito feliz por isso. Sinto como se fosse um presente que meus leitores dão a mim, como se fosse um retorno pelo presente que eu quis oferece-los.
Temos uma bela lista de divulgadores de ciência, com nomes como Carl Sagan, Stephen Hawking, e acredito que você já é um nome nessa lista. Quão importante para a ciência e para a sociedade são os livros científicos escritos com uma linguagem acessível para leigos e pessoas que não fazem parte desse meio?
Eu acredito que são extremamente importantes. A ciência é feita por cientistas, assim como a música é feita por músicos. Mas todos nós devemos ter acesso para aproveitar música, e também para aproveitar a ciência. Também acho que seja importante porque uma sociedade que não compreende a ciência é uma sociedade aberta a cometer erros tolos.
Depois de três livros, o senhor trabalha em uma próxima obra?
No momento não estou trabalhando em um próximo livro. É hora de voltar o foco à minha ciência.