(Getty Images/Getty Images)
AFP
Publicado em 3 de fevereiro de 2019 às 07h00.
Última atualização em 3 de fevereiro de 2019 às 07h00.
Tutancâmon é um dos faraós mais conhecidos do grande público e, por conta disso, tem visto como a sua tumba no Vale dos Reis, perto de Luxor, no Egito, tem sido vítima do seu sucesso, a ponto de estar seriamente ameaçada.
Chamada ao resgate em 2009, uma equipe de especialistas internacionais acaba de terminar o seu trabalho para uma melhor proteção da tumba subterrânea descoberta em 1922 pelo arquélogo britânico Howard Carter.
"Cem anos de visitas, após ter ficado fechada durante 3.000! Imagina o impacto no estado da tumba?", comentou nesta quinta-feira à AFP Neville Agnew, responsável pelo projeto empreendido pelo Getty Conservation Institute (GCI) de Los Angeles, na Califórnia.
"Visitantes, umidade, poeira...", enumerou Agnew nesta quinta durante um simpósio para apresentar os trabalhos do GCI em Luxor.
Desde 2009, o cientista tem liderado uma equipe de 25 especialistas, incluindo arqueólogos, arquitetos, engenheiros e microbiologistas.
Interrompido durante um tempo após a revolução egípcia de 2011 e a instabilidade política que a seguiu, este projeto foi retomado mais tarde e acaba de ser finalizado.
A primeira etapa foi um estudo exaustivo, particularmente do estado das famosas pinturas murais amarelas e ocre que decoram a câmara funerária do jovem faraó Tutancâmon, que reinou há mais de 3.300 anos.
Lori Wong, conservadora especializada em murais, buscou, sobretudo, tentar compreender "a composição material das pinturas, como foram preparadas e aplicadas".
O objetivo: "compreender o estado atual das pinturas, comprovar se estão em perigo e estabelecer um plano para salvaguardá-las no futuro", assinalou a especialista à AFP.
Introduzidos na tumba denominada pelos arqueólogos "KV62", os microscópios dos cientistas puderam, inclusive, examinar com mais precisão as misteriosas "manchas marrons", características desta tumba real.
O temor era que estas manchas pudessem se tornar uma ameaça para as representações murais de Tutancâmon, pintado em particular junto à deusa Nut, que o recebeu no reino de Deus.
Mas os cientistas conseguiram, graças a este projeto de conservação, estabelecer que se tratam de organismos microscópicos mortos há muito tempo.
O único problema é que é impossível eliminá-los, posto que estão profundamente incrustados na pintura.
"Fizemos a conservação, não restauração", insistiu Agnew. As tentativas de restauração foram feitas anteriormente, acrescentou, destacando que a missão do GCI era de estabilizar e conservar o sítio.
"E estas manchas marrons também são parte da história", explicou, acrescentando que não evoluíram desde a descoberta de Carter.
Paralelamente, os arquitetos redesenharam a plataforma onde os visitantes ficam localizados, para mantê-los longe da parede frágil.
Enquanto isso, os engenheiros desenvolviam um novo sistema de ventilação para limitar os efeitos devastadores do dióxido de carbono (CO2), da umidade e poeira.
Embora as mais belas peças do tesouro de Tutancâmon possam ser vistas no Museu Egípcio do Cairo, a tumba ainda abriga a múmia do faraó, que foi introduzido em um caixão de vidro sem oxigênio com seu sarcófago exterior em madeira dourada.
De acordo com o arqueólogo egípcio Zahi Hawass, ex-ministro de Antiguidades, precursor do projeto em 2009, "o GCI salvou a tumba de Tutancâmon".
"Contudo, acho que após este excelente trabalho, deveríamos limitar o número de visitantes", afirmou à AFP nesta quinta-feira.
"Se deixarmos o turismo de massa entrar na tumba, ela não vai durar mais de 500 anos", advertiu, antes de advogar pelo cancelamento total das visitas para preservar o local.
"Devemos pensar no futuro", afirmou Hawass.
Uma réplica da câmara funerária foi construída não muito longe do Vale dos Reis, perto da casa de Howard Carter. Os visitantes devem ir para lá, segundo Hawass, "mas muitas pessoas não aceitarão essa ideia", lamentou o arqueólogo.