Ômicron: Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a B.1.1.529 como uma variante de preocupação (Exame/Exame)
Agência O Globo
Publicado em 5 de dezembro de 2021 às 11h13.
Última atualização em 5 de dezembro de 2021 às 11h19.
Pouco mais de uma semana após cientistas em Botsuana e na África do Sul alertarem sobre nova variante do SARS-CoV-2 em circulação, ainda temos mais perguntas do que respostas sobre ela. No dia seguinte ao alerta, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a B.1.1.529 como uma variante de preocupação (VOC), que passou a ser denominada Ômicron.
Quais os sintomas? Como ela é diagnosticada? As vacinas atuais são eficazes contra ela? Pesquisadores do mundo todo estão correndo para detalhar as respostas sobre essas e tantas outras questões e, assim, esclarecer a real ameaça que a Ômicron representa.
Alguns esclarecimentos ainda levarão alguns dias ou semanas para virem à tona. Enquanto isso, o GLOBO reúne tudo o que a ciência já conseguiu esclarecer sobre a nova variante, que já soma seis casos confirmados no Brasil.
O primeiro país a notificar a Ômicron foi a África do Sul, que emitiu um alerta à Organização Mundial da Saúde (OMS) no dia 24 de novembro.
Segundo a OMS, as análises encontraram a variante pela primeira vez na amostra de um teste coletado em 9 de novembro. Com o anúncio da nova cepa, outros países passaram a sequenciar os genomas dos vírus encontrados em pessoas que testaram positivo para a Covid-19.
Na Holanda, por exemplo, um viajante testado em 19 de novembro já apresentava a Ômicron, o que mostra que a nova variante já estava circulando pela Europa antes de a África do Sul investigar o aumento de casos repentinos e descobrir a nova cepa.
O primeiro sinal de que as novas infecções por Covid-19 estavam diferentes foi observado pela médica sul-africana Angelique Coetzee ao atender pacientes com sintomas diferentes dos apresentados por aqueles que eram acometidos pela Delta. Os novos pacientes queixavam-se de cansaço, dores musculares, coceira na garganta ou garganta arranhando. Em poucos casos, apresentavam também febre baixa e tosse seca.
Entre os sintomas mais comuns da Delta estão pulsação elevada, baixos níveis de oxigênio e perda de olfato e de paladar.
Os sintomas da Ômicron são mais parecidos com a da Beta, que também foi identificada pela primeira vez na África do Sul.
A identificação da nova variante só foi possível graças ao sequenciamento genético do vírus, que apontou as mutações que a fizeram ser diferente das demais cepas do coronavírus. Portanto, esse seria o melhor método para diferenciar a Ômicron de outras variantes.
No entanto, a Ômicron é relativamente fácil de ser distinguida da Delta em testes de PCR. Ao contrário da Delta, a Ômicron tem uma mutação que causa o que é chamado na genética de “drop-out do gene S”. Isso significa que uma das partes do vírus, que é identificada pelo teste PCR, não está presente nessa variante.
Dessa forma, testes que vierem com um resultado onde apenas duas partes foram identificadas, em vez de três, indicariam a infecção pela nova variante. Portanto, os testes podem ser usados como marcadores para esta variante, podendo ser confirmada posteriormente pelo sequenciamento do material genético do vírus.
De acordo com a OMS, tudo indica que a Ômicron seja mais transmissível do que as outras variantes, incluindo a Delta, mas isso ainda não está definido.
A África do Sul relatou um aumento de testes positivos para Covid-19 em áreas onde a variante está circulando. Estudos epidemiológicos estão em andamento para entender se o aumento de casos foi provocado pela nova cepa ou por outros fatores.
Evidências preliminares sugerem que pode haver um risco aumentado de reinfecção com a Ômicron (ou seja, pessoas que já tiveram Covid-19 podem ser reinfectadas mais facilmente com a nova cepa), em comparação com outras variantes preocupantes. Porém, por enquanto, as informações são limitadas. Mais dados sobre isso estarão disponíveis nos próximos dias e semanas, afirma a OMS.
De acordo com a OMS, corticosteroides (como a dexametasona) e medicamentos bloqueadores da interleucina-6 (como tocilizumabe e sarilumabe) ainda são indicados para o tratamento de Covid-19 grave causada por qualquer tipo de variante.
Outros tratamentos serão avaliados para ver se eles ainda são tão eficazes, dadas as alterações em partes do vírus na variante Ômicron.
A empresa Regeneron, que desenvolveu um coquetel de anticorpos monoclonais, disse que seu medicamento pode ser menos eficaz contra a variante Ômicron do coronavírus, uma indicação de que esse tipo de tratamento pode precisar ser atualizado no caso de a nova variante se espalhar agressivamente.
Mas já há um bom sinal. A farmacêutica britânica GSK disse que o coquetel de anticorpos sotrovimab, desenvolvido em parceria com a norte-americana Vir, é eficaz contra a Ômicron.
O dado é baseado em testes laboratoriais e em um estudo com hamsters. Segundo as empresas, os testes continuam para confirmar os resultados contra todas as mutações da Ômicron. Os resultados são esperados até o final do ano.
Os anticorpos monoclonais são indicados no início dos sintomas, para pacientes com alto risco de evoluir para casos graves. O medicamento é administrado por via intravenosa, em ambiente hospitalar. Produtos semelhantes são oferecidos ou estão sendo desenvolvidos pela Eli Lilly e a AstraZeneca.
A grande dúvida a ser respondida é exatamente essa. Ainda não se sabe se as vacinas são menos eficazes contra a Ômicron, mas existe esse risco devido às mutações encontradas na variante. A maioria delas, está na proteína spike, que é o principal alvo das vacinas disponíveis atualmente.
Além disso, a nova cepa possui a mutação E484K, também encontrada na Beta. Essa mutação comprovadamente escapa aos anticorpos monoclonais e tinha a capacidade de escapar das atuais vacinas.
As principais desenvolvedoras dos imunizantes disponíveis — Pfizer-BioNTech, Oxford-AstraZeneca, Moderna e Johnson & Johnson — já iniciaram testes para avaliar a eficácia de seus imunizantes contra a variante. Resultados são esperados em cerca de duas semanas.
Elas também já se adiantaram e começaram a desenvolver novas versões, destinadas à nova cepa. A Pfizer disse que pode ter um novo imunizante pronto em cerca de 95 dias.
A Jonhson & Johnson afirmou que irá desenvolver uma vacina contra a variante se for necessário e a Moderna pode levar uma versão atualizada de seu imunizante aos testes clínicos em humanos em até 90 dias.
Até ontem, sábado, seis casos da nova variante haviam sido confirmados no Brasil. São três em São Paulo, dois no Distrito Federal e um no Rio Grande do Sul. Os infectados são pessoas que retornaram de viagens a países do continente africano.
Além do Brasil, a nova variante já foi identificada em 39 países. Destes, dez apresentam transmissão local da variante, incluindo África do Sul, Botsuana, Austrália e Estados Unidos.