Coronavírus: o vírus se liga a células ACE-2 com espinhos de proteína ao entrar no corpo humano (dowell/Getty Images)
Lucas Agrela
Publicado em 2 de abril de 2020 às 18h22.
Última atualização em 13 de abril de 2020 às 15h24.
Um novo estudo publicado por pesquisadores da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, traz um projeto de vacina contra o novo coronavírus que já foi avaliado pela comunidade científica. A pesquisa mostra avanços promissores na criação de uma vacina contra o vírus ao atacar as células ACE-2, às quais o novo coronavírus se liga ao corpo humano para se reproduzir e atacar o organismo, causando sintomas como febre, dores no corpo e dificuldade de respirar.
Os pesquisadores atribuem a velocidade de identificação de um método para conter o novo coronavírus à pesquisa prévia sobre outros tipos de coronavírus que já infectaram humanos anos atrás.
"Tínhamos experiência anterior em Sars-CoV em 2003 e Mers-CoV em 2014. Esses dois vírus, que estão intimamente relacionados ao Sars-CoV-2 [o novo coronavírus causador da doença covid-19], nos ensinam que uma proteína específica, chamada de proteína-espinho [em inglês, spike], é importante para induzir imunidade contra o vírus. Sabíamos exatamente onde combater esse novo vírus", afirmou Andrea Gambotto, professor associado de cirurgia na Escola de Medicina da Universidade de Pittsburgh. "Por isso que é importante financiar a pesquisa de vacinas. Você nunca sabe de onde virá a próxima pandemia".
O projeto de vacina é chamado de PittCoVacc, uma abreviação do nome Pittsburgh Coronavirus Vaccine, usa um método parecido com o usado na vacina contra a gripe, causada pelo vírus influenza. Os pesquisadores propõem o uso de pedaços de proteína viral para a criação de imunidade contra seu contágio.
O estudo foi publicado ontem no periódico EBioMedicine, publicado pelo jornal científico The Lancet. Esse é o primeiro estudo a ser publicado após ser revisado e criticado por pesquisadores de outras universidades, um processo de validação conhecido no meio como peer review (revisão dos pares).
Em vez de ser aplicada por uma agulha comum, o projeto prevê que a vacina seja aplicada por meio de um pequeno adesivo, do tamanho de uma moeda de 5 centavos, que contém cerca de 400 microagulhas. O método facilita a absorção da vacina.
A vacina foi testada em ratos e os anticorpos surgiram duas semanas após a aplicação. Apesar de ainda não ter sido testado em humanos, o projeto de vacina manteve sua potência mesmo ao ser esterilizado com radiação gama, o que indica chances de aceitação da vacina no corpo humano.
Ainda não se sabe por quanto tempo a vacina pode imunizar contra a covid-19. Os pesquisadores afirmam que os testes em ratos indicam que aqueles que criaram anticorpos contra a Mers-CoV ficaram imunes por, pelo menos, um ano. Os pesquisadores acreditam que o mesmo se aplique à vacina contra o novo coronavírus.
A vacina será agora encaminhada para os testes rigorosos da Food and Drug Admistration, uma agência análoga à Anvisa brasileira. Somente após vencer essa etapa, que pode levar vários meses, a vacina poderá ser produzida em massa — considerando que tudo saia como esperam os cientistas.
Pesquisadores do mundo todo buscam uma vacina contra o novo coronavírus, que já infectou 1 milhão de pessoas e impôs uma quarentena global inédita para poupar vidas e não superlotar hospitais e serviços de saúde, tanto públicos quanto privados. Em Israel, pesquisadores também já testaram um projeto de vacina em roedores. Ainda assim, pesquisadores estimam que os testes clínicos e a produção em massa de vacinas contra o novo coronavírus ainda devem levar, com otimismo, cerca de um ano. Por ora, pesquisas mostram que o distanciamento social é a medida mais eficaz para conter tanto o avanço do vírus quanto os danos à economia.
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