Refrigerantes zero: consumo excessivo pode aumentar o risco de acúmulo de gordura no fígado (Nutthaseth Vanchaichana/Getty Images)
Redatora
Publicado em 7 de outubro de 2025 às 14h21.
Na era do bem-estar e do consumo consciente, os refrigerantes zero se tornaram populares por não conterem açúcares adicionados nem calorias — o que as torna aliadas em dietas de emagrecimento e ganho de massa. No entanto, uma nova pesquisa alerta que o consumo excessivo pode aumentar o risco de esteatose hepática (acúmulo de gordura no fígado).
O levantamento, conduzido por cientistas chineses e apresentado durante a Semana Europeia de Gastroenterologia, promovida pela Sociedade Europeia de Endoscopia Gastrointestinal, indica que beber uma lata de refrigerante zero por dia eleva em 60% as chances de desenvolver o quadro — contra 50% de risco no caso das bebidas açucaradas.
A esteatose hepática costuma estar associada ao álcool e à obesidade, mas também é influenciada pelo consumo de produtos industrializados. A condição, que possui três estágios tratáveis, pode evoluir para cirrose, câncer de fígado e esteato-hepatite se negligenciada.
Os cientistas também observaram maior risco de morte por doenças hepáticas entre consumidores de refrigerantes zero.
A análise avaliou os hábitos alimentares de 123 mil adultos do Reino Unido sem histórico de doenças hepáticas. Os participantes preencheram questionários diários para registrar o consumo de bebidas ao longo de 10 anos.
Os resultados mostraram que o consumo de bebidas açucaradas aumentou em 50% as chances de desenvolver a doença hepática esteatótica associada à disfunção metabólica (MASLD). Já as versões zero elevaram o risco para 60%. No período, 1.178 participantes desenvolveram a condição, e 108 morreram por complicações ligadas à saúde do fígado.
“Bebidas açucaradas vêm sendo criticadas há anos, enquanto suas alternativas ‘diet’ são vistas como opções mais saudáveis. Nosso estudo mostra que, na verdade, bebidas com baixo ou nenhum teor de açúcar também estão associadas a um risco maior de MASLD, mesmo em consumo moderado, como uma lata por dia”, explica Lihe Liu, pesquisador da Universidade Soochow, em Suzhou, na China, e autor do estudo.
Segundo ele, as descobertas desafiam a percepção de que essas bebidas são inofensivas e reforçam a necessidade de reavaliar o consumo. “Com a MASLD se tornando uma preocupação global de saúde, a abordagem mais segura é limitar as bebidas adoçadas, sejam elas com açúcar ou adoçantes artificiais”, afirma Liu.
Liu explica que as bebidas açucaradas favorecem o acúmulo de gordura no fígado ao provocar picos de glicose e insulina, contribuindo para ganho de peso e aumento do ácido úrico. “Já as versões com pouco ou nenhum açúcar podem afetar o microbioma intestinal, interferir na saciedade, aumentar o desejo por doces e até estimular a secreção de insulina”, completa.
O estudo também mostrou que substituir refrigerantes por água reduz o risco de MASLD em até 15,2%. “A água hidrata o corpo sem interferir no metabolismo, ajuda na saciedade e apoia a função metabólica geral”, diz Liu. Para quem busca abandonar o refrigerante tradicional ou zero, a água com gás é uma boa alternativa, por não conter aditivos químicos.
Apesar da fama de mais saudáveis, os refrigerantes zero já vêm sendo alvo de alertas de especialistas há alguns anos. Em 2022, um estudo do Medical College of Wisconsin, nos Estados Unidos, mostrou que adoçantes artificiais podem reduzir a capacidade de desintoxicação do fígado.
Os testes indicaram que esses compostos inibem a ação da glicoproteína P (P-gp), responsável por eliminar toxinas e metabolizar medicamentos no organismo — um processo essencial para a saúde hepática.