Satélites: os pulsos estão entre os mais intensos já registrados pelo projeto (Bill Saxton, NRAO/AUI/NSF/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 4 de setembro de 2017 às 18h14.
Última atualização em 5 de setembro de 2017 às 13h33.
Astrônomos do Breakthrough Listen, iniciativa que destinou 100 milhões de dólares à busca por vida inteligente em outros planetas, detectaram 15 pulsos de rádio gerados em uma galáxia anã a 3 bilhões de anos-luz de distância da Terra. Eles estão entre os mais intensos já registrados pelo projeto, que foi criado em janeiro de 2016 pelo astrofísico Stephen Hawking e o bilionário russo Yuri Milner para colher indícios da atividade tecnológica de civilizações no mínimo tão avançadas quanto a nossa.
Em princípio, pulsos rápidos de ondas de rádio podem ser emitidos por fenômenos naturais – como estrelas de nêutrons com um forte campo magnético. Mas essa é uma aposta conservadora para os padrões dos “discípulos” do cientista inglês.
Eles têm outra teoria em mente: com a tecnologia disponível hoje, uma nave espacial não conseguiria carregar o combustível necessário para percorrer, em um tempo razoável, distâncias tão longas quanto as que separam dois sistemas estelares. Mesmo Proxima Centauri, a estrela mais próxima do Sol (que contém um planeta potencialmente habitável), está a 4,37 anos-luz daqui. Uma sonda como a Voyager, que já passou até de Plutão, levaria mais ou menos 90 mil anos para chegar lá.
Uma solução possível para esse impasse seria impulsionar veículos espaciais em viagens mais longas usando pulsos de ondas eletromagnéticas disparados aqui da Terra – o que permitiria, de acordo com as contas, levá-los a algo entre 15% e 20% da velocidade da luz sem nenhuma preocupação com o tanque de gasolina.
Essa ideia é boa. Tão boa que talvez os extraterrestres tenham pensado exatamente a mesma coisa. Nada impede, afirmam Hawking, Milner e sua turma, que as ondas de rádio periódicas e intensas que alcançam os telescópios terráqueos sejam indícios de alienígenas impulsionando suas próprias naves, exatamente como nós queremos fazer.
O problema é que daqui, a 3 bilhões de anos-luz da fonte das emissões, fica difícil de provar que haja qualquer coisa ali – seja o campo magnético de uma estrela de nêutrons, seja uma civilização mais avançada que a nossa. Tudo o que se sabe é que FRB 121102 – nome técnico dado ao ponto do céu de onde vêm os pulsos – é um cantinho particularmente ativo do firmamento. Desde que as investigações começaram, em 2012, 150 sinais já vieram dali; o último “lote”, com 15, é só a cereja do bolo.
Vale lembrar que, na época em que essas ondas de rádio foram emitidas, o Sistema Solar ainda era jovem, e a Terra tinha apenas bactérias e outras formas de vida unicelulares bastante simples. Ou seja: se essas emissões forem mesmoindícios de outras civilizações, elas existiram literalmente há muito tempo atrás, em uma galáxia muito, muito distante – e é provável que não existam mais. Com um delay de 3 bilhões de anos-luz, nós nunca saberemos.
“Além de confirmar que a fonte está em um estado ativo, a alta definição das informações obtidas pelos instrumentos de escuta permitirão medir as propriedades desses pulsos misteriosos com a maior precisão já alcançada”, afirmou em comunicado Vishal Gajjar, responsável pela descoberta. Dados numéricos detalhados sobre essas observações estão disponíveis neste boletim.
“Mesmo que esses pulsos rápidos de rádio acabem não sendo indícios de tecnologia extraterrestre, o Breakthrough Listen está ajudando a expandir as fronteiras de uma área promissora para a compreensão do universo em nosso entorno”, afirmou Andrew Siemion, diretor do instituto SETI – um centro de busca de vida inteligente fundado na década de 1980, e cujos pesquisadores receberam uma parcela considerável dos 100 milhões destinados ao Breakthrough Listen.