Cerrado: nova pesquisa contabiliza efeitos da política de interdição das queimadas como método de manejo (Giselda Durigan/Agência Fapesp)
Da Redação
Publicado em 4 de outubro de 2017 às 10h03.
As formigas são consideradas excelentes indicadores do estado de conservação dos ecossistemas. Um novo estudo mostrou que 30 anos de interdição do uso de fogo como método de manejo do Cerrado, a gigantesca savana brasileira, levou a uma perda de 86% da biodiversidade de população de formigas.
No mesmo período, e pelo mesmo motivo, a perda de biodiversidade das plantas endêmicas foi de 67%.
Resultados do estudo foram publicados por Giselda Durigan e colaboradores na revista Science Advances.
Professora em programas de pós-graduação em Ciência Florestal na Universidade Estadual Paulista (Unesp) e em Ecologia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Durigan estuda o Cerrado há mais de 30 anos, e, em sintonia com sua pesquisa científica, vem desenvolvendo um intenso trabalho de convencimento dos tomadores de decisão e da população em geral sobre a necessidade de revisão das políticas impeditivas do uso do fogo.
Ao contrário do “inimigo” demonizado pela má informação, o fogo, desde que utilizado com inteligência, como método de manejo criterioso, é um fator indispensável para a preservação das savanas (leia mais em Fogo amigo no Cerrado).
“Sem o manejo pelo fogo, a vegetação se adensa, as copas das árvores sombreiam o solo e as espécies vegetais rasteiras desaparecem. O Cerrado transforma-se em uma floresta pobre, com enorme perda de biodiversidade", disse Durigan à Agência FAPESP.
Segundo ela, a pesquisa quantificou essa perda em relação às espécies de formigas e plantas. Outros levantamentos, ainda não publicados, mostram que o mesmo processo de destruição está ocorrendo com répteis e anfíbios.
“Além disso, o aumento de biomassa compromete de maneira dramática o regime dos rios. A água que deveria abastecer as reservas subterrâneas e as nascentes passa a ser consumida pela vegetação. Oito das 12 regiões hidrográficas brasileiras têm origem no Cerrado. E oito de nossas 10 maiores hidrelétricas são abastecidas pela água proveniente de lá”, disse Durigan.
“Comprometer a existência do Cerrado é comprometer a água, o recurso hoje mais ameaçado e mais fundamental para a sobrevivência da humanidade. Em apenas cinco décadas, metade do Cerrado já foi perdida. A preservação da parte remanescente exige providências urgentes”, disse.
O artigo The biodiversity cost of carbon sequestration in tropical savanna, de Rodolfo C. R. Abreu, William A. Hoffmann, Heraldo L. Vasconcelos, Natashi A. Pilon, Davi R. Rossatto e Giselda Durigan, pode ser lido neste link.
Assista à entrevista completa com Giselda Durigan no vídeo a seguir:
Este conteúdo foi originalmente publicado no site da Agência Fapesp.