Ciência

Primeiras estrelas surgiram 180 milhões de anos após Big Bang

Astrônomos captaram com uma antena de rádio sinais tênues de gás hidrogênio procedentes do Universo originário

Estrelas: os cientistas rastrearam os sinais até 180 milhões de anos depois do Big Bang (Eso/AFP)

Estrelas: os cientistas rastrearam os sinais até 180 milhões de anos depois do Big Bang (Eso/AFP)

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EFE

Publicado em 28 de fevereiro de 2018 às 22h17.

As primeiras estrelas começaram a iluminar o Universo cerca de 180 milhões de anos depois do Big Bang, um período que coincide com as primeiras evidências da existência de hidrogênio no Universo e que foram detectadas por um grupo de cientistas, publicou nesta quarta-feira a revista especializada "Nature".

Astrônomos do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) e da Universidade Estadual do Arizona, ambos nos Estados Unidos, captaram com uma antena de rádio do tamanho de uma mesa situada no oeste da Austrália sinais tênues de gás hidrogênio procedentes do Universo originário.

Os cientistas, segundo um comunicado, rastrearam esses sinais até 180 milhões de anos depois do Big Bang, o que os transforma nas primeiras evidências de hidrogênio observadas no Universo.

O gás estava em um estado que só teria sido possível nas primeiras estrelas, que surgiram em um Universo desprovido de luz e emitiram radiação ultravioleta que interagia com o hidrogênio circundante.

Como resultado, os átomos de hidrogênio por todo o Universo começaram a absorver a radiação de fundo, uma forma de radiação eletromagnética que existe no Cosmos, o que significou uma mudança fundamental que os cientistas puderam detectar em forma de ondas de rádio.

A descoberta proporciona evidências de que as primeiras estrelas teriam começado a brilhar aproximadamente 180 milhões anos depois do Big Bang, acrescentaram os pesquisadores na nota.

"Este é o primeiro sinal real de que as estrelas estão começando a se formar e a afetar o meio que as cerca", afirmou o coautor do estudo e pesquisador do Observatório Haystack do MIT, Alan Rogers.

O especialista explicou que o que estava ocorrendo naquele período é que parte da radiação das primeiras estrelas estava começando a permitir que o hidrogênio fosse visto em certas radiofrequências.

Após o Big Bang, o universo era um lugar escuro, onde não havia estrelas nem galáxias, e estava cheio principalmente de gás hidrogênio neutro. Tiveram que passar entre 50 e 100 milhões de anos para que a gravidade começasse a atrair as áreas mais densas de gás até começar a formar estrelas.

Foram necessários 12 anos de pesquisa para detectar os vestígios das primeiras estrelas do Universo, e para isso foram utilizados sinais de rádio.

Esses sinais proporcionaram "a primeira evidência de que os antepassados mais antigos de nossa árvore familiar cósmica nasceram apenas 180 milhões de anos depois do início do Universo", diz um comunicado da Universidade do Arizona.

Algumas caraterísticas nas ondas de rádio detectadas também sugerem que o gás hidrogênio e o Universo em sua totalidade deveriam ser duas vezes mais frios do que os cientistas haviam estimado anteriormente, com uma temperatura de aproximadamente -270 graus centígrados.

A equipe de pesquisadores não tem certeza dos motivos de o Universo ter sido muito mais frio do que se acreditava em seus primórdios, mas alguns cientistas "sugeriram" que a interação da misteriosa matéria escura "pode ter exercido algum papel" nesta circunstância.

Para o diretor do Observatório de Haystack, Colin Lonsdale, esses resultados "exigem algumas mudanças em nossa compreensão atual da evolução do Universo em seus primórdios".

Assim, Lonsdale considerou que a descoberta pode afetar os modelos cosmológicos e que os teóricos terão que voltar a "pensar".

Tal descoberta foi feita com a utilização de uma antena de rádio do tamanho de uma simples mesa que permitiu "ver mais longe que os mais poderosos telescópios espaciais, abrindo uma nova janela para os primórdios do Universo", indicou Peter Kurczynski, do National Science Foundation dos Estados Unidos, que colaborou no estudo. EFE

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